Você conhece o upcycling? Técnica pode construir looks incríveis e incentiva moda sustentável

Grupo de mulheres em São Caetano criou cooperativa que cria acessórios e roupas com tecidos reutilizados

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 18 de outubro de 2021 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva

Transformar, empreender, ressignificar, girar, criar, vender, mudar. Todas essas palavras-chave conversam diretamente com os assuntos desse texto: economia circular e moda sustentável.

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Na última semana, a equipe do Afro Fashion Day realizou uma oficina e ocupação para criar seis looks do desfile que acontece no próximo mês. O evento teve apoio da cooperativa Constelação das Artes, formadas por artesãs e costureiras do bairro de São Caetano, além de estilistas baianos renomados e da Liga Transforma. Juntas, essas mentes transformaram uniformes de funcionários do Grupo Boticário em roupas lindíssimas e excelentes para o uso na passarela e também no dia-a-dia.

Analista técnico do Sebrae e especialista em Gestão Ambiental com Tecnologias Limpas, Eduardo Garrido explica que a economia circular vai de encontro ao conceito linear que temos sobre produtos. Nos acostumamos a viver num mundo com prazos de validade bem definidos, numa linearidade de começo, meio e fim. Adquirimos algo que foi construído, vendido e será descartado. Na economia circular isso é diferente. Aquilo que já foi utilizado pode servir de matéria prima para outros fins.“Negócios do tipo costumam ter, quase sempre, um impacto social atrelado a seus produtos e isso imediatamente cria um diferencial interessante para que as marcas se posicionem no mercado. Cada vez mais, vemos demandas sociais, ambientais e de negócios que trabalham dessa maneira”, explica Garrido. Eduardo é analista técnico do Sebrae e diz que negócios de economia circular têm grande potencial (Foto: Divulgação) Foi pensando numa moda sustentável que, em 2018, a estilista e publicitária Lourrani Baas criou a Liga Transforma. Ela descreve o projeto como uma rede de fortalecimento e afirmação para mulheres através do reaproveitamento de retalhos, peças usadas e outros artefatos. Tudo serve de matéria prima para que fontes de renda sejam criadas para essas mulheres conquistarem a autonomia financeira.

Nos últimos três meses, a Liga arrecadou cerca de três toneladas de retalhos, que viraram roupas novas, bolsas e acessórios. A instituição também atua junto a comunidades, oferecendo palestras, consultorias e capacitações para empreendimentos femininos. Um deles é a cooperativa Constelação das Artes, encabeçada pela costureira Estela Maria, 60, no bairro de São Caetano. A cooperativa participou da oficina do AFD e ofereceu uma mão de obra que o curador do projeto, Fagner Bispo, classificou como fundamental para que todas as peças ficassem prontas em menos de 48h. Lourrani Baas analisa calça pantalona que desenhou para Oficina do Afro Fashion Day (Foto: Marina Silva/CORREIO) Estela Maria conta que fundou a cooperativa inspirada em programas televisivos sobre negócios que assistia. Ela diz que gosta muito da ideia de colaboração. Atualmente, a Constelação das Artes tem duas costureiras e sete artesãs. Ela afirma, no entanto, que sente muita dificuldade para monetizar o trabalho feito. “Seria melhor se a gente conseguisse transformar esse trabalho em lucro, mas ainda é muito difícil. Há pessoas que pensam que, por ser um trabalho que reutiliza material, tem menos valor. Aí, hoje, a gente trabalha mais sob demanda”, explica.

Especialistas apostam em capacitação e inclusão para fazer com que negócios possam se desenvolver mesmo em iniciativas menores, como a Constelação das Artes. O Sebrae disponibiliza uma série de cursos gratuitos de comunicação, vendas, marketing digital e similares para que as empresas consigam atrair clientes e se tornarem sustentáveis. Estela Maria é fundadora da Constelação das Artes, cooperativa que funciona em São Caetano (Foto: Marina Silva/CORREIO) Especialista em moda sustentável, Patrícia Zanella também é co-fundadora da EcoCiclo, empresa que criou um marketplace e abriu edital para 30 negócios sustentáveis terem um ambiente virtual de vendas.“A indústria da moda tem muito desperdício. Há muito material que poderia ter tratamento diferente para se transformar em matéria-prima de qualidade”, diz a empresária. Na Bahia, nomes como o estilista Gefferson Vila Nova já trabalham com upcycling (reciclar e transformar) há quase duas décadas.  Empresa co-fundada por Patrícia Zanelli tem edital aberto para 30 iniciativas sustentáveis encabeçadas por mulheres (Foto: Divulgação) Para Fagner Bispo, o grande segredo é utilizar da mesma criatividade que as empresas têm para recriar as roupas na hora de comunicar: “Dá para fazer looks que você nunca dirá que são roupas reutilizadas ou reformadas. Roupas de loja mesmo. É importante usar isso a seu favor, ter um trabalho de design e comunicação forte e com certeza dessa maneira as iniciativas podem decolar”.

O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com o patrocínio do Hapvida, apoio do Shopping Barra e apoio institucional do Sebrae.