Venda de flores deve crescer menos este ano

Crise econômica afeta disposição de consumidores; procura por cactos e suculentas aumenta

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  • Georgina Maynart

Publicado em 6 de outubro de 2019 às 13:00

- Atualizado há um ano

Bastou a temperatura subir um pouquinho, para elas começarem a brotar com intensidade, em todos os cantos e regiões do estado. A chegada da primavera aumenta naturalmente em cerca de 40% a produção de flores.

Em Maracás, na Chapada Diamantina, principal produtora de rosas da Bahia, o cenário está ainda mais florido. A maioria das plantas está em fase de brotação.

“As mudanças da estação beneficiam a brotação ao tirar as plantas do período de hibernação. É como se as plantas estivessem dormindo no inverno, por causa do frio, e acordassem na primavera, retomando o ritmo de produção”, explica Rone Botelho, produtor de flores há mais de 20 anos. Na região prevalecem as plantações de rosa, crisântemo, gérbera e aster.

VENDAS

As temperaturas começaram a subir, mas as vendas de flores ainda não devem acompanhar o mesmo ritmo dos termômetros. A primavera deve gerar um crescimento de até 3% nas vendas de flores este ano na Bahia. Será um desempenho acanhando em relação aos anos anteriores, quando o segmento chegou a registrar um aumento médio de 10% nas vendas.

A maioria dos floricultores consultados pelo CORREIO avalia que a crise econômica enfrentada pelo país também afeta a disposição dos consumidores para investir na compra das plantas. Por incrível que possa parecer, a chegada da primavera não costuma vir acompanhada de boas vendas. A estação costuma perder inclusive para outras épocas do ano, como o mês de maio, durante as homenagens às mães, e o mês de dezembro, quando são realizados casamentos e formaturas.

Mas nada que tire o otimismo da maioria dos produtores. Eles investem nas promoções e acreditam no poder encantador das plantas para conquistar os consumidores já a partir de outubro.

“Nosso setor continua indo bem, porém existem diferenças regionais. Os produtores com qualidade, inovação e confiabilidade não precisam se preocupar. Estas qualidades e tendências particulares estimulam um ligeiro otimismo no setor”, afirma Kees Schoenmaker, presidente do Instituto Brasileiro de Flores (Ibraflor).

A avaliação positiva já se reflete nos números. De acordo com o Ibraflor, o setor deve ter um crescimento nacional de 7% este ano e já criou 209 mil postos de trabalho no Brasil em 2019. Cerca de 54% das vagas foram no varejo, 39% na produção, 4% no atacado e 3% em outras funções. O Brasil tem cerca de 8.300 produtores de flores ornamentais.

A Bahia representa cerca de 2% deste mercado. Os principais floricultores estão concentrados no sul do estado, na região metropolitana de Salvador e na Chapada Diamantina.

Otimismo é a palavra básica no meio do roseiral mantido por sete agricultores da Amaflor, Associação de Produtores de Flores de Maracás.

“Enfrentamos problemas durante a safra, como falta de condições para investir no aumento da produção. Mas a nossa expectativa é que o nível das vendas melhore a partir de agora até o fim do ano”, afirma Jean Rebouças, presidente da associação. Na região, o pacote de rosas está custando entre R$ 18 e R$ 20.

Com capacidade de armazenar água, os cactus e suculentas são encontrados na área de caatinga e estão em ascensão no mercado de flores. (Foto: Georgina Maynart) PRIMAVERA DOS CACTOS

A estação é das flores, mas cactos e suculentas estão ganhando mais espaço nesta temporada. Estas plantinhas, cheias de espinhos, viraram febre depois que passaram a ser usadas nos populares terrários, jardins montados dentro de frascos de vidro. Eles formam uma espécie de minifloresta, e reproduzem um ecossistema protegido.

Ideais para quem não tem tempo de cuidar de plantas, as suculentas são cada vez mais usadas por exigirem menos água. Na loja central da Holambello, principal distribuidor de flores para paisagismo no Nordeste, os cactos ocupam agora várias prateleiras exclusivas. Há cactos a partir de R$ 5.

“Estes cactos e suculentas já estão entre os mais procurados. E tem consumidor sempre em busca de novas variedades. As pessoas estão procurando para fazer terrários e decorações diferentes, com folhagens”, afirma Edmaldo de Jesus Silva, gerente da distribuidora na Bahia.

