Volta ao Barradão emociona torcedor do Vitória: 'Meu Santuário, minha casa'

Torcida esteve no estádio e empurrou o time em goleada por 3x0 contra o Itabaiana, pela Copa do Nordeste

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 19 de outubro de 2021 às 23:34

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Estar vivo é bom. Estar vivo e poder ir ao Barradão, é melhor ainda. Nem mesmo as turbulências políticas e o péssimo momento em campo foram capazes de esfriar os corações rubro-negros que foram ao Santuário nesta terça (19), para assistir ao primeiro jogo do clube em casa e com torcida desde 15 de março de 2020. E deu bom: o Vitória bateu o Itabaiana por 3x0, pela 2ª fase da Pré-Copa do Nordeste, avançando na competição.

Coincidentemente, também foi uma partida da Copa do Nordeste: naquela ocasião, o Leão goleou o River-PI por 4x1 para um público de quase 3 mil pessoas. Matheus Victor da Silva Araújo, 31, estava lá. A pandemia já preocupava, mas, naquele dia, ele saiu do estádio eufórico com a atuação do Leão. Ir ao estádio é parte da rotina dele e ficar todo esse tempo sem ver o Vitória no Barradão foi como arrancar uma parte de quem ele é. A pandemia foi complicada para Matheus, que precisou ver seus avós de longe por quase 7 meses. Os gritos do avô ouvindo rádio (e se antecipando às imagens da TV) ficaram ausentes já que ele precisou continuar na rua para trabalhar.

"Eu precisava trabalhar, então eu tinha esse receio. Eles precisaram ir embora e foi muito difícil, muito conturbado. Eles chegaram a ter Covid, mas não tiveram agravamento porque já estavam vacinados", contou. Matheus posa para foto antes de entrar no Barradão (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Matheus contraiu o vírus em janeiro. Em suas próprias palavras, achou que iria morrer: teve febre, muitas dores articulares e dor de cabeça. Hoje, pode dizer, curado e vacinado: "estou de volta ao Barradão. A minha casa". Casa esta que foi o seu avô, José, de 84 anos, quem ensinou a gostar quando ainda tinha 3 aninhos. Por um problema de saúde, seu José perdeu a visão e conta com o rádio para acompanhar o Leão.

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Estudante de 21 anos, João Vitor Monteiro contou que o Barradão, pra ele, significa casa. E dentro de casa há um misto de sentimentos: raiva em alguns momentos, como o atual, mas principalmente amor e abrigo. Ele acredita que a falta da torcida prejudicou muito o Vitória e que, com o público de volta ao Barradas, a chave pode começar a mudar. "Desde que a volta foi anunciada, eu fiquei ansioso e imaginando pisar no Barradão de novo. A sensação [de estar aqui] é a melhor possível. Quem não gosta de voltar para sua casa e estar no local onde as pessoas que torcem para seu time se tornam seus irmãos?", contou. João recebeu o Barradão de braços abertos na volta da torcida ao estádio (Foto: Acervo Pessoal) O movimento no Barradão foi bem tranquilo, algo já esperado por João Santos de Santana, torcedor de 61 anos que foi um dos primeiros a entrar no estádio, antes mesmo das 19h30. "Antes da pandemia a média de público nesse horário era de 5 mil. Agora ainda tem muita gente preocupada, receosa. Só vem gente apaixonada que nem eu, que sou Vitória desde a infância", contou.

João se disse emocionado por voltar ao Barradão e pisar de novo em seu Santuário foi motivo de alegria e orgulho. Ele está confiante de que a torcida vai ajudar o clube a sair da situação difícil. "Não era pra a gente estar assim. O Vitória tem uma boa defesa, falta é o ataque empurrar para o gol. Se o ataque fosse bom, a briga da gente era pelo G-4. Agora, com a torcida empurrando, tenho fé que a situação melhore", afirmou João.

Nas barraquinhas de ambulantes montadas próximas ao estacionamento, o movimento era maior. Pessoas se reencontravam, comiam água (algo que não foi possível do lado de dentro do estádio) e se aqueciam para a partida.

Luiz Pombo, 22, foi outro a comparecer após superar a covid. A sensação do torcedor foi um pouco estranha, já que ficou com sequelas deixadas pelo vírus e ainda não consegue sentir bem os cheiros. Antes da partida, comemorou poder voltar ao lugar que mais frequentou durante toda a vida. Durante a pandemia, ainda levou o irmão para se vacinar no estádio e teve um aperitivo da sensação de retornar para um jogo.

"O torcedor que veio hoje pro jogo, no meio da semana com um horário não muito bom, é simplesmente por amor", disse, antes de se mostrar ansioso: no dia do jogo, acordou pensando nisso e seguiu o seu ritual de praxe. Ouviu músicas do time e da torcida e não pensava em nada que não fosse a hora de pegar o carro e ir para o Barradão.

Ansiedade que foi retribuída pelos jogadores do técnico Wagner Lopes em campo. Assim como na última partida antes do fechamento dos estádios para a torcida, quando o vitória deu 4x1 no River-PI, o Leão foi dominante contra o Itabaiana e conquistou uma vitória com 3 gols de diferença, sendo dominante durante boa parte da partida. Os 1.129 pagantes que foram ao Santuário cantaram durante quase toda a partida, empurrando a garotada que estava em campo e provando como o Barradão é mágico. E ganha jogo.