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Azulejos da Igreja de São Francisco serão restaurados

Trabalho poderá ser acompanhando por visitantes; investimento é de R$ 2,9 milhões

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Amorim
  • Gabriel Amorim

Publicado em 31 de janeiro de 2020 às 05:30

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Um dos espaços mais visitados pelos turistas que vão ao Pelourinho, em Salvador, impressiona por diversas razões: o tamanho, a imponência, a riqueza de detalhes. Mas, sobre os painéis de azulejos da Igreja de São Francisco, que datam de 1742, também chama a atenção um outro aspecto - a ação implacável do tempo. A boa notícia é que, a partir de agora, eles serão restaurados diante dos olhos dos visitantes.

As cerca de 30 mil peças em azulejaria portuguesa que compõem os 110 painéis do claustro continuam a contar, em imagens, passagens bíblicas. Mas, há peças desgastadas, apagadas e até danificadas. O restauro dos azulejos será feito com verba do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), do governo federal, da ordem de R$ 2,6 milhões. O edital que contempla o restauro das peças inclui outros três projetos (veja ao lado).

O projeto estava pronto desde o segundo semestre de 2017. Naquele ano, o CORREIO mostrou que os azulejos descascavam, mesmo depois de uma obra de restauro feita por uma empresa portuguesa, há cerca de 20 anos. Apesar de pronto para ser colocado em prática, o projeto seguia parado, aguardando recursos para sair do papel, o que só aconteceu agora, com a aprovação no edital do FDD. 

Segundo informações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que tombou a Igreja e o Convento de São Francisco em 1938, as obras devem ser iniciadas na próxima semana. A previsão de conclusão é de 18 meses. Neste projeto, serão contemplados os painéis do claustro, que ficam na área externa da igreja. Assim, serão restaurados 110 painéis com 550 m² de área total. A obras da área interna não foram contempladas no projeto vencedor do edital. Painéis representantam passagens bíblicas (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Ao todo, 30 mil peças de azulejo serão restauradas. O processo, segundo o Iphan, é dividido em etapas. Primeiro, os pedaços serão retirados da parede, mas não sem antes marcações serem feitas para garantir o retorno ao mesmo lugar. Depois de retirados, os azulejos passam por um processo de dessalinização.“O grande problema é a presença do sal, que reage com a umidade e acaba sendo expulso, danificando o desenho”, explica Mário Vítor Bastos, coordenador do PAC - Cidades Históricas do Iphan na Bahia.Ainda segundo Mário, essa primeira etapa deve durar em torno de 40 dias para cada uma das peças de azulejo, a depender da quantidade de sal a ser retirada. O próximo passo é a restauração, propriamente dita, dos desenhos nos azulejos. “A duração dessa etapa já é mais incerta, vai depender do estado de conservação, que pode ser diferente para cada parte”, completa.

Trabalho educativo Durante o período de restauro das peças, o claustro seguirá aberto para visitação do público. A intervenção acabará se transformando em uma ferramenta de educação. É que todo o processo de dessalinização e restauro acontecerá no pátio da própria igreja e poderá ser acompanhada pelos visitantes.“A ideia é mostrar o trabalho que está sendo feito, que os visitantes possam acompanhar e entender o processo e a necessidade do cuidado”, diz o representante do Iphan.Sensações Quem passeia pela igreja e observa os azulejos que viraram atração turística percebe a necessidade de restauro. É o caso do guia Carlos Thiago, 32 anos, que conduz grupos ao passeio quase diariamente. “Quando chegam aqui, as pessoas ficam deslumbradas, encantadas. Mas, ficam tristes ao mesmo tempo, pelo abandono. As pessoas ficam muito emocionadas. Você não encontra um espetáculo como esse em todo lugar”, diz.  Um total de 30 mil peças serão restauradas (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Vinda dos Estados Unidos, para passar férias no Brasil, Elizabeth Luddington, 41, foi uma das que experimentou a mistura de sensações. “É lindo, a gente sente paz ao entrar aqui. Mas é triste ver que um patrimônio desses não está bem cuidado”, avalia.“Parte da história da cidade está simbolizada aqui. Cada pedaço é um pedaço de história. E é muito triste ver parte da nossa história virando pó. O povo que não tem história não consegue amadurecer como nação”, diz o turista carioca Paulo Medeiros, 45.O paranaense Leandro Taras, 26, ficou tão encantado que quer voltar para trazer os pais e fazer a mesma visita que ele fez com a namorada e a filha. “Quando eu entrei na igreja e vi todos aqueles detalhes, todo o dourado, é muito bonito. Faz parte da história do Brasil, tem que ser preservado. É um pouco triste ver que esses prédios não estão sendo conservados como deveriam, é a história que se perde. Muito importante que vai ser restaurado. A vontade é voltar depois trazendo mais gente”, comenta.

