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Donaldson Gomes
Publicado em 24 de novembro de 2025 às 05:00
Um surto causado por medicamentos para o controle de ansiedade e depressão. Esta foi a explicação dada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para a tentativa de violar a tornozeleira eletrônica, que levou à decretação da sua prisão preventiva na manhã de sábado (22). Na audiência de custódia realizada ontem, o ex-presidente negou que tivesse a intenção de fugir do país, ao contrário do que apontou o ministro Alexandre de Moraes ao determinar a prisão na sede da Polícia Federal no Distrito Federal. >
Desde a manhã do último sábado, o ex-presidente está numa cela individual de 12 metros quadrados, banheiro privativo, ar-condicionado e aparelho de TV. A decisão judicial também prevê atendimento médico em tempo integral.>
Vídeo mostra tornozeleira de Bolsonaro após violação com ferro quente
Embora a prisão preventiva não tenha relação direta com a condenação a 27 anos e três meses de prisão pela tentativa de golpe, é muito provável que Bolsonaro emende o período atual na prisão com o início do cumprimento da pena estabelecida pela Justiça. Os prazos estabelecidos para recursos ainda estão em curso, mas devem se encerrar nos próximos dias. Os advogados de Bolsonaro e outros seis aliados condenados têm até hoje para apresentar novos recursos sobre as penas estabelecidas contra os réus. A defesa do ex-presidente já sinalizou que pretende recorrer. >
Na audiência de custódia, realizada na manhã de ontem (23), Bolsonaro reconheceu que mexeu na tornozeleira, mas negou a intenção de fugir. “Depoente [Bolsonaro] afirmou que estava com ‘alucinação’ de que tinha alguma escuta na tornozeleira, tentando então abrir a tampa”, diz a ata da audiência, protocolada pela juíza auxiliar Luciana Sorrentino, que decidiu manter a prisão do ex-presidente. Bolsonaro afirmou que teve uma “certa paranoia” em razão dos medicamentos que tomou. >
Ele disse à juíza que começou a utilizar os medicamentos pregabalina e sertralina há cerca de quatro dias e que nunca tinha tido um surto desta natureza antes. O ex-presidente contou que mexeu no equipamento por volta da meia-noite de sexta-feira, mas depois “caiu na razão”, parou de utilizar o ferro de solda e se comunicou com os agentes responsáveis pela sua custódia. >
Veja como é a sala onde Bolsonaro está preso
Na audiência de custódia, ficou definido que Bolsonaro permanecerá preso, considerando que todos os procedimentos da Polícia Federal (PF) foram cumpridos de forma adequada. Hoje, a Primeira Turma do Supremo vai julgar se mantém a decisão de Moraes, ou se revoga a prisão do ex-presidente. A sessão extraordinária está prevista para acontecer entre 8h e 20h. Caso os ministros decidam referendar a decisão de Moraes, a prisão preventiva poderá ser mantida enquanto a Justiça entender que ela é necessária. De acordo com a legislação brasileira, a decisão deverá ser reavaliada a cada 90 dias. >
Questionado pela juíza, Jair Bolsonaro, que se apresentou como militar e professor de educação física, negou ter sido vítima de qualquer tipo de abuso ou irregularidade durante a prisão. Ele explicou que sabia usar o ferro de solda utilizado para violar a tornozeleira porque tem curso de operação desse tipo de equipamento e que agiu sozinho.>
“O depoente afirmou que estava acompanhado de sua filha, de seu irmão mais velho e um assessor na sua casa e nenhum deles viu a ação do depoente com a tornozeleira”, diz um trecho do documento judicial. “Informou que as demais pessoas que estavam na casa dormiam e que ninguém percebeu qualquer movimentação”.>
Jair Bolsonaro é preso no DF
O ex-presidente reiterou que não tinha intenção de fugir e afirmou que a vigília convocada pelo seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), não poderia criar tumulto que pudesse facilitar uma hipotética fuga. “Sobre a vigília convocada por seu filho, afirmou o depoente que o local da vigília fica a setecentos metros da sua casa, não havendo possibilidade de criar qualquer tumulto que pudesse facilitar hipotética fuga”, aponta o documento.>
