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Baixa dos Sapateiros: ponto comercial tradicional de Salvador morre pouco a pouco

Em 2000, a Baixa dos Sapateiros tinha mais de 700 pontos comerciais; hoje, o número caiu para 400. Comerciantes dizem que falta de planejamento diminuiu fluxo de pessoas

  • D
  • Da Redação

Publicado em 25 de abril de 2011 às 08:48

 - Atualizado há 2 anos

Alexandre Lyrio | Redação CORREIO A máquina “remendona” é a mesma de 40 anos atrás. Por isso, além de consertar calçados e bolsas, Otílio Nascimento, 57 anos, usa sua Singer 29K-71 para costurar a esperança em dias melhores. Pela forma artesanal que realiza o ofício, cercado de velhos calçados e outras tralhas, parece que o tempo congelou no pequeno espaço em que trabalha Tilinho, apontado como o último sapateiro da Baixa dos Sapateiros.

Baixa dos Sapateiros já não é mais dos sapateiros há tempos. Aliás, nem dos sapateiros nem de ninguémA verdade é que não só Tilinho, mas toda a Baixa dos Sapateiros parou no tempo. O próprio projeto que prevê a revitalização do antigo centro comercial, orçado em quase R$ 30 milhões, não sai do papel (veja na página ao lado). “Eu queria poder melhorar meu negócio. Mas falta dinheiro. Aqui tenho poucos clientes”, resume Tilinho. Há três anos, o CORREIO esteve no local e anunciou a existência do plano de reforma. Mas nada mudou. Tudo está praticamente como em abril de 2008. E bem diferente dos tempos áureos. “Quem disse? Reformou tudo, sim. Fechou mais lojas. Agora tem mais assaltos. Tem mais sacizeiros”, ironizou Anfilófio Magalhães, proprietário de um box no Mercado de Santa Bárbara, um dos monumentos instalados na J.J.Seabra, nome oficial da rua.       O tempo parou na Baixa dos Sapateiros, mas as consequências dele, não. O passar das décadas foi ingrato com a rua de 2,6 quilômetros de extensão. Sem investimentos, um dos mais charmosos centros comerciais de Salvador, cantado em versos no clássico de Ary Barroso, está degradado. O local por onde, de tão cheio, era difícil transitar, está vazio. Sem clientes, as lojas fecham.CRISEUm estudo do Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador, responsável pelo projeto de revitalização, indica que em 2000, quando, segundo dizem os comerciantes, a Baixa dos Sapateiros começou a penar, havia ali pelo menos 700 estabelecimentos em funcionamento. Cinco anos depois, o número já havia caído para 600.

Em 2008, a Associação de Lojistas da Baixa dos Sapateiros e Barroquinha (Albasa) contava 452 pontos de venda e hoje a nova diretoria da Albasa diz que são cerca de 400 os pontos comerciais abertos na Baixa dos Sapateiros. Seu Otílio é símbolo dessa resistência - ou persistência. “Aqui só eu conserto sapato. Tem uns que fabricam, mas sapateiro que é sapateiro tem que consertar, né isso?”.

Cenas de degradação na Baixa dos Sapateiros: homem dorme em calçado, viciado consome crack debaixo de viaduto e  pombos em meio ao lixo jogado na rua

