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Yan Inácio
Publicado em 4 de julho de 2025 às 18:52
Quem passou pelo aeroporto de Salvador na tarde desta sexta-feira (4) viu figurinos extravagantes, maquiagens impecáveis e performances de cair o queixo. Sete drag queens se enfrentaram no Runway Drag, primeira batalha de lipsync realizada em um aeroporto brasileiro. Após rodadas de duelos, a drag Becca Baroni foi consagrada a grande campeã do evento e levou um troféu e uma quantia em dinheiro para casa. >
As batalhas de lipsync são um tipo de competição performática na qual drag queens se apresentam dublando músicas, com critérios de seleção definidos pela banca de jurados que envolvem a presença de palco, a sincronia labial, criatividade, figurino e interação com o público.>
Vencedora da primeira edição do evento, Becca Baroni atua como drag queen há seis anos e já venceu dez títulos de competições de lypsinc em Salvador. Na disputa final do Runway Drag, ela dublou a música Born This Way, da Lady Gaga, e conta que mesmo com dificuldades com a letra, conseguiu demonstrar seu “truque”.>
“Quem é drag queen sabe que nós precisamos trucar e muito pra tudo nessa vida. E às vezes não é só a dublagem que conta, mas a performatividade, o que você traz no seu corpo. Seu corpo fala tanto quanto a sua boca, então você saber usar isso a seu favor é incrível e eu acho que foi o que eu consegui fazer pra conseguir ganhar”, diz.>
Becca apostou na cor vermelha para seu look inicial. Já a segunda roupa trouxe pedrarias bordadas com símbolos tribais, como aqueles utilizados nas pinturas corporais da Timbalada. “Como travesti preta, preciso levar a minha ancestralidade para onde eu for, então trago traços como a flecha, sol e raios de luz, são coisas que eu costumo trazer na minha pele, na minha essência”, destaca.>
Ela conta que suas principais inspirações não são as artistas famosas e consagradas, mas sim suas colegas de trabalho e outras pioneiras na arte drag local, como Carolina Vargas, Valerie O'rarah e a própria Hebbie Lauper, com quem competiu. “São drags que fizeram seu nome e muitas vezes não tiveram a oportunidade de expandir o seu trabalho para um outro local. Me sinto muito feliz por estar levando o que elas construíram lá atrás para um lugar que não seja marginalizado pela sociedade, como as casas de show”, diz>
Esse é, inclusive, um dos pontos mais importantes do evento no aeroporto: trazer visibilidade para quem não frequenta esses locais ou não conhece esse ofício. “Muitas vezes as pessoas acham que vamos pra lá só pra ferveção, pra fazer besteiras ou algo do tipo, e não, nós estamos trabalhando, nós estamos vivendo daquilo que nós escolhemos trabalhar, no caso é com a arte, a arte drag queen”, explica.>
Veja fotos da batalha de lipsync no Aeroporto de Salvador
Para Genilson Coutinho, curador do evento é uma oportunidade de legitimar a arte drag e dar visibilidade aos artistas locais. "É fundamental para resgatar a história da arte transformista em Salvador e, ao mesmo tempo, valorizar esses artistas que levam o nome da Bahia para todo o Brasil. Ao promover uma ação como essa, o Salvador Bahia Airport está mostrando que a Bahia tem o mesmo potencial artístico de outros estados, como Rio de Janeiro e São Paulo", afirmou.>
A competição aconteceu na praça de alimentação e contou com a presença das drags Ariel Baldini, Hebbie Lauper, Lana Vergara, Lola Apple, Sfat Auermann, Weel e Becca Baroni, selecionadas pelo curador e jornalista Genilson Coutinho. A DJ Milla Brianezi foi responsável por animar o público com o set da batalha de lip sync. O júri foi composto por Lunna Montty Luísa Silva, DJ e performer; Luísa Silva, assessora jurídica do Ministério Público da Bahia na defesa dos direitos LGBTI+; e Devisson Esquivel, ator transformista.>