Pedido da defesa>
A defesa de Jair Bolsonaro pediu ontem ao ministro Alexandre de Moraes que revogue a prisão preventiva. Os representantes de Bolsonaro querem também que o magistrado se pronuncie sobre um pedido de prisão domiciliar humanitária para o momento de iniciada a execução penal da trama golpista, passo seguinte do processo após encerrada a possibilidade de novos recursos.>
Moraes deixou de analisar esse pedido por considerá-lo prejudicado após determinar a prisão preventiva no sábado. No pedido deste domingo, a defesa diz que “todas as medidas que vinham sendo impostas por esse d. Ministro Relator [Moraes] já tornavam a possibilidade da suposta fuga algo impossível”.>
“Ainda que a tornozeleira parasse de funcionar ou fosse removida – o que não aconteceu – a residência do ex-presidente é vigiada de forma ininterrupta”, afirma. Destacaram também o fato de que a residência de Bolsonaro fica em condomínio fechado, os policiais responsáveis pela vigilância do local impedem a saída do ex-presidente ou a aproximação de qualquer pessoa não autorizada.>
Risco de fuga>
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso preventivamente porque o ministro Alexandre de Moraes considerou que havia risco de fuga e não existiam mais condições para manter a prisão domiciliar. A decisão citou tanto a tornozeleira eletrônica violada, quanto uma vigília convocada para a noite de sábado (22) pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na porta do condomínio onde o ex-presidente mora.>
“O Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal comunicou a esta Suprema Corte a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento eletrônico do réu Jair Messias Bolsonaro, às 0h08min do dia 22/11/2025”, apontou Moraes em sua decisão. “A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho”, completou.>
Sobre a “vigília” convocada por Flávio, Moraes pontuou que “embora a convocação de manifestantes esteja disfarçada de ‘vigília’”, a conduta indica o mesmo “modus operandi da organização criminosa liderada pelo referido réu, no sentido da utilização de manifestações populares com o objetivo de conseguir vantagens pessoais”.>
“O tumulto causado pela reunião ilícita de apoiadores do réu condenado tem alta possibilidade de colocar em risco a prisão domiciliar imposta e a efetividade das medidas cautelares, facilitando eventual tentativa de fuga do réu”, frisou.>
Moraes afirmou no despacho que a ordem deveria ser cumprida “com todo respeito à dignidade” de Bolsonaro e “sem a utilização de algemas e sem qualquer exposição midiática”. A PF disse em nota que cumpriu “um mandado de prisão preventiva em cumprimento a decisão do Supremo Tribunal Federal”. >
A decisão de Moraes sobre o ex-presidente foi tomada após a decretação da prisão preventiva do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), também condenado na trama golpista. O parlamentar deixou o país e está nos Estados Unidos. Na manifestação em que pediu ao STF a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, a Polícia Federal mencionou que Ramagem teria fugido do país “com a finalidade de se furtar à aplicação da lei penal”.>
Na decisão, Moraes afirmou ainda que havia risco de fuga e mencionou a proximidade da casa do ex-presidente com o Setor de Embaixadas Sul, em Brasília. O magistrado disse que o condomínio onde o ex-presidente cumpria medidas judiciais fica a 13 km da embaixada dos Estados Unidos.>
Visita de Michele>
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro chegou na tarde de ontem à Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, para visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro, preso preventivamente por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Michelle não estava em casa no momento da prisão. A visita foi autorizada pelo STF, que determinou que apenas advogados regularmente constituídos e pessoas previamente autorizadas podem ter acesso ao ex-presidente. >
