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Ferro de solda em tornozeleira antecipa prisão de Jair Bolsonaro

Ex-presidente diz que estava com alucinações quando tentou violar equipamento e deixou prisão domiciliar, onde estava desde agosto

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 24 de novembro de 2025 às 05:00

Um surto causado por medicamentos para o controle de ansiedade e depressão. Esta foi a explicação dada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para a tentativa de violar a tornozeleira eletrônica, que levou à decretação da sua prisão preventiva na manhã de sábado (22). Na audiência de custódia realizada ontem, o ex-presidente negou que tivesse a intenção de fugir do país, ao contrário do que apontou o ministro Alexandre de Moraes ao determinar a prisão na sede da Polícia Federal no Distrito Federal.

Ex-presidente Jair Bolsonaro está preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília desde o último sábado  Crédito: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Desde a manhã do último sábado, o ex-presidente está numa cela individual de 12 metros quadrados, banheiro privativo, ar-condicionado e aparelho de TV. A decisão judicial também prevê atendimento médico em tempo integral.

Vídeo mostra tornozeleira de Bolsonaro após violação com ferro quente por Reprodução

Embora a prisão preventiva não tenha relação direta com a condenação a 27 anos e três meses de prisão pela tentativa de golpe, é muito provável que Bolsonaro emende o período atual na prisão com o início do cumprimento da pena estabelecida pela Justiça. Os prazos estabelecidos para recursos ainda estão em curso, mas devem se encerrar nos próximos dias. Os advogados de Bolsonaro e outros seis aliados condenados têm até hoje para apresentar novos recursos sobre as penas estabelecidas contra os réus. A defesa do ex-presidente já sinalizou que pretende recorrer.

Na audiência de custódia, realizada na manhã de ontem (23), Bolsonaro reconheceu que mexeu na tornozeleira, mas negou a intenção de fugir. “Depoente [Bolsonaro] afirmou que estava com ‘alucinação’ de que tinha alguma escuta na tornozeleira, tentando então abrir a tampa”, diz a ata da audiência, protocolada pela juíza auxiliar Luciana Sorrentino, que decidiu manter a prisão do ex-presidente. Bolsonaro afirmou que teve uma “certa paranoia” em razão dos medicamentos que tomou.

Ele disse à juíza que começou a utilizar os medicamentos pregabalina e sertralina há cerca de quatro dias e que nunca tinha tido um surto desta natureza antes. O ex-presidente contou que mexeu no equipamento por volta da meia-noite de sexta-feira, mas depois “caiu na razão”, parou de utilizar o ferro de solda e se comunicou com os agentes responsáveis pela sua custódia.

TV, frigobar e ar-condicionado: veja como é a sala onde Bolsonaro está preso por Reprodução/Redes sociais

Na audiência de custódia, ficou definido que Bolsonaro permanecerá preso, considerando que todos os procedimentos da Polícia Federal (PF) foram cumpridos de forma adequada. Hoje, a Primeira Turma do Supremo vai julgar se mantém a decisão de Moraes, ou se revoga a prisão do ex-presidente. A sessão extraordinária está prevista para acontecer entre 8h e 20h. Caso os ministros decidam referendar a decisão de Moraes, a prisão preventiva poderá ser mantida enquanto a Justiça entender que ela é necessária. De acordo com a legislação brasileira, a decisão deverá ser reavaliada a cada 90 dias.

Questionado pela juíza, Jair Bolsonaro, que se apresentou como militar e professor de educação física, negou ter sido vítima de qualquer tipo de abuso ou irregularidade durante a prisão. Ele explicou que sabia usar o ferro de solda utilizado para violar a tornozeleira porque tem curso de operação desse tipo de equipamento e que agiu sozinho.

“O depoente afirmou que estava acompanhado de sua filha, de seu irmão mais velho e um assessor na sua casa e nenhum deles viu a ação do depoente com a tornozeleira”, diz um trecho do documento judicial. “Informou que as demais pessoas que estavam na casa dormiam e que ninguém percebeu qualquer movimentação”.

