Autores de chacina de Portão roubaram e ameaçaram motorista de aplicativo

'Ele olhou para mim e disse: ‘Você está armado, né? Apaga ele, apaga ele'

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  • Bruno Wendel

Publicado em 20 de maio de 2019 às 16:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Dois dos três mortos pela polícia suspeitos de participação na chacina de Portão foram reconhecidos como autores do roubo de um Fiat Siena de cor bege na sexta-feira (17). O veículo era usado para fazer transporte de passageiros por aplicativos  e tem as mesmas características do carro usado pelos homicidas no sábado (18), quando cinco inocentes foram assassinados – três deles de uma mesma família. 

O dono do Siena roubado e motorista do aplicativo reconheceu Robson Rodrigues dos Santos, 27 anos, um dos três baleados e mortos no confronto com a polícia, como sendo o bandido que ameaçou matá-lo ao suspeitar que ele era policial.“Ele olhou para mim e disse: ‘Você está armado, né? Apaga ele, apaga ele’. Foi aí que um outro (bandido) disse: ‘Não, não. Ele já disse que é motorista de Uber’”, contou Fernando (nome fictício) à delegada Andréa Arrais, titular da 34ª Delegacia (Portão), na manhã desta segunda-feira (20).  A vítima do roubo reconheceu Robson após comparar a foto do bandido morto com a imagem do banco de dados de criminosos da polícia. Ele também identificou visualmente um outro bandido morto pela polícia acusado de envolvimento na chacina. “Esse aqui (apontando para a foto) foi quem pediu a corrida”, disse ele, ao olhar para a imagem dos outros dois mortos no confronto com policiais. 

Porém, as fotos do banco dos outros dois bandidos não estão atualizadas, impossibilitando, temporariamente, identificá-los. Foram também mortos pela polícia: Lucas Conceição de Santana, 21, e Eduardo de Jesus, 22. Com os três criminosos os policiais encontraram duas pistolas calibre 9mm, mesmo tipo de arma utilizada nas mortes, e um revólver calibre 38.

O carro usado no crime ainda não foi localizado. No entanto, policiais civis e militares da região concentram nesse momento em buscas por um carro com as mesmas características do usado na chacina, promovida por integrantes da facção Bonde do Maluco (BDM). No dia, eles aproveitaram a ausência das lideranças do grupo arquirrival Comando da Paz (CP), para atacar.  Motorista foi prestar depoimento (Foto: Marina Silva/CORREIO) Roubo Ainda amedrontado, Fernando esteve na manhã desta segunda-feira na 34ª Delegacia (Portão), onde foi ouvido pela delegada Andréa Arrais por cerca de pouco mais de uma hora e meia. Ele disse que na sexta-feira, por volta das 18h, atendeu a um chamado, e o rapaz (um dos bandidos que foram mortos pela polícia no dia seguinte) entrou em seu Siena no Largo do Caranguejo. “No meio do trajeto, ele pediu para ir pelo Jardim das Margaridas para pegar uns amigos. Então, fiz o que pediu”, contou o motorista.

Quando chegou na Rua Recreio dos Bandeirantes, o motorista parou a pedido do passageiro para pegar outras duas pessoas (Robson e um comparsa). Apesar da escuridão e o local deserto, sequer passava pela cabeça de que dele poderia estar em apuros. Ao chegar nas imediações do Motel Premium, um dos bandidos que estava no banco detrás lhe aplicou uma gravata, enquanto o carona exibiu a arma e o mandou parar. 

Na delegacia, Fernando disse que estava muito nervoso, que não sabia identificar a posição de cada um quando todos ainda estavam dentro do carro, mas, ao saírem, com a melhora da visibilidade, pôde observá-los melhor. “Este aqui (referindo-se à imagem de Robson) queria me matar, achando que era da polícia”, contou. Os bandidos acabaram abanando no local Fernando, que nada sofreu, a não ser o abalo psicológico. “Preciso trabalhar, mas depois dessa, não sei”, declarou. 

Placa O Siena bege usado pelos criminosos estava com uma placa com as iniciais JLA – carro de Fernando, ano 2010, já tinha a nova placa, a do Mercosul. “No entanto, é comum os bandidos alterarem a placa para evitar a identificação”, disse a delegada André Arrais. A titular da 34ª DP contou que o grupo tem praticado uma série de roubos de veículos. “Muito provavelmente para efetuar outras ações criminosas. Em seguida, acabam abandonado um carro. Às vezes eles queimam (o carro)”, declarou.