Visceral e gay, Caio Fernando Abreu foi o retrato literário de uma geração

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  • Hagamenon Brito

Publicado em 17 de setembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Se estivesse vivo, o gaúcho Caio Fernando Abreu teria completado 70 anos na semana passada, dia 12.  Na data, ele reafirmou a condição de autor brasileiro mais pop de sua geração ao ser homenageado pelo site de buscas Google com um doodle, que mostrava um desenho do escritor segurando um livro roxo. Um dos escritores brasileiros mais cultuados, Caio Fernando Abreu (1948-1996) tem todos os seus contos reunidos em livro da Companhia das Letras (Foto/Divulgação) Uma boa maneira de reverenciar o talento visceral e outsider de Caio Fernando Abreu é mergulhar no livro Contos Completos (Cia das Letras | 768 págs. | R$ 79,90). O lançamento reúne todos os contos do autor, incluindo dez avulsos (três deles inéditos em livros) e artigos de teóricos e especialistas em literatura brasileira.

O volume abarca seis livros que influenciaram muitos dos escritores da geração atual e de onde são extraídas centenas e centenas de frases que fervilham na internet, onde também circulam muitas e muitas frases banais atribuídas falsamente a Caio, que também escreveu peças, romances, crônicas e poemas.

Vida e obra se misturam o tempo todo nos contos breves e urgentes de Inventário do Ir-Remediável (1970), O Ovo Apunhalado (1975), Pedras de Calcutá (1977), o icônico Morangos Mofados (1982), Os Dragões Não Conhecem o Paraíso (1988) e Ovelhas Negras (1995).

“Escritor da paixão” na definição de Lygia Fagundes Telles, Caio Fernando frutificou a sua sensível literatura durante os anos de chumbo da ditadura militar, escrevendo sem pudor sobre amor, morte, medo, uma angustiada solidão e homossexualidade. Gay assumido em tempos sombrios, o escritor criou pérolas literárias eróticas como o conto Terça–Feira Gorda, do livro Morangos Mofados. O texto é sobre um encontro sexual com um homem que “começou a sambar bonito” e foi em sua direção.

“Tiramos as roupas um do outro, depois rolamos na areia. Não vou perguntar teu nome, nem tua idade, teu telefone, teu signo ou teu endereço, ele disse. O mamilo duro dele na minha boca, a cabeça dura do meu pau dentro da mão dele. O que você mentir eu acredito, eu disse, que nem marcha antiga de Carnaval” ,  narra em um trecho do conto. 

Amigo de outro grande escritor gaúcho, João Gilberto Noll (1946-2017), Caio Fernando trocou Porto Alegre por São Paulo no final dos anos 1960 e conviveu com a poeta Hilda Hilst (1930-2004), antes de partir para a Europa, na década seguinte, até regressar ao Brasil em 1974.

Ganhador três vezes do Prêmio Jabuti, Caio Fernando morreu em 25 de  fevereiro de 1996, na capital gaúcha, em decorrência da Aids - aliás, ele levou a doença para a ficção em crônicas publicadas no jornal O Estado de S. Paulo.

TRECHO DO LIVRO

"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.  -  Do conto Os Dragões Não Conhecem o Paraíso.

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 REFLEXÕES SOBRE AS GERAÇÕES SURGIDAS NA SOCIEDADE LÍQUIDA O pensador polonês Zygmunt Bauman (1925-2017)/Divulgação Pouco antes de morrer em 2017, aos 91 anos, o cultuado pensador polonês Zygmunt Bauman trocava correspondência com o jornalista italiano Thomas Lencioni, 33, coautor do livro Deus É Jovem, com o papa Francisco. Nascidos em Tempos Líquidos (Zahar | 96 págs.| livro: R$ 39,90 | e-book: R$ 29,90) reúne essa correspondência. A partir de experiências bem diferentes, eles conversam sobre os mais diversos temas da cultura atual: cirurgia plástica, tatuagens, hipsters, internet, bullying, dinâmicas sexuais e amorosas nas mídias sociais, conceitos de comunidade e identidade, conciliação entre liberdade e segurança. ***

YUVAL NOAH HARARI E OS GRANDES DILEMAS E ESCOLHAS DO PRESENTE O escritor israelense Yuval Noah Harari (Foto/Divulgação) Autor dos best-sellers Sapiens e Homo Deus, o historiador e escritor israelense Yuval Noah Harari explora as grandes questões do momento no livro 21 Lições para o Século 21 (Cia das Letras | 446 págs. | livro: R$ 54,90 | e-book: R$ 29,90). Em tom de diálogo e numa linguagem simples, ele fala sobre a crise da democracia liberal, o significado da eleição de Donald Trump, fake news, a Europa e a crise migratória, desigualdades e problemas climáticos e como lidar com o terrorismo, entre outros temas. Enfim, Yuval, que dedica o livro para o marido Itzik e familiares, ajuda o leitor a manter o foco no caótico mundo atual.