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Evangélicos, Lula e Bolsonaro: como a religião virou peça-chave da eleição de 2026

Se a religião sempre influenciou a política americana, nos últimos anos passou a exercer peso crescente também no Brasil

  • Foto do(a) author(a) Rodrigo Daniel Silva
  • Rodrigo Daniel Silva

Publicado em 27 de dezembro de 2025 às 05:00

Apesar de notícias indicarem que Lula teria desistido de disputar os evangélicos, os fatos mostram outra realidade
Apesar de notícias indicarem que Lula teria desistido de disputar os evangélicos, os fatos mostram outra realidade Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Chegou recentemente às prateleiras das principais livrarias o livro Brasil no Espelho: um guia para entender o Brasil e os brasileiros, da editora Globo Livros. Com pouco mais de 200 páginas, a obra do cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, é resultado de entrevistas realizadas com quase 10 mil brasileiros entre novembro e dezembro de 2023. O objetivo do trabalho é oferecer um retrato de como pensamos, quais valores morais orientam nossas escolhas e de que forma nos posicionamos ideologicamente.

A partir dos dados levantados, o livro permite inúmeras análises e leituras, tamanha é a riqueza do material apresentado. Um dos aspectos que mais chamam a atenção diz respeito à religião. Felipe Nunes lembra que, no primeiro censo realizado no Brasil, em 1872, 100% da população se declarou católica. Passados 150 anos, o cenário é radicalmente diferente. Hoje, 57% dos brasileiros se dizem católicos, 27% evangélicos, 9% afirmam não ter religião e 7% pertencem a outras crenças.

Brasil no Espelho - novo livro do cientista político Felipe Nunes
Brasil no Espelho - novo livro do cientista político Felipe Nunes Crédito: Divulgação

Esse processo de diversificação religiosa tem implicações diretas na política. À medida que o país se torna mais plural, a religião tende a ganhar peso crescente nas disputas eleitorais, sobretudo nas eleições presidenciais. Para os candidatos, formar maioria dentro de um eleitorado cada vez mais fragmentado será um desafio adicional. Nesse contexto, o crescimento dos evangélicos e o comportamento político desse segmento são o principal foco de atenção dos analistas. Trata-se de uma parcela numerosa do eleitorado que, como aponta Felipe Nunes, passou a escolher seus candidatos menos a partir de critérios econômicos e mais com base em valores morais e identitários.

A experiência internacional ajuda a compreender esse fenômeno. Nos Estados Unidos - país que exerce forte influência cultural e política sobre o Brasil - a religião sempre desempenhou papel relevante na vida pública. Na década de 1960, o democrata John Kennedy enfrentou forte resistência por ser católico, tornando-se o primeiro presidente americano dessa religião. Em setembro de 1960, precisou assegurar aos evangélicos do sul que sua fé não orientaria suas decisões políticas, ao mesmo tempo em que defendia o direito de um católico disputar cargos públicos.

Décadas depois, em 2007, o então senador Mitt Romney foi aconselhado a seguir estratégia semelhante. Mórmon, precisou afirmar aos evangélicos que sua fé não seria seu guia final caso quisesse obter apoio político. À época, pesquisas indicavam que 52% dos protestantes evangélicos brancos que frequentavam regularmente a igreja não consideravam o mormonismo - fundado por Joseph Smith em 1830, no estado de Nova York - uma vertente do cristianismo.

Se a religião sempre influenciou a política americana, nos últimos anos passou a exercer peso crescente também no Brasil. Embora nunca tenha estado ausente, há episódios emblemáticos. Em novembro de 1985, durante o último debate televisivo entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, o então senador Fernando Henrique Cardoso hesitou ao responder a uma pergunta do jornalista Boris Casoy sobre sua crença em Deus. O episódio foi considerado decisivo para sua derrota diante de Jânio Quadros.

Qual será, afinal, o peso da religião na eleição presidencial de 2026? Será determinante? Essa é uma resposta que só virá em outubro do próximo ano. Mas é inegável que terá influência relevante. Não por acaso, os dois principais polos da disputa - Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o bolsonarismo, que hoje aponta Flávio Bolsonaro (PL) como possível candidato - têm voltado suas atenções para um eleitorado potencialmente decisivo: os evangélicos.

Apesar de notícias indicarem que Lula teria desistido de disputar esse segmento diante do aumento da rejeição, os fatos mostram outra realidade. Nesta semana, o presidente assinou um decreto que reconhece a cultura gospel como manifestação cultural. No ano passado, sancionou a lei que institui o Dia Nacional da Música Gospel, celebrado em 9 de junho. Além disso, indicou para o Supremo Tribunal Federal Jorge Messias, integrante da Igreja Batista.

Na campanha de 2022, Lula chegou a divulgar uma carta direcionada aos evangélicos e produziu peças publicitárias específicas para esse público. Mesmo enfrentando resistência em setores progressistas que demonstram aversão ou preconceito contra os evangélicos, o petista sabe que esse eleitorado pode ser decisivo.

Diferentemente da discriminação contra religiões de matriz africana - marcada pelo medo e pela ignorância -, a rejeição aos evangélicos em parte da esquerda parece nascer de uma percepção de superioridade intelectual e moral.

Do outro lado, o ex-presidente Jair Bolsonaro divulgou recentemente uma carta em que confirma a indicação do filho Flávio Bolsonaro como seu nome para a disputa presidencial. No texto, recorre a uma metáfora bíblica ao afirmar que entregou “o que há de mais importante na vida de um pai: o próprio filho”, numa alusão ao episódio de Abraão e Isaque.

A disputa pelo voto religioso - especialmente o evangélico - será um dos aspectos mais interessantes da eleição presidencial de 2026. Ainda não se sabe de que forma ela se dará, mas uma coisa é certa: quem quiser vencer terá de dialogar com a fé. Afinal, como registra Felipe Nunes em Brasil no Espelho, para 97% dos brasileiros Deus é muito importante em suas vidas. Razão suficiente para levar o tema a sério - e para recomendar a leitura do livro.

SERVIÇO:

Livro: Brasil no espelho: Um guia para entender o Brasil e os brasileiros

Autor: Felipe Nunes

Editora ‏: ‎ Globo Livros

Páginas: 224 páginas

Valor: R$ 61,99