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Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2022 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
“Por que não viria se tenho direito e capacidade?”. Essa foi a frase que Elsa Maria dos Santos repetiu algumas vezes na manhã de domingo (2) na Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba), no Canela. A pergunta era direcionada aos curiosos da sua seção eleitoral que queriam saber o motivo da senhora, aos 100 anos de idade, ainda sair do conforto de casa para votar. A aposentada foi aplaudida logo após sair da cabine de votação e parabenizada pelos mesários da sala. Como ela, existem outros 12.839 eleitores centenários no estado, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). >
O voto não é obrigatório no país para maiores de 70 anos. Mesmo assim, não foi difícil encontrar idosos como dona Elsa Maria fazendo questão de exercer a democracia. Por estar próximos de bairros como Graça e Barra, que já são conhecidos por terem moradores com mais idade, o campus da Ufba no Canela acaba concentrando eleitores idosos. Desde o início da semana, a centenária Elsa já estava se preparando para votar e até pintou o cabelo para ocasião. Em todas as eleições, a neta Soraia acompanha a avó (Foto: Maysa Polcri/CORREIO) “Eu sempre trago ela para votar e para mim é uma festa porque eu sei que para ela é esse momento é muito importante. Ela se diverte e eu fico muito feliz”, disse Soraia Rendall, 54, neta de dona Elsa que a acompanhou durante a votação. Para escolher seus candidatos, Elsa Maria conta que assiste televisão e fica bem informada. “Eu vejo as coisas pela televisão e às vezes a gente fica sem saber em quem votar, mas acho que escolhi os melhores e que merecem”, afirmou logo após o voto. >
Tradição familiar>
Para a família Andrade, o momento da votação sempre foi muito importante e no domingo não foi diferente. Laudelina Amaral Andrade, de 99 anos, compareceu para votar na companhia do filho Luiz Gonzaga do Amaral Andrade, de 80 anos. A mãe, que andava com o auxílio de uma bengala, disse orgulhosa que não deixou de votar em nenhuma eleição ao longo da vida, exemplo para o filho, que repete a tradição. >
“Meu pai faleceu aos 106 anos e nunca deixou de comparecer em uma eleição, mesmo aquelas plebiscitárias. Ele achava muito importante exercer o direito ao voto, afinal, é uma arma poderosa você escolher seus dirigentes. Tanto meu pai como minha mãe sempre foram muito patriotas”, disse Luiz Gonzaga. Ele também possui uma ligação íntima com a política baiana e foi diretor geral de Ensino no estado na segunda gestão do governador Antonio Carlos Magalhães. >
Dá para ter noção da importância do voto da terceira idade olhando para os números. Na Bahia, cerca de 1 milhão de baianos com mais de 70 anos estão aptos para votar, o que representa 9,2% de todos os eleitores do estado. Somente entre a faixa etária de 85 a 89 anos, são 95 mil eleitores, mais do que os que vão votar pela primeira vez aos 16 anos, que somam 69 mil pessoas. >
A idade avançada não impediu que Guiomar Galvão Gonçalves, de 77 anos, fosse sozinha votar logo cedo no Pavilhão de Aulas Reitor Heonir Rocha, na Ufba. “Graças a Deus eu me movimento bem só, faço tudo o que quero e nas eleições é assim também”, falou em tom de brincadeira enquanto procurava o local da sua seção eleitoral. A perseverança é tradição familiar e o apreço pela política corre nas veias da família, afinal o trisavô de Guiomar é José Gonçalves Dias, que governou a Bahia a partir de 1890.>
Primeiro voto>
Nesta eleição, mais de 177 mil jovens eleitores de menos de 18 anos estavam aptos para votar. Eles representam 1,5% de todos o eleitorado e muitos tiraram o título de eleitor sem obrigatoriedade por conta das campanhas feitas em redes sociais. Samilly de Jesus dos Santos, de 16 anos, faz parte do grêmio estudantil da escola que frequenta, o Colégio Estadual Senhor do Bonfim, nos Barris. A jovem Samilly votou pela primeira vez e conta que foi impactada pelas campanhas da internet (Foto: Maysa Polcri/CORREIO) Antes de votar, ela acompanhou o colega da mesma idade no Colégio Mário Augusto Teixeira de Freitas, na Mouraria, e contou à reportagem sobre o poder que acredita que o voto tem. “Eu decidi votar por uma necessidade, os atos do governo refletem em toda nossa família e amigos. Nós, como adolescentes, sentimos a importância de votar e assim ter um pouco de voz”, disse. Para Samilly, a conscientização veio através da internet. >
“Eu não assisto televisão, então fui muito conscientizada da importância do voto pela internet. Muitos jovens que têm acesso às redes sociais acabaram sendo influenciados”, contou a adolescente. Se grande parte dos colegas de Samilly foram às ruas para escolher seus candidatos na urna, os amigos de Bernardo Carvalho de Freitas , 16, não seguiram o mesmo caminho. Aos 16 anos, Bernardo votou pela primeira vez acompanhado da mãe (Foto: Maysa Polcri/CORREIO) O jovem foi votar em companhia da mãe pela primeira vez nas primeiras horas de domingo. Para Bernardo, que tirou o título em maio deste ano, o ato é uma forma de defender seus ideais. A urna eletrônica não foi novidade, já que ele acompanhou a mãe em algumas votações quando mais novo. Apesar disso, Bernardo confessa que dessa vez teve um gostinho diferente: “Eu vim votar porque preciso defender o que acredito e me importo com o futuro do país [...] Votar foi massa e vou vir sempre a partir de agora”.>
*Com orientação de Monique Lôbo.>