Entre os mais procurados estão os echeveria subalpina, de origem mexicana com porte médio e folhas carnosas, eles são conhecidos também como rosas de pedra. Para muitos consumidores os cactus são mais do que plantas."Eu amo, é uma paixão que sempre cultivo com carinho. Ano passado me mudei para Salvador, tenho saudade de meus amigos e de minha família, e comecei a comprar as plantas para não me sentir sozinha. Os cactos têm também o fator simbólico da resistência, que significa muito para mim", conta a estudante carioca Esthefane Rodrigues, que veio cursar universidade na capital baiana. Companhias especiais: a estudante Esthefane Rodrigues coleciona cactos e outras flores desde o ano passado. (Foto: Georgina Maynart) Uma pesquisa realizada pelo Ibraflor confirma a tendência de crescimento da procura pelas plantas verdes e em vasos. A busca por este tipo de planta deve crescer 12% segundo o levantamento. Já as plantas com flores, também em vasos, devem crescer 7%. Espécies verdes para jardinagem, fora de vasos, devem registrar crescimento de apenas 4%, e as flores de corte só 2%.

ETERNAS ORQUÍDEAS

Imunes ao modismo, as rosas e as orquídeas ainda são as preferidas de muita gente. As rosas pelo romantismo, as orquídeas pela longevidade. Algumas podem durar até meses.

Nesta época, devido ao aumento da concorrência provocado pelo crescimento da oferta, os preços chegam a registrar uma leve queda. O que não diminui é a curiosidade dos consumidores.

A convite do CORREIO, o professor Ednildo Torres, estudioso das orquídeas há mais de 30 anos, tirou dúvidas sobre o cultivo destas flores misteriosas.“Cultivar plantas ajuda no equilíbrio emocional, na busca da espiritualidade. Ao cuidar das orquídeas, as pessoas estão cuidando de si mesmo. Por isso acredito em orquideoterapia”, afirma o especialista.Engenheiro mecânico e professor da Universidade Federal da Bahia, Torres começou a cultivar as orquídeas por lazer, junto com a esposa. Atualmente, o casal mantém em Camaçari, na região metropolitana de Salvador, o Orquidário Bahia, um dos maiores espaços destinados a estas flores no estado, e onde costuma realizar cursos sobre estas plantas. O local abriga hoje mais de 80 mil orquídeas de várias espécies, tamanhos e cores. Ednildo Torrres coleciona e estuda as orquídeas há mais de 30 anos e explica como cuidar destas flores. (Foto: Orquidário Bahia divulgação)  *Existem orquídeas que florescem o ano todo?

Depende da espécie. As cattleyas colocam flores o ano todo. Já as phalaenopsis (amarelas) são plantas que florescem mais na primavera, quando as temperaturas estão mais ideais para elas porque esta espécie precisa de até oito graus abaixo da temperatura ambiente para induzir o botão floral. Já os cymbidiuns brotam mais no inverno, e as miltônias no verão. Em geral, cada floração pode durar de 3 a até 150 dias, depende da espécie. Uma oncídium, por exemplo, dura até 40 dias.

Qual o lugar ideal para se instalar uma orquídea?

O lugar ideal é aquele que tenha luminosidade, mas que não receba luz direta, e que tenha ventilação, para que haja aeração da planta. Pode deixar na mesa da sala, enquanto estiver com flor. Quando a flor cair, deve levar para algum espaço mais próximo da janela ou da varanda. Pode até colocar num jardim vertical, fixado na parede.

Quantas vezes a orquídea deve ser regada por semana?

Depende do local. Se a planta estiver num local mais ventilado, deve ser regada dia sim, dia não. Ou seja, a cada dois dias. A melhor forma de saber é colocar o dedo no vaso e verificar se está úmido. Se estiver, não precisa regar. E nunca deve colocar o pratinho embaixo do vaso, porque o prato diminui a aeração e pode apodrecer as raízes e a planta vir a óbito.

E a adubação, quando e como deve ser realizada?

Tem que adubar de preferência uma vez por semana. Mas é igual a comer feijoada, não deve exagerar, para não prejudicar a planta. Adubo demais prejudica. Lembrando que a adubação nunca deve ter terra. Deve ser feita com casca de coco, casca de dendê, de pinus, carvão vegetal, resíduo de cajá, brita para dar peso e adubo feito com nitrogênio, fósforo e potássio. Não pode esquecer também dos micronutrientes, como o cálcio, presentes em substâncias como farinha de osso e casca de ovo.

O que fazer depois que as flores caem?

Depois que as flores caem, deve se cortar a haste, uns dois centímetros acima da base da planta. Assim ela não vai gastar energia com a haste. Em seguida, basta continuar adubando, regando e colocando numa luminosidade adequada. Na época certa ela vai voltar a florescer.