Michelle se pronuncia após prisão de Bolsonaro
Sem falas na chegada, ela desembarcou do carro próximo ao prédio principal da sede regional e acenou brevemente para os cerca de 30 apoiadores que aguardavam a chegada dela em frente à unidade da PF. Michelle, que tinha até as 17h para finalizar a visita, deixou a superintendência por volta das 16h54. A ex-primeira-dama acenou para apoiadores de Bolsonaro, que cercaram o carro, e saiu da unidade sem falar com a imprensa.>
A visita de Michelle foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, após solicitação. Até o momento, apenas médicos e advogados do ex-presidente puderam visitá-lo. Na decisão, Moraes afirmou que a defesa não indicou quais filhos do ex-presidente também pretendem realizar a visita, providência necessária para o cadastramento na PF. “Dessa maneira, deve completar o pedido. Intimem-se os advogados regularmente constituídos”, afirmou o ministro.>
Em seguida, a defesa apresentou pedidos para a entrada de Flávio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Jair Renan.>
Bolsonaro estava em prisão domiciliar desde agosto, medida relacionada a uma investigação sobre a atuação de seu filho Eduardo Bolsonaro para coagir a Justiça por meio da articulação de sanções pelo governo de Donald Trump contra a economia brasileira e contra autoridades do Supremo Tribunal Federal e do governo federal. Eduardo foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e virou réu no STF.>
A prisão domiciliar foi decretada após o descumprimento das medidas cautelares determinadas pela Corte no curso daquele processo, além da alegação, pela Polícia Federal, de risco de fuga.>
Em julho, Moraes determinou que Bolsonaro deveria usar tornozeleira eletrônica e estava proibido de usar redes sociais e de sair de casa de noite e nos fins de semana. O ex-presidente também ficou impedido de conversar com Eduardo.>
Depois, o ministro determinou a prisão domiciliar, alegando que Bolsonaro “ignorou e desrespeitou” as obrigações impostas.>
O que se sabe sobre as 24h antes da prisão>
21/11/2025 - 10h30 >
O ex-presidente recebeu o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em sua casa. O encontro tinha sido autorizado pelo STF.>
21/11/2025 - 14h24 >
A defesa de Bolsonaro protocolou um pedido de “prisão domiciliar humanitária”. Os advogados citaram o histórico de saúde do ex-presidente, argumentando risco de vida.>
21/11/2025 - 16h54 >
O senador Flávio Bolsonaro convoca apoiadores para uma vigília em frente ao condomínio do pai na noite seguinte. >
21/11/2025 - 20h >
Bolsonaro jantou sopa com os irmãos e cunhados, tomou medicação para os soluços e recolheu-se por volta das 22h.>
21/11/2025 - 23h >
A Polícia Federal protocolou um pedido de prisão preventiva, argumentando que a convocação da vigília e o comportamento do ex-presidente representavam risco de fuga e ameaça à ordem pública.>
22/11/2025 - 0h08 >
O sistema de monitoramento detectou uma violação na tornozeleira eletrônica. >
22/11/2025 - 1h08 >
Policiais penais foram à residência e questionaram o ex-presidente, que admitiu ter mexido na tornozeleira com um ferro de solda. >
22/11/2025 - 1h25 >
O Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, emitiu parecer favorável à prisão preventiva.>
22/11/2025 - 2h >
O ministro Alexandre de Moraes determina a prisão preventiva.>
22/11/2025 - 6h00 >
A Polícia Federal cumpriu o mandado de prisão preventiva. >
22/11/2025 - 6h30 >
Bolsonaro chegou à sede da PF em Brasília, onde foi alocado em uma sala especial de 12 metros quadrados (Sala de Estado-Maior), reformada recentemente, equipada com banheiro privativo, cama e ar-condicionado, similar à ocupada por Lula em Curitiba. >
22/11/2025 - 9h40 >
A deputada federal Bia Kicis tentou visitar o ex-presidente na sede da PF, mas teve sua entrada negada. Aos jornalistas, reclamou de perseguição política e injustiça.>