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Victor Lahiri
Publicado em 21 de janeiro de 2014 às 07:04
- Atualizado há 2 anos
Garoto carrega bote inflável até o mar em São Tomé de Paripe. Apesar de parecer brincadeira inocente, equipamento inflável é perigoso no marEm São Tomé de Paripe, alugar uma boia, um bote ou até mesmo um colchão inflável custa R$ 8 a hora. Por causa do mar calmo, pais se sentem despreocupados; crianças e adolescentes acreditam deslizar seguros sobre as águas. Mas é aí que navega o perigo. “Objetos infláveis não devem ser usados, em hipótese alguma, em lugar de correnteza, seja rio ou mar”, explica o presidente da Associação Baiana de Salvamento Aquático, Pedro Barreto. Segundo Barreto, equipamentos infláveis são contraindicados não apenas para crianças, mas para qualquer pessoa que não tenha experiência de nado no mar — já que a perda do equipamento pode resultar no afogamento do banhista. “Não há uma corda que, ligada ao corpo, possa facilitar a recuperação do equipamento”, afirma. No último fim de semana, Vagner da Silva Matos, 15 anos, brincava com dois amigos mais o pai, Valmir Barbosa, 42, usando um colchão inflável como boia na praia de Barra do Jacuípe. O equipamento acabou atingido por uma onda e virou. Pai e filho morreram afogados. CampeãoHá quatro anos em São Tomé de Paripe, Heleno Santos oferece boias, botes e colchões infláveis de todos os tipos e tamanhos para aluguel. Segundo ele, não tem para ninguém: o colchão inflável é o preferido. “Apesar de ser de uso doméstico, o colchão é o campeão”, diz. A explicação está na relação “custo-benefício” do equipamento: enquanto a boia custa R$ 8 por hora e só dá para uma pessoa, o colchão custa o mesmo e carrega quatro pessoas. “Os pais procuram esse lucro”, explica Heleno, que reconhece o risco. “Não é o mais adequado para ser usado em praias. Mas, ainda que eu não alugue, as pessoas trazem de casa”, argumenta. Segundo ele, o mar calmo é o convite para os banhistas optarem pelo colchão. Sabendo dos riscos, o carioca Manuel Coutinho acompanhava o filho na água após alugar um bote inflável. “A profundidade aqui em São Tomé não é grande, eu já venho aqui com minha família há muitos anos. Mas ainda que meu filho saiba nadar, eu o acompanho sempre”, afirma. A sugestão de Manuel é para que os ambulantes forneçam coletes salva-vidas para os clientes.JeitinhoApós a notícia do afogamento de Valmir e Vagner em Barra do Jacuípe, alguns ambulantes deixaram de oferecer colchões infláveis como opção para os banhistas, como Manuel Júnior que aluga boias e outros equipamentos infláveis na praia do Bogary, na Ribeira, há cinco anos.“Imaginei que seria questão de tempo até a prefeitura começar a recolher (os colchões)”, comenta Manuel, que diz utilizar uma corda para amarrar uma pedra à boia como forma de ancorar e estabilizar o equipamento.“Essa foi a forma que achamos para não perder as crianças de vista. Principalmente no domingo, a praia fica muito cheia. A gente fica ligado, muitas vezes assumindo uma responsabilidade que nem é nossa”, explica Manuel.PerigoA medida, no entanto, não garante segurança aos banhistas. “Os pais, na maior parte das vezes, não têm conhecimento do perigo e permitem que crianças utilizem equipamentos inadequados na praia. Por isso é importante conscientizar para descuidos que podem ser irreversíveis”, afirma Barreto.Crianças brincam com colchão na praia de São Tomé. Especialistas alertam para pais vigiarem os filhos durante todo o tempo. Mesmo adultos correm riscos ao usar equipamentosComo alternativas para crianças e adolescentes, o presidente da Associação Baiana de Salvamento Aquático indica pranchas de surf ou bodyboard com elastique — aquela cordinha que liga o equipamento ao corpo do usuário, fazendo com que o banhista possa recuperar o equipamento e volte à segurança. Mesmo assim, Barreto reforça que esses objetos só devem ser usados por pessoas com experiência de nado e em praias com a presença de grupos de salvamento.Bom ArgumentoO coordenador do Salvamar, João Luís Moraes, destaca haver uma orientação aos salva-vidas para que avisem aos banhistas, antes de entrarem na água com boias e colchões infláveis, do risco que correm. “O nosso trabalho é muito mais de prevenção do que de socorro. A pessoa se convence de que câmara de ar de pneu de caminhão e colchão inflável não parece, mas podem matar”, disse. Para Pedro Barreto, desastres como o que aconteceu em Barra do Jacuípe só deixarão de se repetir quando ambulantes que fornecem boias para banhistas passarem por treinamento. “Temos pressionado a prefeitura para criar uma lei que obrigue a retirada desses objetos das praias. Também atuamos na conscientização dos banhistas para acabar com esse risco”, disse. Colaborou Rafael Rodrigues. Heleno Santos aluga boias e colchões há quatro anos em São Tomé de Paripe. Colchão sai por R$ 8 a hora Pai e filho morreram após colchão virar em Jacuípe>
Por volta das 18h do último dia 12, Vagner Silva Matos, 15 anos, e outros três primos brincavam em cima de um colchão inflável, alugado na praia de Barra do Jacuípe, quando o equipamento virou, causando o afogamento do jovem. Ao perceber a situação, Valmir Barbosa, de 42, pai do garoto, mergulhou para tentar salvá-lo e acabou se afogando também. Os outros três garotos conseguiram se salvar. O corpo de Valmir foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros, no mesmo dia do acidente, a cerca de 10 quilômetros do local, em Arembepe, enquanto o corpo de Vagner só foi localizado no dia seguinte, próximo à Praia da Igrejinha, em Jacuípe. A família passava o final de semana na região.>