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Após se envolver em escândalo, travesti da Barra vira celebridade

Thaynna se envolveu no caso que culminou na renúncia de governador em Roma

  • D
  • Da Redação

Publicado em 29 de outubro de 2009 às 11:38

 - Atualizado há 2 anos

Ela sempre gostou de boneca. Tem alma de artista. Nas praias da Barra seu corpo ganhou cor e forma. Mas, apesar de ter feito muitos shows nas boates da Rua Carlos Gomes, somente na Europa conseguiu ganhar seus tão sonhados 15 minutos de fama. Nascida e criada na invasão Roça da Sabina (Salvador), a travesti baiana Thaynna (pronuncia- se Tchaina), que foi envolvida em escândalo sexual que culminou na renúncia do governador da região do Lazio (Roma/Itália), Piero Marrazzo, transformou-se em uma celebridade.

Na quarta-feira (28), foi entrevistada pelas redes internacionais de notícias CNN e BBC, onde deu suas explicações sobre o caso. Em sua casa - própria - no bairro Due Ponti (Roma), assistiu novela - “tenho Globo Internacional” - e confessou que, além do governador italiano, já fez programas com pelo menos dois jogadores brasileiros famosos. “Transei sim com dois ou três jogadores famosos. Mas não vou revelar quem são. É a minha privacidade”.

Após a repercussão, ela comentouquealguns clientes ligaram preocupados. “Mas não tem essa de revelar. Sou uma bicha discreta. Não dou lista dos nomes das pessoas importantes com que me relacionei”, brincou a sempre bem-humorada travesti.

TEATRO Há dez anos vivendo do outro lado do oceano, o sucesso da travesti nem de longe lembra os tempos em que penava por um lugar ao sol nas terras soteropolitanas. Sempre se encantou com os aplausos das plateias. “Desde pequena ela se destacou. Adorava pegar as bonecas das sobrinhas menores para brincar. No colégio, adorava fazer peças de teatro e se realizava quando subia ao palco”, conta a irmã Altamira Menezes Vasconcelos, com quem o irmão não fala há algum tempo.Motivo: rusgas de família.

O sonho de ganhar o mundo sempre fez parte dos planos de Thaynna, que foi batizado há 36 anos como Edson Menezes Vasconcelos. Avesso aos estudos, apesar de ter concluído o segundo grau, ele fugia das aulas para bater papo com turistas pelas ladeiras do Pelourinho, onde fica o Colégio Azevedo Fernandes. Thaynna também era fã do cantor de Edson Cordeiro, com quemse encontrou pelo menos uma vez. “Ela fugia da sala para ver as gravações da minissérie Dona Flor. Adorava ver câmeras, luzes. Ela aproveitou que estava no Pelô e algumas aulas de turismo e danou a aprender outras línguas. Ela é danada de esperta”, lembrou uma prima da travesti, que pediu sigilo de identidade.

MARQUINHA No começo da adolescência assumiu sua homossexualidade, mas sempre se preservou diante dos familiares. “Ela gostava de ir à praia de biquíni, mas nunca vinha para casa vestida de mulher. Mas a marquinha entregava!”, conta uma tia da travesti, que pediu para não ter o nome divulgado. Apesar de piadinhas dos vizinhos e de alguns familiares, a orientação sexual da travesti nunca foi barreira na comunidade. “Desde sempre todos sabiam que Edson era gay, mas a alegria dele sempre foi maior do que isso. Ela sempre chamava a atenção por onde passava. Tem alma de artista mesmo”, resumiu o primo Gilmar Batista, que trabalha como modelo.

GANHA-PÃO Para ganhar a vida, Thaynna aprendeu - sozinha - a cortar, trançar e alisar cabelos. Era o ganha-pão para quando os shows nas boates estavam em baixa. “Ela tinha cliente que vinha de Ondina. Meu irmão sempre teve alma de menina, desde pequeno”, lembra Altamira. Antes de curtir o clima da Itália, a travesti chegou a morar em Paris, Amsterdã e Zurique. Para chegar à Europa, ela não preparou a família. “A louca bateu na janela e gritou: Tô indo para a Europa amanhã. Quase infartamos. Ela disse que um amigo conseguiu e no outro dia foi embora”, lembra a prima Vanda dos Santos Vasconcelos.

Sobre o que pretende fazer se retornar a Salvador a travesti, não quer voltar às escovas e alisamentos. Política? “Tenhochance(demeeleger). Conheço as coisas de Salvador e tenho prática na política italiana”, brinca.

‘Fui presa mais de 20 vezes por policiais corruptos’Os dez anos em Roma não foram fáceis para Thaynna. Antes da fama, também sofreu com as investidas de policiais corruptos - segundo ela, os mesmo que foram detidos após chantagear o ex-governador da região de Roma. “Foram todos presos. Mas foram anos de inferno. Eram corruptos e entravam nas casas das transexuais para extorquir e roubar. Podiam mandar até matar”, denuncia.

A baiana conta que já foi até presa. “Eu mesma fui presa mais de 20 vezes. Sofri maus-tratos. Tinha medo de denunciar (por ser ilegal). Eu também era uma das vítimas deles. Consegui me livrar. A polícia honesta não incomoda a gente. Aqueles eram marginais”. De acordo com a agência italiana Ansa, os quatro policiais, Luciano Simeone, Antonio Tamburrino, Carlo Tagliente e Nicola Testini, foram presos sob acusações de extorsão, violação de privacidade e invasão de domicílio. Eles se defendem e dizem que houve uma conspiração política contra Piero Marrazzo (ex-governador do Lazio desde terça-feira), da qual também teriam sido vítimas.

As travestis darão depoimentos e poderão ser acusadas de extorsão, já que não estaria claro se agiram com os policiais. “Não tenho nada com essa investigação. E não sou líder nem comando nada aqui. Sou amiga de todo o mundo”, defende-se Thyanna que também costuma registrar no celular os encontros. Segundo ela, os clientes pedem para ver. “Homem gosta de se ver fazendo ousadia”, contou.

Na quarta-feira (28), ela tirou o dia para descansar, se preparando para o fim de semana - que promete. “Tem Halloween. Vou trabalhar numa senhora discoteca. A mais poderosa de Roma: a Muca Assassina”, esbanja. Embora tenha negado ontem por telefone a um programa de televisão baiano saídas com o ex-governador, Thyanna contou ao CORREIO na terça-feira que foram duas vezes: “Em uma, ele pagou cinco mil euros e na outra vez oito mil euros. Ele dava tanto dinheiro. Minha casa está toda equipada”.

Inquérito já ouviu cinco brasileirosCinco travestis brasileiros já foram ouvidos no inquérito na Justiça italiana que apura a extorsão ao ex-governador da região do Lazio/Roma, Piero Marrazzo, flagrado em vídeo com um travesti. Além de esclarecer o caso envolvendo o político, o inquérito tem mais dois objetivos: descobrir se há outras vítimas dos policiais responsáveis pela chantagem a Marrazzo e apurar quem forneceu a cocaína encontrada no apartamento onde o ex-governador foi flagrado.

De acordo com os jornais italianos, os responsáveis pelo inquérito receberam a informação de que haveria mais um vídeo, que também serviria para chantagem, e buscam localizá-lo. Os investigadores apuram ainda se há ligação entre os travestis do bairro de Cassia, onde fica o apartamento onde Marrazzo foi flagrado, e os policiais acusados de chantagem, o que poderia indicar a existência de outras vítimas de extorsão. A Justiça italiana investiga também a possível conexão entre os estrangeiros da área e o tráfico de drogas.

ENTENDA O CASO

O FLAGRANTE No começo de julho, dois policiais invadem apartamento, filmam o político só de camisa, um travesti deitado e cocaína sobre a mesa.

A CHANTAGEM Além de ficarem com cinco mil euros que o então governador PieroMarrazzo levava para pagar o programa, os policiais pedem mais 80 mil euros para não divulgarem o vídeo comprometedor.

O VAZAMENTO Há duas semanas, o vídeo começa a chegar a veículos de comunicação. A partir de outra investigação, o Judiciário descobre a chantagem.

O ESCÂNDALO Semana passada, quatro policiais são presos pela extorsão e o caso se torna público.

O BARRACO Apontado como o travesti que estava com o governador, a brasileira Natalie confirma relação com Marrazzo, mas nega envolvimento no caso e acusa outra brasileira, Brenda, de ter armado o flagrante. A baiana Thaynna, líder do grupo de travestis da área, sai em defesa de Brenda e acusa Natalie.

A RENÚNCIA Terça-feira, acuado pelo escândalo, Marrazzo pede demissão do cargo de governador.