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Da Redação
Publicado em 10 de dezembro de 2021 às 08:00
- Atualizado há 2 anos
Se você tivesse que pagar pelo lixo que joga fora, tentaria diminuir a quantidade de material descartável? Atualmente, apenas 9 cidades baianas fazem a cobrança pelo manejo de resíduos sólidos urbanos, o que representa 2,1% dos 417 municípios. O novo Marco do Saneamento, aprovado no ano passado, prevê a obrigatoriedade da cobrança escalonada para coleta e tratamento do lixo gerado nas residências. >
A implementação da cobrança de resíduos sólidos produzidos por domicílios foi tema do Seminário Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável da Gestão de Resíduos Sólidos no Estado da Bahia, realizado nesta quinta-feira (9), no Hotel Fiesta, em Salvador. Um dos principais pilares que norteiam a cobrança são a proporcionalidade, na qual quem polui mais deve pagar um valor mais alto.>
Especialistas acreditam que a medida é necessária porque o setor atualmente não é sustentável financeiramente e nem ambientalmente Além disso, há esperança de que, quando a medida pesar no bolso, a sociedade desenvolva uma maior conscientização sobre a importância da reciclagem e, ainda, diminua a grande quantidade de lixões que existem no país. Apesar de proibidos desde 1954, ainda existem cerca de 300 espalhados pela Bahia.>
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“O marco legal veio trazer uma obrigatoriedade para a cobrança dos serviços pelo usuário, tal qual ocorre com a água, esgoto, gás e energia elétrica. Porque esse serviço é uma utilidade econômica domiciliar testado na casa das pessoas assim como os outros”, explica Márcio Mateus, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb). >
Ele explica que como o marco é um imperativo legal,os gestores municipais serão obrigados a cobrar pelo manejo, que poderá ser feito por meio de taxa ou tarifa, se não podem responder por improbidade administrativa. O sistema deve ser universalizado até 2033, segundo a proposta aprovada no ano passado. Esse seria o tempo necessário para que estados e municípios estudem e passem a exercer a cobrança.>
“O Poder Executivo não é para operar, é para fazer políticas públicas, pensar e estruturar soluções. Prefeitos não devem ficar preocupados com caminhão que recolhe resíduos, aterro e volume de pessoal. Estamos fazendo aqui uma cruzada pelo país levando informação qualificada, para que os gestores possam se direcionar”, completa. Márcio Mateus defende que a implementação do Marco Legal do Saneamento deve ser pensada através da regionalização e parcerias com o setor privado. >
Lixões ainda são grande problema na Bahia>
Dos 417 municípios baianos, 286 ainda possuem lixões, o que representa mais de 65% do total de cidades. Enquanto isso, apenas 47 deles possuem aterros sanitários. O superintendente da Sotero Ambiental, Carlos Neto, ressalta que o fator econômico é uma das dificuldades para que o descarte incorreto de lixo seja banido no estado: “Uma das questões é saber de onde vem o recurso para dar suporte à construção de um aterro, por exemplo. O novo marco trouxe uma metodologia para essa cobrança, o município deve ser responsável pela geração desse resíduo”. >
O superintendente regional de tratamento e regionalização da Sotero Ambiental, Bruno Tiaky, lembra que o saneamento básico não é apenas tratamento de água, mas envolve o plano de descarte de resíduos. “Ele está dentro desse arcabouço também do saneamento e o marco de saneamento ele preconiza a universalização e o acesso ao serviço. Os mecanismos de como fazer isso”, explica. >
Márcia Cristina Telles, secretária estadual do Meio Ambiente, também esteve presente no evento e destacou que a gestão de resíduos sólidos urbanos não é uma tarefa fácil e que, por isso, deve ser pensada coletivamente. “São etapas complexas como a coleta, o transporte, o armazenamento, tratamento e disposição final. Precisa ser uma gestão, com parceiros que consigam implementar e dar sustentabilidade à gestão”, afirma a secretária.>
Para além das parcerias entre gestão e empresas privadas, o seminário ressaltou a importância de cada indivíduo se conscientizar a respeito do seu descarte domiciliar. “Do jeito que a situação está hoje, quem gera menos resíduo subsidia quem descarta mais”, destaca Carlos Rossin, diretor de Sustentabilidade da Selurb. Outro ponto debatido e frizado entre os participantes, é que pessoas de baixa renda devem pagar menos ou serem isentas da cobrança. >
“O Marco do Saneamento traz conceitos que ainda não permearam os municípios, então eventos como esses são importantes para que a legislação seja apresentada e a compressão seja facilitada para o gestor municipal”, diz Carlos Silva, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).>
O Presidente do Conselho de Administração da Rede Bahia, Antônio Carlos Júnior, também esteve presente no evento na tarde desta quinta-feira e falou sobre a importância das discussões propostas: “É um debate essencial, que atrai prefeituras das cidades baianas. Além de ser muito atual, as medidas vão melhorar a salubridade dos municípios e são pontos base da sustentabilidade e meio ambiente”. >
Já João Gianesi, presidente da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos (Ablp), foi um dos que frisou que a fiscalização deve ser bem elaborada para garantir que as medidas tenham efeito até, no máximo, o prazo de 2033. “Não temos soluções definitivas; temos estudos e o mercado vai se ajustar. Não adianta fazermos planos se não houver fiscalização de um órgão ambiental”, defende. >
O superintendente do Tribunal de Contas do Estado, José Raimundo Bastos, explica que a fiscalização da cobrança compete ao ente federativo: “O Tribunal de Contas atuaria em termos de auditoria e verificação, para saber se o estado está fazendo a cobrança da forma que a norma estabelece”. >
Também estiveram presentes no evento Ananda Teixeira, secretária estadual de Desenvolvimento Urbano, Marise Prado, secretária municipal de Ordem Pública, Leonardo Silva, economista da Selurb; além de representantes de municípios baianos como Vitória da Conquista, Prado e Alcobaça.>
“Nós temos que pensar na nossa geração. Estamos sendo impactados por decisões que tomamos no que tange o meio ambiente”, evidenciou Luiz Gonzaga, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre), ao final do seminário.>
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo. >