Vítimas de violência por intolerância religiosa são homenageadas

Mães de santo sofreram agressões por sua religiosidade

Publicado em 30 de julho de 2019 às 19:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mateus Pereira/GOVBA

A primeira coincidência está no nome. Mãe Rosa Oyá é de Alagoinhas e Mãe Rosa de Oxum é de Vitória da Conquista. A segunda é uma triste coincidência. As duas sofreram agressões por sua religiosidade. Nesta terça-feira (30), elas receberam uma homenagem durante a mesa temática ‘Heroínas de ontem e hoje: legados de resistência’, realizada na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), em referência ao 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. 

As agressões contra Mãe Rosa de Oyá foram praticadas por um grupo de pessoas de outra religião. “Eu sofri uma violência sem tamanho. Uma turma de evangélicos chegou na minha casa às 23h45. Eles invadiram minha casa, gritando com muito ódio frases como 'satanás tem que cair'. Eu já estava deitada e não levantei porque comecei a passar mal. Fiquei calada. Hoje eu estou aqui para agradecer, agradeço a minha mãe Oyá, a meu pai Oxóssi, e desejo muito amor, muito respeito a todas as religiões, porque todos nós temos o livre arbítrio”. 

Mãe Rosa de Oxum também lembrou a agressão que sofreu. “Eu fui agredida física e verbalmente por um pastor evangélico. Por morar há 19 anos no mesmo local, nunca achei que isso ia acontecer. Foi um baque muito grande. Hoje, estar aqui, sendo homenageada, é um imenso prazer, porque o racismo dói. A Sepromi e todos os órgãos que são contra a discriminação racial estão de parabéns”, afirmou. 

A homenagem é uma realização conjunta entre as secretarias de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), de Políticas para as Mulheres (SPM) e de Cultura (Secult), além da Comissão da Promoção da Igualdade da Alba e Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra da Bahia (CDCN). 

Na ocasião, a secretária da Sepromi, Fabya Reis, explicou que a atividade integra uma série de ações, como o edital de apoio a organizações da sociedade civil. “Neste ano, o edital da Década Internacional foi ampliado. Agora são R$ 2,4 milhões investidos em atividades durante todo o ano, dando visibilidade às mulheres negras. O Agosto da Igualdade já se avizinha e também o nosso Novembro Negro".

O evento desta terça-feira (30) ainda prestou homenagem às heroínas Dandara dos Palmares, Luísa Mahin, Mãe Stella de Oxóssi e Makota Valdina. Alice Pinto, do Unzó Oniboyá, representou a tia Makota Valdina. “Eu já considerava minha tia uma heroína. Ela sempre foi uma mulher de colocar a sacola no ombro e ir para a luta. A gente a via sempre na TV, tomando a frente e resolvendo as situações. Ela levou esse legado da comunidade negra, da cosmovisão africana para o Brasil e para o mundo. Ela falava alto e grosso para que todos respeitassem nossa religião afrobrasileira. Ela falava: eu não quero que me tolerem e, sim, que me respeitem”, disse Alice. 

A mesa temática também reuniu a escritora Lívia Natália, autoridades e representantes do Ilê Axé Opó Afonjá e do UnzóOniboyá, terreiros de atuação de Mãe Stella de Oxóssi e Makota Valdina.