Estado terminal Os motivos apontados para o declínio são diversos. Um deles é a derrocada dos terminais do Aquidabã e da Barroquinha, que ficam nos dois extremos da rua. “Quem é que vai saltar num lugar como esse, cheio de sacizeiros e mendigos, para andar até a Baixa dos Sapateiros e comprar alguma coisa?”, questiona Leovani Martins, dono de “uma portinha” na rua. “Isso aqui já foi o grande comércio da Bahia”, suspira.Outros apontam a falta de estacionamentos e de paradas de ônibus como a causa da crise. “De ônibus ou de carro, aqui as pessoas só passam. Ninguém consegue parar, como na avenida Sete, por exemplo”, diz Marivaldo Santos, dono do supermercado Q Preço. “O pessoal só entra nas lojas pra duas coisas: se proteger de assalto e da chuva. Tive que parar de vender seu jornal porque os sacizeiros tavam levando pra vender”.tristeza À medida que o tempo passa, os mais antigos da J.J. Seabra vão perdendo as esperanças. Cristóvão Cidreira, que instalou a sua primeira loja de utilidades domésticas na Baixa dos Sapateiros há 57 anos, chegou a ter 32 funcionários. Hoje tem seis. “Tá quase passando de meio dia e não vendi nada”, lamentava à equipe de reportagem.  Contemporâneo das famosas Lojas Ipê, Brasileiras, Nunes Calçados e Feira dos Tecidos, Cidreira, que vendeu dois apartamentos para manter a loja, diz que trocava de carro todos os anos, além de fazer muito sucesso com as mulheres. “Nunca fui monogâmico e nem bígamo. Sempre fui polígamo”, diverte-se, escondendo o desânimo em gargalhadas. Com a experiência de comerciante, seu Cidreira diagnostica o principal problema da Baixa dos Sapateiros. “Não conheço rua comercial no mundo que seja mão única. Desde que mudaram isso, há uns 15 anos, a coisa começou a cair”, lembra.Outro comerciante da velha guarda, o português Firmino Alves, jamais vai ver a revitalização do espaço em que trabalhou durante 53 anos. Seu Firmino, que começou como funcionário de uma das lojas e abriu seu próprio negócio, faleceu no dia 24 de março.Na década de 1970, o português chegou a ter seis lojas na Baixa dos Sapateiros, e 150 funcionários. Ultimamente mantinha apenas um espaço, com dois empregados. Já seu Otílio, o Tilinho, diz que também vai permanecer ali até a mor te. Esperançoso, ele não quer morrer abraçado à velha Singer 29K-71 e ainda sonha em comprar uma máquina de última geração - o que seria uma grande vitória para o último sapateiro da Baixa dos Sapateiros.

Associação: ‘É o comércio mais barato’Apesar das  críticas ao comércio na Baixa dos Sapateiros, a Associação dos Lojistas da Baixa dos Sapateiros e Barroquinha (Albasa) vê um potencial enorme na recuperação da rua comercial. O novo presidente da entidade assumiu com vontade de mudar. E até faz propaganda:

“A gente tem uma rua limpa e sem camelôs. É muito melhor comprar aqui que na Avenida Sete. A Baixa dos Sapateiros é o comércio mais barato da cidade”, afirmou Ruy Barbosa.  Nada tira da sua cabeça que a Baixa dos Sapateiros vai se reerguer. E a Copa do Mundo é um dos motivos. “A Copa é a nossa maior esperança”.

 Barbosa considera um mito dizer que a Baixa dos Sapateiros não tem estacionamento, por exemplo. “Temos vagas para cem carros no Aquidabã, além de dois grandes estacionamentos pagos”, disse ele, há 32 anos no local.

Projeto prevê reformas e construção de passarelaResponsável pelo projeto de revitalização da Baixa dos Sapateiros, o Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador informou que o projeto é prioridade de licitação e a mesma deve ocorrer ainda no 1º semestre deste ano. O projeto prevê a reconstrução de monumentos como os cine-teatros Jandaia e Pax, o prédio do Corpo de Bombeiros e o Asilo Franciscano Santa Izabel. Mas o equipamento âncora no plano é o Mercado de São Miguel. Somente sua reconstrução, projetada pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, custará R$ 9,6 milhões. O equipamento será voltado para moradores e visitantes. Está previsto que o São Miguel ganhe praça de alimentação, uma unidade da Cesta do Povo e um estacionamento com 113 vagas. A requalificação urbana da Baixa dos Sapateiros, com a reforma dos passeios e praças, inclui também a construção da chamada Via Histórica, uma passarela que, se sair do papel, vai ligar a Rua das Laranjeiras e a Baixa dos Sapateiros à Avenida Joana Angélica. Os investimentos previstos para a obra são de cerca de R$ 20 milhões. Pretende-se também investir em novas redes de energia e telefonia, com fiação subterrâneas.