Movimentação na sede da PF no DF após prisão de Bolsonaro por Valter Campanato/Agência Brasil

O ex-presidente reiterou que não tinha intenção de fugir e afirmou que a vigília convocada pelo seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), não poderia criar tumulto que pudesse facilitar uma hipotética fuga. “Sobre a vigília convocada por seu filho, afirmou o depoente que o local da vigília fica a setecentos metros da sua casa, não havendo possibilidade de criar qualquer tumulto que pudesse facilitar hipotética fuga”, aponta o documento.

Pedido da defesa

A defesa de Jair Bolsonaro pediu ontem ao ministro Alexandre de Moraes que revogue a prisão preventiva. Os representantes de Bolsonaro querem também que o magistrado se pronuncie sobre um pedido de prisão domiciliar humanitária para o momento de iniciada a execução penal da trama golpista, passo seguinte do processo após encerrada a possibilidade de novos recursos.

Moraes deixou de analisar esse pedido por considerá-lo prejudicado após determinar a prisão preventiva no sábado. No pedido deste domingo, a defesa diz que “todas as medidas que vinham sendo impostas por esse d. Ministro Relator [Moraes] já tornavam a possibilidade da suposta fuga algo impossível”.

“Ainda que a tornozeleira parasse de funcionar ou fosse removida – o que não aconteceu – a residência do ex-presidente é vigiada de forma ininterrupta”, afirma. Destacaram também o fato de que a residência de Bolsonaro fica em condomínio fechado, os policiais responsáveis pela vigilância do local impedem a saída do ex-presidente ou a aproximação de qualquer pessoa não autorizada.

Risco de fuga

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso preventivamente porque o ministro Alexandre de Moraes considerou que havia risco de fuga e não existiam mais condições para manter a prisão domiciliar. A decisão citou tanto a tornozeleira eletrônica violada, quanto uma vigília convocada para a noite de sábado (22) pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na porta do condomínio onde o ex-presidente mora.

“O Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal comunicou a esta Suprema Corte a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento eletrônico do réu Jair Messias Bolsonaro, às 0h08min do dia 22/11/2025”, apontou Moraes em sua decisão. “A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho”, completou.

Sobre a “vigília” convocada por Flávio, Moraes pontuou que “embora a convocação de manifestantes esteja disfarçada de ‘vigília’”, a conduta indica o mesmo “modus operandi da organização criminosa liderada pelo referido réu, no sentido da utilização de manifestações populares com o objetivo de conseguir vantagens pessoais”.

“O tumulto causado pela reunião ilícita de apoiadores do réu condenado tem alta possibilidade de colocar em risco a prisão domiciliar imposta e a efetividade das medidas cautelares, facilitando eventual tentativa de fuga do réu”, frisou.

Moraes afirmou no despacho que a ordem deveria ser cumprida “com todo respeito à dignidade” de Bolsonaro e “sem a utilização de algemas e sem qualquer exposição midiática”. A PF disse em nota que cumpriu “um mandado de prisão preventiva em cumprimento a decisão do Supremo Tribunal Federal”.

A decisão de Moraes sobre o ex-presidente foi tomada após a decretação da prisão preventiva do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), também condenado na trama golpista. O parlamentar deixou o país e está nos Estados Unidos. Na manifestação em que pediu ao STF a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, a Polícia Federal mencionou que Ramagem teria fugido do país “com a finalidade de se furtar à aplicação da lei penal”.

Na decisão, Moraes afirmou ainda que havia risco de fuga e mencionou a proximidade da casa do ex-presidente com o Setor de Embaixadas Sul, em Brasília. O magistrado disse que o condomínio onde o ex-presidente cumpria medidas judiciais fica a 13 km da embaixada dos Estados Unidos.

Visita de Michele

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro chegou na tarde de ontem à Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, para visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro, preso preventivamente por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Michelle não estava em casa no momento da prisão. A visita foi autorizada pelo STF, que determinou que apenas advogados regularmente constituídos e pessoas previamente autorizadas podem ter acesso ao ex-presidente.

Michelle se pronuncia após prisão de Bolsonaro por Reprodução/Redes sociais

Sem falas na chegada, ela desembarcou do carro próximo ao prédio principal da sede regional e acenou brevemente para os cerca de 30 apoiadores que aguardavam a chegada dela em frente à unidade da PF. Michelle, que tinha até as 17h para finalizar a visita, deixou a superintendência por volta das 16h54. A ex-primeira-dama acenou para apoiadores de Bolsonaro, que cercaram o carro, e saiu da unidade sem falar com a imprensa.

A visita de Michelle foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, após solicitação. Até o momento, apenas médicos e advogados do ex-presidente puderam visitá-lo. Na decisão, Moraes afirmou que a defesa não indicou quais filhos do ex-presidente também pretendem realizar a visita, providência necessária para o cadastramento na PF. “Dessa maneira, deve completar o pedido. Intimem-se os advogados regularmente constituídos”, afirmou o ministro.

Em seguida, a defesa apresentou pedidos para a entrada de Flávio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Jair Renan.

Bolsonaro estava em prisão domiciliar desde agosto, medida relacionada a uma investigação sobre a atuação de seu filho Eduardo Bolsonaro para coagir a Justiça por meio da articulação de sanções pelo governo de Donald Trump contra a economia brasileira e contra autoridades do Supremo Tribunal Federal e do governo federal. Eduardo foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e virou réu no STF.

A prisão domiciliar foi decretada após o descumprimento das medidas cautelares determinadas pela Corte no curso daquele processo, além da alegação, pela Polícia Federal, de risco de fuga.

Em julho, Moraes determinou que Bolsonaro deveria usar tornozeleira eletrônica e estava proibido de usar redes sociais e de sair de casa de noite e nos fins de semana. O ex-presidente também ficou impedido de conversar com Eduardo.

Depois, o ministro determinou a prisão domiciliar, alegando que Bolsonaro “ignorou e desrespeitou” as obrigações impostas.

O que se sabe sobre as 24h antes da prisão

21/11/2025 - 10h30 

O ex-presidente recebeu o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em sua casa. O encontro tinha sido autorizado pelo STF.

21/11/2025 - 14h24

A defesa de Bolsonaro protocolou um pedido de “prisão domiciliar humanitária”. Os advogados citaram o histórico de saúde do ex-presidente, argumentando risco de vida.

21/11/2025 - 16h54

O senador Flávio Bolsonaro convoca apoiadores para uma vigília em frente ao condomínio do pai na noite seguinte.

21/11/2025 - 20h

Bolsonaro jantou sopa com os irmãos e cunhados, tomou medicação para os soluços e recolheu-se por volta das 22h.

21/11/2025 - 23h

A Polícia Federal protocolou um pedido de prisão preventiva, argumentando que a convocação da vigília e o comportamento do ex-presidente representavam risco de fuga e ameaça à ordem pública.

22/11/2025 - 0h08

O sistema de monitoramento detectou uma violação na tornozeleira eletrônica.

22/11/2025 - 1h08

Policiais penais foram à residência e questionaram o ex-presidente, que admitiu ter mexido na tornozeleira com um ferro de solda.

22/11/2025 - 1h25

O Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, emitiu parecer favorável à prisão preventiva.

22/11/2025 - 2h

O ministro Alexandre de Moraes determina a prisão preventiva.

22/11/2025 - 6h00

A Polícia Federal cumpriu o mandado de prisão preventiva.

22/11/2025 - 6h30

Bolsonaro chegou à sede da PF em Brasília, onde foi alocado em uma sala especial de 12 metros quadrados (Sala de Estado-Maior), reformada recentemente, equipada com banheiro privativo, cama e ar-condicionado, similar à ocupada por Lula em Curitiba.

22/11/2025 - 9h40

A deputada federal Bia Kicis tentou visitar o ex-presidente na sede da PF, mas teve sua entrada negada. Aos jornalistas, reclamou de perseguição política e injustiça.