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Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2017 às 05:01
- Atualizado há 2 anos
Um dia após o “aniversário de desmoronamento parcial”, que se seguiu de um sistemático abandono do poder público, o Centro de Convenções (CCB) terá, na manhã deste domingo (24), um raro momento de atenção. Um protesto, organizado por moradores e membros do trade turístico, promete atrair cerca de 10 mil pessoas para um “abraçaço” ao equipamento, às 9h. >
Passado um ano, ainda não houve a divulgação do laudo que pode esclarecer a causa do acidente e a situação atual da estrutura. Além disso, o governo do estado, responsável pelo espaço, já anunciou que pretende desativá-lo completamente e construir um novo equipamento no Parque de Exposições. >
O grupo defende que o CCB não mude de local, principalmente por ser um vetor socioeconômico para a região do Stiep, Jardim Armação, Boca do Rio e adjacências. Ainda conforme os organizadores, o protesto pode ser uma oportunidade para o governo abrir diálogo com o trade turístico. “É preciso se conduzir para uma saída que não prejudique nenhum setor do trade. Com a saída do Centro de Convenções do Stiep, muitos bares, restaurantes e hotéis irão sair prejudicados”, afirma Glicério Lemos, presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis – Bahia (Abih). Além do laudo técnico sobre o acidente não ter sido divulgado, ainda não há resultado do inquérito policial aberto na 9ª Delegacia (Boca do Rio), onde ninguém foi encontrado para comentar a demora. O laudo feito pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) no mesmo mês do acidente só ficou pronto oito meses depois, em maio deste ano. Segundo o órgão, a morosidade na conclusão se deu porque havia risco para a equipe de peritos. >
Segundo o engenheiro responsável pelo projeto original do CCB, na década de 1970, Carlos Strauch, e que acompanhou os peritos do DPT que trabalharam na produção do laudo (ainda não divulgado), a causa do acidente foi falta de manutenção. “Foram 13 anos em que o Centro de Convenções não recebia reparos na estrutura. Eles só faziam intervenções no aparelho de apoio”, disse Strauch.Ainda segundo ele, os peritos do DPT flagraram que a peça que quebrou – o tirante – diminuiu de tamanho em 70% por conta da falta de manutenção.>
Para o engenheiro, o prédio ainda pode ser utilizado, caso passe por reforma e manutenção regulares. >
Sem notícias Apesar do que diz Strauch, nem mesmo o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA) e o Instituto de Arquitetos do Brasil – Bahia (IAB-BA) conhecem o conteúdo do laudo oficial. Não há obrigatoriedade de que as duas entidades sejam comunicadas sobre o resultado, mas, ainda assim, o próprio Crea solicitou que o governo emitisse um laudo.>
Na época do desabamento, o CORREIO noticiou que a empresa Metro Engenharia e Consultoria realizava reparos na estrutura do CCB de forma irregular, sem autorização da Secretaria Municipal de Urbanismo (Sucom), o que foi levantado como um dos fatores responsáveis pelo desabamento.>
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Justiça trabalhista Se na área cível e criminal pouco ou nada se sabe, o assunto tem andado na Justiça do Trabalho, por conta de uma dívida trabalhista de R$ 50 milhões da Bahiatursa, empresa pública que administrava o Centro de Convenções e era ligada ao governo do estado, pela Setur.>
No último dia 6, uma audiência foi realizada pela 34ª Vara do Trabalho de Salvador, responsável por determinar a penhora do imóvel e por suspender obras no local em novembro de 2016. Com isso, o leilão do atual terreno, anunciado pelo governo do estado, não pode acontecer.>
Como resultado, a audiência abriu a possibilidade de o governo poder voltar a realizar obras de reparo na estrutura. O perito nomeado para verificar se manter o imóvel sem obras poderia comprometer a estrutura ou se havia risco de desabamento, Helder Araújo Andrade, pediu destituição do caso.>
Ele afirmou que buscou contratar um especialista na área de estruturas metálicas, alicerce utilizado no equipamento, para que o profissional acompanhasse a perícia e emitisse um parecer específico, e não conseguiu. “Há uma necessidade de um acompanhamento de um especialista na área de estruturas metálicas para que este, em sua especialidade, realize as devidas análises e cálculos estruturais para melhor conclusão e auxílio do Juízo e resolução da problemática”, disse.>
Leia também: CORREIO flagra série de roubos de materiais do Centro de Convenções>
Na audiência, realizada pela juíza Ana Paola Santos Machado Diniz e com representantes da Secretaria de Administração do Estado (Saeb) e do procurador do Estado Frederico Augusto Valverde Oliveira, foi indicado que o engenheiro civil Luiz Alberto Nolasco e os arquitetos Fernando Faria de Almeida e Abel Travassos assumam a perícia. Os dois primeiros trabalharam na Bahiatursa.>
Os indicados tinham até a última sexta-feira (22) para analisar a documentação apresentada pelo Estado, que sustenta que o CCB deve passar por obras. Neste sábado, eles não foram localizados para comentar o assunto.>
A audiência também determinou que o CCB fosse vistoriado na última segunda (18) pelos assistentes técnicos da obra, além do superintendente de patrimônio da Saeb, José Anísio Leal Costa, e pelo especialista em obras públicas e fiscal de obras Rafael Cerqueira de Oliveira.>
O laudo validando, ou não, as providências sugeridas pelo Estado será apresentado até a próxima quinta (28). As partes têm até 6 de outubro para se manifestar. As obras poderão voltar, caso o laudo esteja de acordo com as providências sugeridas pelo Estado. >
MP-BA acompanha Além da Justiça do Trabalho, o Ministério Público do Estado (MP-BA), através do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa (Gepam), também acompanha o caso e está apurando o acidente que completou um ano esta semana.>
Segundo informou o MP-BA, por meio da assessoria de comunicação, um procedimento foi instaurado para apurar se houve ação ou omissão do poder público que tenha contribuído para ocasionar o desabamento no equipamento, que aconteceu no dia 23 de setembro do ano passado.>
“O procedimento encontra-se em fase avançada, aguardando a conclusão das perícias realizadas pela Central de Apoio Técnico (Ceat) do MP-BA para sua finalização”, explicou o órgão, em nota.>