Xamêgo une o Bahia aos gardelitos

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  • Paulo Leandro

Publicado em 28 de abril de 2021 às 05:05

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A origem da verdade está de tal modo relacionada à memória, a ponto de os gregos a nomearem a-létheia (não-esquecimento), como repositório confiável, pronto ao acesso, basta lembrar, como escrevemos hoje, pensando sobre o “xamêgo” (amor baiano) entre o Bahia e a Argentina.

Bons amigos da a-létheia são os autores de responsa, como são exemplos Nestor Mendes Júnior, Newton Calmon e Carlos Casaes, a quem recorremos, ao cumprir pauta proposta pelo poeta Antônio Pastori, em seu derramar de loas ao zagueirão Conti, na nossa diária tapera virtual.

De Conti bem se encarrega nossa equipe de repórteres, restando a nós, investigadores da bola, a genealogia: o pioneiro argentino Kuko, atacante em 1938/39, fez dupla com Vareta, antes de Palito, numa época na qual podia-se ser magrelo e craque, pois musculação não dava moral.

Como todos sabem, escolhi ser pesquisador do fútil-bol: interpreto as primeiras décadas do Bahia como era mitológica, pela inequívoca presença de divindades, como se pode demonstrar com a contratação, posterior a Kuko, de linha média (quase meio-campo) toda da Argentina.

Foi em 1940: o presidente Carlos Wildberger, homem hereditariamente rico, sublimou provável repressão de sua libido (energia vital), deslocando esta força (axé) para o clube, torrando a fortuna no Bahia, do qual saiu sem um tostão para tomar cafezinho.

Depois de quitar oito meses de aluguel da sede da Princesa Isabel, Carlos investiu o equivalente a três apês em Alphaville, a preços de hoje, para bancar Papetti, ex-Platense; Avalle (italiano de berço), ex-Gimnasia y Esgrima, Estudiantes e Racing; e Bianchi, ex-Racing.

Estrearam contra o atual adversário na final da Lampions, o Ceará Sporting, em goleada por 5x1, na mesma Fortaleza onde o presidente-poeta Amado Bahia Monteiro recitara, dois anos antes, o “Nasceu para vencer”, verso fundamental para entender o telos (finalidade) do Bahia.

Época de flerte com o nazifascismo, como agora, Papetti e Avalle chegaram a ser presos e incomunicáveis pelo Serviço dos Estrangeiros, por alegada falta de documentação, precisando o professor Orlando Gomes atuar para soltá-los.

O trio se desfez, mas até 1946, já no Pós-guerra, Avalle estava por aqui – morreria ao transferir-se para o Flamengo, efeito de pancada nos rins;  Bianchi ficou até 1947, como jogador-treinador, façanha seguida por Osni, em 1984.

Com Bianchi, Papetti e Avalle, o futebol baiano ganhou alcance internacional, pelos jornais, tal o prestígio dos argentinos, na era do platinismo, quando nossa seleção tremia toda diante dos gardelitos.

Mais recentemente, na era moderna do Bahia, reluz a contratação de SanFilippo, astro do San Lorenzo de Almagro, primeiro adversário de um clube brasileiro, pela Libertadores, joia do museu tricolor.

Para entender SanFilippo, “El Nene”, recorremos ao conceito de temporalidade afetiva (Lord David Hume), estendendo-se aquele 1969 até dias atuais, tal o brilho do inesquecível diamante platino.

O super-SanFilippo trouxe com ele o lateral-esquerdo Paes, antes do lendário goleiro Buttice, meio Di-oniso, meio Apolo, nesta olimpiana trajetória, capaz de unir duas grandes nações, feitas de garra e talento, a tricolor e a gardelita.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.