Visita inesperada: quatro orcas pigmeias encalham por 7h em praia de Porto Seguro

Animais contaram com ajuda do Instituto Baleia Jubarte para voltar ao mar com vida

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  • Wendel de Novais

Publicado em 27 de abril de 2021 às 14:34

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: André Barbosa

Acostumada com encalhes de baleias jubartes e botos cinzas, a equipe do Instituto Baleia Jubarte (IBJ) precisou lidar com visitantes inesperados nos arrecifes do norte da orla de Porto Seguro na segunda-feira (26). Isso porque quatro orcas pigmeias, espécie incomum em águas rasas por se tratar de um animal marinho de vivência oceânica, encalharam na Praia da Ponta Grande, logo às 10h30, e por lá ficaram até às 17h30, quando o operacional do instituto conseguiu devolvê-las para mar aberto com vida.

O ocorrido surpreendeu o IBJ que, ao longo dos últimos vinte anos, nunca registrou um encalhamento da espécie, que não costuma dar as caras nem por ali, nem por costa nenhuma. 

Eduardo Camargo, coordenador geral do IBJ, explica o porquê da ausência de registro de encalhes de orcas pigmeias e aponta o motivo que as trouxe para o litoral sul da Bahia. "Elas são animais de hábitos oceânicos, de águas mais fundas, que não se aproximam da costa normalmente. Por isso, é raro o encalhe. O que pode acontecer é que esses animais, quando debilitados, são levados pela maré e chegam na parte mais rasa, que foi o caso ontem", diz ao citar que um dos animais estava com um ferimento na região abdominal.

A equipe suspeita ainda que os outros três, que estavam bem, só vieram à orla para acompanhar o animal ferido, que era fêmea e, possivelmente, estaria grávida. Orcas pigmeias não costumam aparecer na costa (Foto: Reprodução/IBJ) Operação resgate Não foi possível comprovar a gravidez da orca pelas difíceis circunstâncias em que ela foi monitorada pelos profissionais que a atenderam. Mas o que não deixou dúvida foi o companheirismo das outras três, que ficaram de longe observando o que estava acontecendo. Juliede Nonato, médica veterinária que fez parte do operacional que cuidou da orca, conta que eles não a deixaram nem por um instante. "Eles ficavam numa distância segura pra não chegarmos perto deles, mas perto o suficiente para ficar observando o que acontecia. Era como se eles estivessem apreensivos pra saber o que tava acontecendo. E o animal ferido conseguia vocalizar para o grupo, com sons, que pareciam ser uma comunicação que os manteve ali", lembra Juliede.

Milton Marcondes, que é coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, falou sobre as características das orcas e do estado em que chegaram na orla. "Uma delas era uma fêmea de 3 metros de comprimento, estava em coordenada, não conseguia ficar o tempo todo na vertical, mantendo a cabeça fora da água. A equipe precisou ter mais atenção, ajudou a ficar de pé na vertical, fez uns exames e viu que ela tinha uma ferida na região do abdômen, que parecia mordida de tuburão charuto, mas nada muito sério", explica Marcondes. Animal ferido precisou de ajuda para ficar na posição correta e conseguir respirar (Foto: Reprodução/IBJ) Juliede deu mais detalhes sobre as ações da equipe com o animal, que notou que ele não conseguia ficar na posição normal e acabava virando a barriga pra cima, o que o impossibilitava sua respiração. "A gente fez uma avaliação protocolar para registrar características básicas como sexto, faixa etária e comprimento. Vimos que era um animal adulto que, por algum motivo, não conseguia ficar na posição fisiológica. Ele ficava com a barriguinha pra cima e precisava de ajuda para ficar de barriga para baixo, flutuando e respirando. Então, precisou da gente segurando ele por meia hora para finalmente ele conseguir ficar na posição correta sozinho", relata.

De volta ao mar A equipe do IBJ chegou ao local às 10h30 e ficou em contato direto com a orca até às 11h30, quando ela parou de ficar de barriga para cima e conseguiu voltar a nadar em direção às outras três. Depois disso, começou a fase de monitoramento do animal para que os profissionais estivessem ao lado da orca caso ela voltasse a ficar na posição em que não conseguia respirar, o que não voltou a acontecer. O resto da operação do IBJ foi para reconduzir os animais de volta para o oceano com um barco indicando o caminho que deveriam traçar.  Equipe acompanhou orcas até o mar aberto (Foto: Reprodução/IBJ) De acordo com Marcondes, a equipe acompanhou a orca que estava ferida até o momento que a maré começou a subir. "Eles ainda estavam em água rasa, do lado de dentro da barreira de corais e arrecifes e precisavam sair do lado de fora da barreira. Então, o pessoal foi com uma lancha pra lá e com muito cuidado ficando com a lancha entre os golfinhos e a terra foram aos poucos conduzindo os animais pra abertura da área de coral. Agora vamos monitorar praias nos próximos dias para garantir que eles não vão voltar a encalhar", conclui.

O IBJ continua monitorando o litoral sul através da sua rede de contatos para prestar atendimento novamente caso as orcas voltem a encalhar pela região. 

*Sob supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro