Oscar Valporto: no país onde ninguém é melhor do que Eto’o

O atacante camaronês Samuel Eto’o foi o destaque dos campeonatos europeus no último fim de semana ao marcar os três gols do seu Chelsea na vitória sobre o Manchester United. O time de Londres, dirigido pelo português José Mourinho, tem um elenco estelar - os brasileiros Oscar,  Ramires e David Luiz, o espanhol Juan Mata, o belga Haqzard - que facilita a vida de qualquer artilheiro. Mas Eto’o vem sendo decisivo na perseguição do Chelsea ao Arsenal - ainda líder com  dois pontos de vantagem - pelos gols que vem marcando e também pela intensa movimentação que abre espaços para os meias.

Felizmente para nós, brasileiros, a seleção de Camarões - adversária da Seleção na primeira fase da Copa do Mundo 2014 - não fornece a Eto’o companhia tão qualificada quanto o Chelsea. O atacante - que completa 33 anos em março - é o capitão e o único jogador da seleção africana que pode ser chamado de craque. O técnico de Camarões, o alemão Volker Finke, observa 42 jogadores que jogam em times da Europa e serão a base da seleção no Mundial - o goleiro Kameni, do Málaga, o volante Song, do Barcelona, e o atacante Webó, do Fenerbahe, são os prinicpais nomes dessa lista.

A esperança de Camarões passar da primeira fase da Copa está mesmo nos pés de Samuel Eto’o, que marcou 108 gols em 145 jogos nas cinco temporadas que passou no Barcelona. O  artilheiro não fez tanto sucesso na Inter de Milão e no Anzhi, da Rússia, mas suas últimas atuações pelo Chelsea mostram que ele ainda pode ser um dos protagonistas do Mundial no Brasil tanto pela habilidade - vale ver o drible de corpo antes do primeiro gol contra o Manchester - como pelo oportunismo, confirmado nos outros dois gols no tradicional rival da Inglaterra.

E infelizmente para nós, brasileiros, a seleção de Luiz Felipe Scolari não tem um atacante no mesmo nível de Eto’o desde o Ronaldo da Copa da Ásia em 2002. Os problemas com a bebida anteciparam o fim de carreira de imperador de Adriano. Luiz Fabiano, artilheiro da Copa das Confederações em 2009 e titular com Dunga no Mundial de 2010, não tem nem a habilidade de  Eto’o; o mesmo vale para Fred, titular de Felipão na Copa das Confederações 2013, que, mesmo  eficiente na Seleção, praticamente não jogou o segundo semestre inteiro, perseguido por lesões, e não é exatamente um exemplo de profissional. As alternativas testadas por Felipão como Jô e Leandro Damião não chegam a ser animadoras. Diego Costa esnobou o Brasil e preferiu tentar suas chances como jogador da Espanha. De qualquer forma, nenhum deles - nem mesmo Obina como cantava a torcida do Flamengo - é melhor do que Eto’o.

Menos mal que a seleção de Camarões não parece ser realmente uma ameaça mas, ao acompanhar os jogos do campeonato inglês, Felipão deve ter calafrios ao constatar a quantidade de artilheiros com mais talento do que os nossos: o argentino Kun Aguero, do Manchester City, o inglês Wayne Rooney, do Manchester United, o holandês Robin Van Persie, do mesmo United, o uruguaio Luiz Suares, atual artilheiro da Liga, com 22 gols, mais  de um por jogo, pelo Liverpool. Ainda jogam por lá, outros centroavantes não tão talentosos, mas também muito eficientes como o togolês Adebayor, do Tottenham, o francês Giroud, do Arsenal, e o belga Lukaku, do Everton. Com exceção de Adebayor, todos os outros devem defender suas seleções na Copa do Mundo 2014.

Até em seu grupo no Mundial, o Brasil está em desvantagem: além do Camarões de Eto’o, enfrentará a Croácia de Mandzukic, goleador do papa-títulos de 2013, o Bayern Munich, e o México de Chicharito Hernandez, reserva de Van Persie no Manchester United. Para a Copa, já é tarde, mas o Brasil precisa voltar a cultivar artilheiro.