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Do espiritismo às polêmicas: saiba quem era Divaldo Franco na intimidade

Um dos líderes religiosos mais famosos do país deixa legado material e espiritual

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 14 de maio de 2025 às 05:00

Divaldo Franco ficou conhecido mundialmente pelos ensinamentos espíritas e publicou mais de 250 livros
Divaldo Franco ficou conhecido mundialmente pelos ensinamentos espíritas e publicou mais de 250 livros Crédito: Divulgação

Quem teve o caminho cruzado por Divaldo Pereira Franco nunca esqueceu. O legado deixado pelo expoente da doutrina espírita, que faleceu na noite de terça-feira (13), aos 98 anos, ultrapassa as fronteiras do mundo físico, mas também está presente nele. As obras de caridade reunidas na Mansão do Caminho marcaram a vida de milhares de pessoas que buscaram auxílio material e espiritual. Referência e inspiração, Divaldo Franco foi, sobretudo, humano, e não ficou imune às críticas quando se envolveu em polêmicas políticas.

Os traços do espiritismo apareceram cedo na vida de Divaldo Franco. Ainda em Feira de Santana, sua cidade natal, transmitiu uma mensagem da avó materna já falecida à sua mãe, aos 4 anos. Foi a primeira das muitas visões que teria ao longo da vida. Divaldo esteve sempre acompanhado de Joanna de Ângelis, sua mentora espiritual, e, através dela, psicografou mais de 70 livros, traduzidos em 15 idiomas. No mundo físico, seu parceiro foi Nilson de Souza Pereira (1924-2013), com quem fundou a obra em conjunto.

A obra completa de Divaldo conta com mais de 250 livros publicados, que o fizeram famoso no Brasil e no mundo. Teria sido através da sua mentora que Divaldo Franco idealizou o projeto socioeducacional que culminou na Mansão do Caminho e no Centro Espírita Caminho da Redenção.

Tudo começou com um orfanato em um sobrado na rua Barão de Cotegipe. Mas foi com a transferência para o terreno no bairro Pau da Lima, que a Mansão do Caminho cresceu. Ao longo de 70 anos, o espaço se tornou referência em obras de caridade. Atualmente, são 44 edificações distribuídas em uma área verde de 78 mil m². Mais de cinco mil atendimentos são realizados todos os dias, nas áreas de educação e saúde.

O espaço talvez não tivesse virado referência caso não fosse a presença constante do seu fundador. Divaldo Franco sempre fez questão de estar próximo de quem buscava sua mentoria espiritual ou ajuda material. Passou, inclusive, os últimos dias de vida em sua casa dentro da Mansão do Caminho, ao lado de duas escolas e do jardim onde o espírito de Joanna de Ângelis tem o costume de aparecer, segundo contava.

Legado

Hoje, aos 53 anos, Ednilson Pereira da Silva, o Nizinho, lembra com carinho da infância na Mansão do Caminho. Ele e a irmã gêmea foram levados pela tia-avó quando tinham 3 anos para serem cuidados nos “lares-famílias”. Cada casa distribuída pelo terreno de mais de 70 mil m² abrigava cerca de cinco crianças, que ficavam sob o cuidado voluntário de “tias” escolhidas por Divaldo Franco e Nilson Pereira.

Acolhimento de crianças teve início na década de 1950
Acolhimento de crianças teve início na década de 1950 Crédito: Claudio Urpia/Divulgação

Ednilson cresceu sob os cuidados daquelas pessoas que se tornaram sua família. “Nós éramos filhos adotivos, mas nunca nos sentimos assim. Eles tratavam-nos como se fossemos filhos de carne”, rememora. Com Divaldo, Nizinho aprendeu a andar de bicicleta e empinar pipa. Mas o principal ensinamento foi o cuidado com os irmãos. Ednilson nunca deixou a Mansão do Caminho e é, há 20 anos, gerente da padaria que existe dentro da obra.

A oportunidade de retribuir o acolhimento recebido na infância humilde veio na vida adulta. Edmilson foi uma das pessoas que cuidou de Divaldo Franco no final da vida. Ele e outro colega se revezavam para dormir na casa onde o médium passou os últimos dias, dentro da Mansão do Caminho. Vizinha à casa de Divaldo está a de Dilma Correia, 90 - uma das “tias” que cuidavam dos "lares-famílias".

A oratória de Divaldo Franco e seu conhecimento sobre o mundo dos espíritos foi o que encantou Dilma, que o conheceu na década de 1950. “Eu fiquei impressionada com aquele homem sábio. Ele falava sobre os espíritos, planetas e biologia. Me perguntei, desde cedo, como era possível alguém saber de tudo aquilo”, conta a senhora, que hoje recebe cuidados dentro da Mansão, espaço onde cuidou e acolheu centenas de crianças.

Espiritismo e caridade

As características não encantaram apenas as pessoas próximas. Ao longo da vida, Divaldo realizou mais de 20 mil conferências, em mais de 2,5 mil cidades do Brasil e 71 países. Seus ensinamentos sobre o espiritismo o tornaram um dos maiores médiuns do mundo.

“O trabalho realizado por Divaldo Franco inspira os espíritas de todo o mundo. A forma com que ele acolhia aquelas crianças nas suas necessidades espirituais e materiais mostra que fora da caridade não há salvação”, diz Fátima Costa Souza, líder da Associação Espírita Cristã André Luiz, em Feira de Santana.

A conterrânea de Divaldo Franco esteve com ele em diversos encontros e lembra com carinho do cuidado que ele tinha com os seguidores. “Me marcou muito a primeira vez que fui assistir a uma palestra e vi, que antes de começar a falar, Divaldo ficava em um canto recebendo a todos que quisessem falar com ele”, recorda. O último encontro aconteceu em setembro do ano passado, quando Divaldo foi a Feira de Santana receber homenagens.

Na intimidade, Divaldo Franco encantava a todos pelo seu bom humor e simplicidade. É o que lembra Ivanna Soutto, terceira geração de sua família próxima ao líder espírita. Sua avó foi uma das tias dos "lares-famílias". “Ele sempre foi uma pessoa maravilhosa, com aqueles olhos e aquela risada. Com um humor fino, requintado e elegante”, fala.

Ivanna Soutto foi a terceira geração da família a ter contato com Divaldo Franco
Ivanna Soutto foi a terceira geração da família a ter contato com Divaldo Franco Crédito: Acervo Pessoal

Polêmicas

Ao longo da vida, Divaldo não ficou imune às polêmicas. Chegou a ser apelidado de “médium de direita” por demonstrar apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Em 2019, Divaldo Franco disse, em entrevista à Veja, que Bolsonaro “representava uma esperança”, apesar de ser contra os discursos a favor da tortura durante a Ditadura Militar.

Em sua visita ao estado da Bahia em 2022, Bolsonaro esteve na Mansão do Caminho. Para Fátima Costa Souza, líder espírita de Feira de Santana, Divaldo era um ser político e tinha direito de expressar suas opiniões. “Como ser humano, Divaldo não é perfeito. Emitiu suas opiniões e tinha direito. Mas as pessoas foram perversas ao querer apagar as boas ações dele por causa disso”, avalia.

Independente de questões políticas, o maior legado de Divaldo Franco se divide no mundo espiritual e no físico, com as obras da Mansão do Caminho. As mensagens de paz e caridade foram transmitidas por ele ao longo de toda a vida, a quem teve interesse de escutar e aprender. “Uma vez ele me disse que a caridade diz mais sobre quem faz do que sobre quem recebe. É para ser feito do coração, e ele fez isso como ninguém”, resume a amiga Ivanna Soutto.