Os responsáveis pela igreja foram procurados, mas não puderam atender à reportagem até o fechamento da edição. Para visitar a Igreja, que também é conhecida como ‘Igreja e Ouro’ e que abriga ainda um museu, é preciso pagar uma taxa de R$ 5. A Igreja de São Francisco funciona das 9h às 17h30 - nas segundas e de quarta a sábado. Nas terças-feiras, dias em que há missa, a visitação funciona das 9h às 14h30. Aos domingos, das 13h às 17h.

Igreja integrou programa da contrarreforma A Igreja de São Francisco começou a ser construída ainda em 1708 e a obra foi concluída em 1742. A construção é pioneira em algumas das mudanças realizadas nas construções religiosas da época.

“É uma das primeiras igrejas aqui de Salvador a integrar o programa da contrarreforma católica do século XVI, que focou no culto às imagens, o que  os protestantes rejeitaram”, explica a historiadora Maria Helena Flexor, associada ao  Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Azulejos restaurados são os do claustro da Igreja de São Francisco; são 110 painéis (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Autora de um livro sobre a igreja, a historiadora conta que a construção passou por sua primeira reforma ainda entre 1926 e 1930, antes do tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o que ocorreu em 1938.“Foi reformado por dentro, mas mantendo características da arquitetura. As principais mudanças foram no altar nobre. A imagem com São Francisco e Jesus foi colocada no lugar do Jesus crucificado”, explica ela. Antes da conclusão da reforma, a imagem do artista Pedro Ferreira ficou exposta na Rua Chile, até que fosse levada para seu lugar no altar. A especialista conta, ainda, o que levou a igreja a ser tão ‘dourada’, o que faz com que seja chamada, ainda hoje, de ‘Igreja de Ouro’.

“Não é ouro de verdade. É uma folha fina colocada sobre a madeira. Os revestimentos são influência da Europa. No caso dos azulejos, o resto da Europa costumava usar mármore. Os azulejos, então, eram usados para proteger os muros e, ao mesmo tempo, para decorar e passar mensagens”, explica.

Edital contempla mais três projetos na Bahia As obras nos azulejos da Igreja de São Francisco fazem parte de um total de 20 projetos, em todo país, aprovados em edital do Fundo de Direito Difusos (FDD). Serão quase R$ 73 milhões em investimentos do FDD para oito estados brasileiros. Na Bahia, além da igreja, outros três projetos foram contemplados por recursos do fundo - R$ 19,2 milhões em investimentos, em ações coordenadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

Coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, o FDD reúne recursos provenientes de condenações judiciais, multas e indenizações para a reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Além da recuperação dos painéis de azulejaria, foram aprovadas o restauro e implantação da Biblioteca Anísio Teixeira, em Salvador; o restauro da Biblioteca Juracy Magalhães Júnior, em Itaparica; e o restauro do Casarão da Filarmônica Terpsícore Popular, em Maragogipe. Entre as peças que serão recuperadas estão algumas bastante danificadas (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A nova biblioteca Anísio Teixeira, gerida pela Fundação Pedro Calmon, vinculado à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, funcionará em dois prédios na Avenida Sete de Setembro. O investimento é de R$ 7,5 milhões.

Com as obras, o local contará com sala de exposição temporária, setor de empréstimo e periódicos, videoteca, salas multiuso, sala de estudos individuais, setor de estudo, pesquisa e referência, setor infantil e auditório. O pátio externo funcionará como espaço de convivência para atividades culturais e educativas, além de abrigar um café. 

Já em Itaparica, a biblioteca Juracy Magalhães Júnior, também administrada pela Fundação Pedro Calmon, receberá quase R$ 6 milhões para obras de restauro, climatização e acessibilidade. O prédio abriga acervo idealizado pelo General Juracy Montenegro Magalhães, que doou parte de sua biblioteca particular, originando o conjunto composto por 25 mil obras. Estão a implantação de sistema de climatização, de combate a incêndio, construção de novas edificações para abrigar uma guarita e áreas técnicas e administrativas. 

Por fim, foi contemplado o restauro do edifício que sedia a Filarmônica Terpsícore Popular, com R$ 3,1 milhões. Fundada em 1880, a orquestra ocupa, desde 1957, um sobrado histórico. O restauro do prédio tem como foco a valorização das atividades musicais da Filarmônica, criação de uma biblioteca de partituras musicais e implantação de acessibilidade. 

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier