Vídeo mostra marido agredindo promotora dentro de berço ao lado de bebê

CORREIO também teve acesso a áudios com ameaças feitas pelo empresário

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  • Bruno Wendel

Publicado em 2 de abril de 2019 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

 Hélio foi indiciado por agredir a esposa (Fotos: Reprodução) A promotora Lolita Lessa Mota Barbosa, que acusa o marido Hélio Miguel Mota Silva Barbosa de violência doméstica e familiar, aparece sendo agredida em um vídeo. As imagens foram registradas por uma câmera instalada no quarto do bebê do casal, no dia 8 de junho do ano passado.

Nas imagens do primeiro vídeo - que o CORREIO optou por não divulgar para não expor a filha do casal - é possível ver Hélio com o dedo levantado e apontado em direção ao rosto da promotora. Embora não haja áudio, é possível perceber, pela expressão facial do empresário, que ele intimida a esposa.

Na sequência das imagens, em um outro vídeo, de 1m12s, Lolita aparece de pijama. Ela vai ao quarto da filha e entra no berço. Em seguida, abraça o bebê e cobre as duas com um lençol. Helio chega logo em seguida, usando apenas um short, retira o cobertor e aponta o dedo para o rosto da promotora. Embora também seja um vídeo sem áudio, ele aparenta gritar com a promotora várias vezes.

Exaltado, Hélio deixa o quarto, mas retorna instantes depois, e novamente intimida a promotora. Desta vez, ele não avança e fica na porta gesticulando com o braço direito erguido em direção ao berço.

Os dois vídeos aos quais o CORREIO teve acesso fazem parte do inquérito policial instaurando na Delegacia Especial de Proteção à Mulher (Deam) de Brotas. 

Áudios Também fazem parte do inquérito alguns áudios gravados pela própria promotora. Em um deles, o casal conversa sobre a venda de um apartamento de Lolita, adquirido antes do casamento.

Durante a conversa, a promotora está aparentemente calma. Já Hélio, parece irritado e xinga a esposa. Confira o diálogo:

Promotora: Amor, estou pensando em nossa família. A gente já perdeu R$ 200 mil no crossfit e você ainda quer que venda o apartamento? Hélio: Mete no seu c* Promotora: O que é isso? Hélio: Se me gritar, grito também  Promotora: Eu não estou te gritando  Hélio: Gritou sim, duas vezes. Quem está me gritando? Aprenda a conversar  Promotora: Pare de baixaria, pare de mandar eu tomar no c* e me f*der.

Hélio: Então me respeite! Promotora: Eu te respeito, amor. Eu sou o que pra você? Um apartamento? Só  porque não quero vender? 

Em um outro áudio, Hélio parece ameaçar a promotora. Desta vez, não há um diálogo, apenas uma mensagem enviada por ele."Se eu começar a me sentir incomodado demais e achar também que devo fazer o que eu quero, andar como eu quero, vestir como eu quero, a hora que quero, do jeito que eu quero, fazer o que minha personalidade manda, não vai dar muito bom pra a gente. Então tome bastante cuidado", disse. Ouça o áudio na íntegra:

O caso O inquérito foi concluído há duas semanas e remetido ao Ministério Público do Estado (MP-BA), que deve apresentar denúncia à Justiça na próxima semana. O documento será analisado por uma promotora do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e População LGBT (Gedem), que deve enviar uma denúncia contra Hélio Barbosa para o primeiro grau da Justiça baiana.

Hélio é tenente da reserva do Exército Brasileiro, além de ser sócio e proprietário de três empresas, entre eles o Restaurante Panela de Barro Beach, em Stella Maris, franquiado de uma rede de crossfit de Salvador em Praia do Flamengo, e uma outra academia da mesma modalidade. Ele também é bacharel em Direito e graduado em Educação Física.

De acordo com o MP, o marido da promotora praticou quase todos os tipos de violências contra a mulher previstas na Lei Maria da Penha. O CORREIO tentou contato com Hélio, mas ele não atendeu às ligações.

Em relação ao caso, o MP-BA enviou uma nota, que diz que “repudia e combate com veemência toda e qualquer situação de violência contra a mulher que tome conhecimento".

Garante ainda que "as providências em relação ao caso da promotora de Justiça foram adotadas com rigor pelo MP assim que a Instituição teve ciência da situação", acrescentando que "de imediato, o Ministério Público requisitou à Delegacia de Atendimento à Mulher a instauração de um procedimento investigativo criminal para apurar os fatos".

Por fim, o documento informa que "por meio do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e da População LGBT (Gedem), ajuizou pedido e assegurou todas as medidas protetivas necessárias para proteger a vítima. Como as investigações já foram finalizadas, novas iniciativas serão implementadas nos próximos dias”. 

O namoro de Lolita e Hélio começou em julho de 2016 e o casamento foi firmado em novembro do mesmo ano. Declarações dela no processo atestam que, durante o relacionamento, o ex-militar "apresentou comportamento agressivo, sendo possessivo, ciumento e controlador, chegando diversas vezes às vias de fato". 

Nem mesmo a gravidez de Lolita e o nascimento da filha, que hoje tem um ano e seis meses, fizeram com que as agressões tivessem fim, de acordo com a denúncia do MP-BA. Enquanto estava grávida, a promotora chegou a passar mal e ser hospitalizada após uma violência moral que sofreu. Após o nascimento da criança, as discussões se mantiveram.

Quando tentou pôr um fim à relação, no dia 11 de julho do ano passado, a promotora foi imobilizada com uma gravata e seu marido a obrigou a pedir desculpas. Em 17 de setembro, ele deixou o apartamento dos dois e passou a fazer chantagens com relação à guarda da filha do casal.

"Frise-se que mesmo diante das tentativas de restringir o contato com o demandado, a requerente vem sendo perseguida através de ligações, mensagens e encontros onde Hélio a agride moralmente com xingamentos como: "puta, prostituta, vagabunda, merdinha, maluca, louca", culminando assim em atos de agressões", diz a peça do Ministério Público da Bahia (MP-BA). A entidade ainda destacou que Hélio Barbosa possui 1,90m, pesa 95kg e possui arma de fogo. 

No mês passado, a promotora entrou com um processo de pensão alimentícia contra o marido que, de acordo com a peça, não colaborou com o sustento da criança. Hélio foi obrigado pela Justiça a pagar mensalmente, o valor de três salários mínimos (R$ 2.294) acrescido de 13º para a pensão alimentícia da filha do casal.

A guarda da menina está com a mãe de forma liminar, mas há uma ação de guarda partilhada na Justiça.