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Nilson Marinho
Publicado em 3 de agosto de 2017 às 23:21
- Atualizado há 2 anos
Emprestar o cartão de meia passagem ou de gratuidade nos ônibus para um parente ou amigo pode até parecer uma ação generosa e benevolente, mas é ilegal e, agora, pode render a suspensão do benefício em Salvador. É o que garante a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) e o Consórcio Integra, que resolveram instalar microcâmeras próximas às maquinetas onde a passagem é registrada, permitindo a identificação de supostos fraudadores e a suspensão do benefício de 200 usuários.>
Isso se tornou possível depois da instalação dos aparatos tecnológicos, desde o ano passado, em 2.400 dos 2.700 ônibus da frota municipal. Além da suspensão por seis meses, a partir de agora, o empréstimo do bilhete único, que é proibido por decreto municipal, pode custar até o cancelamento do cartão em definitivo.>
Confira lista de usuários que tiveram SalvadorCard suspenso por fraude>
Segundo a Semob, o prejuízo com as fraudes é grande para as empresas de ônibus. Em 2015, a perda foi de R$ 50 milhões. No ano passado, o número subiu para R$ 70 milhões. A pasta não tem dados de 2017, mas, somente no último mês de junho, foram R$ 4,2 milhões em prejuízo.>
Sai biometria, entra fotografia Há pelo menos um ano, o reconhecimento biométrico foi deixado de lado e foram implantadas microcâmeras em mais de 80% dos ônibus municipais - a frota de Salvador é composta por 2,7 mil veículos.>
O aparelho fotográfico, que fica no lado esquerdo do painel da catraca, permite que, no momento em que o usuário coloque o cartão na máquina, 10 fotos sejam tiradas em sequência, a uma distância de até um metro.>
O sistema analisa a fotografia mais nítida e confere se a imagem da pessoa que está usando o bilhete é a mesma da que está registrada no banco de dados da Transcard, empresa responsável pela bilhetagem eletrônica. A microcâmera instalada no lado esquerdo do painel da catraca tira até 10 fotos do usuário (Foto: Marina Silva/CORREIO) Essa comparação facial é possível pois, semestralmente, é feito um registro fotográfico do usuário no momento da revalidação do benefício nos postos do SalvadorCard. Foi a partir de uma dessas atualizações que foi possível identificar os 200 passageiros que estariam utilizando o cartão de meia passagem ou gratuidade de terceiros.>
Comissão de análise e decisão No momento da apresentação do bilhete, o sistema permite que a catraca seja liberada, mas a conta da atividade ilegal chega dias depois e cai sobre os ombros dos donos dos bilhetes, que, após o reconhecimento, são chamados a apresentar uma justificativa à empresa em até 10 dias. >
Caso o usuário não prove que não houve uso indevido - em caso de roubo, por exemplo, com comprovação de registro de ocorrência -, o cartão é suspenso por seis meses. Em caso de reincidência, o benefício é cancelado.>
Segundo o titular da Semob, secretário Fábio Mota, os primeiros 200 cartões foram bloqueados no mês passado, após a implantação de uma comissão que analisa as fraudes. "A gente firmou um TAC (termo de ajustamento de conduta) com o Ministério Público para criar uma comissão para analisar os benefícios e já resultou em bloqueios, nesse primeiro mês, de 200 cartões", explicou Mota. >
O sistema usado é o Cit Imagem, que confronta a imagem que está cadastrada no sistema com a foto da pessoa que está usando o cartão para pagar a meia passagem. De acordo com Fábio Mota, o tipo mais comum de fraude é de pessoas que usam cartões de estudantes sem terem direito à meia passagem, mas também há casos de pessoas que usam cartões destinados a pessoa com deficiência. >
Leia também: Bilhete Único: cartão avulso também terá identificação de usuário para evitar uso por terceiros>
Empréstimo A estudante do curso técnico de Nutrição, Laís Estefani, 18 anos, sabia da ilegalidade do empréstimo. A jovem tinha conhecimento, inclusive, que poderia ter o benefício da meia passagem suspensa. Só não imaginava, no entanto, que esse controle era feito pelas câmeras.>
"São tão pequenas que acabamos não vendo. Já emprestei uma vez pra minha tia quando ela precisou levar o meu sobrinho no psicólogo. Parei de pensar na possibilidade de emprestar quando tive conhecimento das punições e quando surgiu a biometria", declara. >
Essa atuação só é possível porque o Consórcio Integra (Transcard/SalvadorCard), a Semob e o Ministério Público da Bahia (MP-BA) firmaram, em abril deste ano, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que ficou acordado que o uso indevido do cartão dá o direito de suspender o direito por tempo determinado. Cartões de meia passagem estudantil e gratuidade beneficiam cerca de 200 mil pessoas (Foto: Marina Silva/CORREIO) A cobradora do ônibus que faz a linha Lapa/Chame-Chame, Elaine Machado, 55, consegue imaginar a dor de cabeça que seria ter que fiscalizar todos os passageiros. "Imagina eu ter que abordar as pessoas que estariam burlando a gratuidade? Nós transportamos muitas pessoas de várias índoles. Seria perigoso e constrangedor ter que impedir que as pessoas pegassem o transporte. Assim fica bem mais fácil", avalia. >
A cobradora conta que desde que a biometria foi instalada, o número de pessoas que apresentavam o bilhete de terceiros diminuiu. Com a chegada do reconhecimento facial, os usuários passaram a evitar se beneficiar do serviço. "Nós percebemos que o passageiro quando reconhece a câmera acaba descendo. Outros alegam que esqueceram em casa o bilhete e que não tem o dinheiro da passagem", conclui. >
De acordo com a empresa Transcard, cerca de 200 mil pessoas, entre alunos matriculados em instituições públicas e particulares de ensino fundamental, médio, superior, cursos de mestrado e doutorado, possuem a meia passagem estudantil. Outros 50 mil, entre carteiros, policiais civis e militares, oficiais de justiça federal e auditores fiscais do trabalho, utilizam a gratuidade do bilhete. >