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Vinicius Nascimento
Publicado em 27 de novembro de 2022 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
O Afro Fashion Day é feito de talentos. E não apenas na passarela. Nos bastidores, na produção, na comunicação, no planejamento. Por onde passa, o projeto carrega a força de vários talentos, que constroem a passarela mais preta do Brasil. >
E foi pensando na multiplicidade dessas potências que, este ano, foi lançado o Concurso Cultural Estilista AFD, que selecionou cinco promessas do design de moda para construir um look e levar seu trabalho para a oitava edição do projeto.>
Os novos profissionais na equipe de criativos do AFD foram: Inttui, Bixa Costura, Rômulo Salomão, Jorge Andrade e Kriaçã1. No total, os 75 looks apresentados nesta edição a partir do tema Capoeira foram criações de 43 marcas e estilistas baianos, uma franco-camaronesa e um coletivo de acessórios. >
Dona da marca que leva seu nome, Kriaçã1 começou a produzir suas primeiras peças este ano. Mas o sonho de trabalhar com design de moda vem desde a infância, quando falava que seria estilista. >
Mas a realidade financeira dificultava a realização. Há quatro anos, partiu para um trabalho com outros tipos de arte e começou a desenhar e vender aquarelas. >
“Até que em 2020, com a pandemia, eu senti uma necessidade de amadurecimento, então eu mudei o nome da marca, que antes era Arrisco no Rabisco, e passou a ser Kriaçã1. E a partir daí eu fui levando as coisas mais a sério, as pessoas começaram a me ver mais”, explica, antes de complementar: “Eu ainda não tenho um espaço físico, é tudo no digital mesmo. Comecei na customização, mas não me sentia segura para fazer peças, apesar de ter vontade. Primeiro eu recebi um convite pra fazer uma estampa de uma coleção de um estilista e daí eu tomei segurança também pra fazer minhas coisas”. Look de Kriaçã1 foi para a passarela com a modelo Ângela Vieira, no bloco de Capoeira Angola (Foto: Lucas Assis/AFD) Para o Afro Fashion Day, o look trouxe a capoeira de maneira afrodiaspórica, fazendo uma ponte entre Brasil e África, mais especificamente, entre Angola e Bahia. >
“A minha roupa foi construída em dois momentos. Primeiro, na questão da estamparia, que carrega uma narrativa em homenagem a Mestre Pastinha e Mestre João Pequeno. E a segunda na estrutura, com inspiração na rainha Nzinga,de Angola, região de onde a capoeira se originou”, detalha. O look foi para a passarela com a modelo Ângela Vieira, no bloco de Capoeira Angola, o primeiro do desfile. >
Kriaçã1 conta que escolheu uma peça feminina para homenagear a neta de João Pequeno, Mestra Nani, justamente para trazer para a roda a importância de se discutir a pauta sobre a ocupação das mulheres no cenário da capoeira. “E também para falar da perpetuação da história de grandes mestres através de uma mulher que luta por esse legado, assim como fez a Rainha Nzinga lutando pelo seu povo”, completa.>
Tauan Carvalho, criativa do Bixa Costura, fez uma homenagem a Mestre Moa do Katendê com seu look. A criação conta com um top de miçangas vermelhas em referência às sementes do caxixi. Nele, vem escrito: Moa Vive. Ansiosa para estrear no evento, Tauan contou que o AFD chegou na sua carreira em um momento importante.>
“Venho criando coisas desde de minha adolescência e, finalmente, acho que estou num processo de maturidade de minha marca, que já tem seis anos. Acho que será um momento importante para ela, para a gente ter voos mais altos, alcançar o céu, o universo”, projeta, ressaltando que faz uma roupa política, agênero, confortável e acessível - vestida por um outro estreante em Afro Fashion Day: Denilson Evangelista, modelo de Camaçari, que venceu a seletiva de bairros.>
A Bixa Costura nasceu em 2016, ano de firmar o projeto de maneira “aleatória e experimental”. Naquele ano, Tauan divulgou seus serviços de corte e costura também para custear os gastos no curso no Bacharelado Interdisciplinar em Artes, na Ufba. “O corpo preto tem muitas diversidades, o biotipo brasileiro é múltiplo e a moda nem sempre corresponde aos nossos universos de medidas de quadril, busto. Há muitas diferenças, não há regras a se seguir. O padrão de medidas não é nosso e as pessoas recorrem a mim para isso, fazendo sob medida, ajustada ao corpo da clientela”, afirma, antes de explicar que hoje o seu ateliê funciona no bairro de São Caetano.>
Além do Bixa Costura, ele toca o coletivo Egbé Coalizão, voltado para capacitação de pessoas pretas e LGBTQIA+, com cursos, a maioria gratuitos, que ajudam as pessoas a fazer como ele: criar novas narrativas de luta e sobrevivência pela moda, utilizando-se dela como uma ferramenta política e de transformação social. Denilson Evangelista, ou Denevan, levou para o AFD a mensagem de Moa Vive criada por Tauan (Foto: Lucas Assis/Divulgação/AFD) Quando a modelo Helen Miller entrou na passarela do Afro Fashion Day com o terceiro look do desfile, ela vestia uma peça concebida por Jorge Andrade, 30, outro modelo selecionado no Concurso Cultural. Sua marca tem 18 anos de trajetória e sociedade com Neto Monteiro. >
“Nos últimos quatro anos, realizamos o desfile intitulado Áfricas, trazendo a tendência africana, exaltando a ancestralidade do povo negro. Nos desfiles, trago a memória de cores estilizadas na estética africana , resgatando a autoestima dos jovens e trazendo força para o movimento das comunidades”, explica.>
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Foram 50 horas de trabalho manual até que o look de Washington Carvalho ficasse pronto. Foi uma das peças que mais impressionou o júri na avaliação do concurso.>
“Com movimentos baixos de extrema agilidade, malícia e beleza, a capoeira inspira o look para o AFD 22. O look se constrói em cima de uma modelagem de alfaiataria over, com camadas sobrepostas, trazendo o ritmo de uma roda de capoeira. Bordados adornam as peças nas cores vermelho, amarelo e preto, totalizando em mais de 50h de trabalho manual”, explica o criativo de Feira de Santana. O modelo Alan Macedo vestiu a peça.>
A maioria das marcas se declara como brands de moda agênero. É assim com a Bixa Costura, Inttuí e também com Rômulo Salomão, que levou para o Afro o look que vestiu Nininha Problemática. Já a Inttuí foi representada pelo modelo Alan Souza.>
O Afro Fashion Day é projeto do jornal Correio* com patrocínio de TikTok, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e Sebrae, apoio do Shopping Barra, Suzano, Vult e Salvador Bahia Airport e parceria da Melissa.>