Em parceria com Vale do Dendê, Google Cloud ‘fura bolha’ e acredita em Salvador como referência em inovação

‘Sair da bolha’: esse foi o objetivo, segundo a gerente de Marketing para Produto e Inclusão do Google Cloud para a América Latina, Melina López, ao ter escolhido Salvador como anfitriã brasileira do Innovators Hive em 2022. “Sabendo que Salvador tem 84% de população negra, que tem um hub muito importante de empreendedorismo”, argumentou a gerente. “Pensar neste movimento, de descentralizar de São Paulo também era muito importante”, lembrou ela.

Realizado nessa sexta-feira (25), no bairro do Pelourinho, o evento, que reuniu cerca de cem inscritos, visou conectar a comunidade local de desenvolvedores com líderes e engenheiros da empresa. Apesar do pioneirismo da capital baiana, o Google pretende estender o evento a outros pontos do mapa brasileiro, antecipou López.

Não à toa, a sede do Innovators foi a nova casa da aceleradora Vale do Dendê, único hub Google for Startups no Norte e Nordeste. Paulo Rogério Nunes, cofundador da aceleradora, acredita que a inovação possa surgir a partir de diversos locais. “O Vale do Dendê é o reconhecimento de que aqui tem um ecossistema próprio, que resolve problemas específicos, mas que também é global”, afirmou Nunes. “Uma solução de mobilidade que sai daqui [de Salvador] vai se aplicar completamente a cidades como Cartagena [na Colômbia] e Nairóbi [no Quênia]”, exemplificou ele. 

“Eu acho que esse evento coroa uma nova fase dessa tentativa de posicionar Salvador como uma cidade-referência em criatividade e tecnologia”, definiu Nunes. O cofundador da aceleradora relembrou como o ecossistema de inovação soteropolitano evoluiu em relação a 2016, quando a organização social foi fundada. “O ecossistema aqui estava começando. Você tinha três grandes startups, e hoje eu até brinco que não consigo mais dar conta dos eventos que tem na cidade”, comparou.

Solo fértil

Atualmente, a Vale do Dendê tem 250 negócios certificados na metodologia de aceleração, fora os mil que já passaram por workshops, palestras e treinamentos. Mesmo assim, Nunes ainda vê ‘muito caminho para trilhar’. “Meu sonho é que vire parte da cultura pop, da cultura ordinária da cidade; que seja uma conversa de bar; que vá na Ilha de Itaparica e tenha essa conversa de inovação”, projeta ele. 

No evento, que também foi transmitido pela internet, o público teve acesso a palestras, workshops e laboratórios técnicos sobre as novas tecnologias de nuvem do Google. Apesar de não ser desenvolvedor, o assistente de TI João Paulo Gomes, 28 anos, já estuda o Cloud. “Vim fazer networking, conhecer as novas tecnologias e aprender mais, para poder compartilhar isso com outras pessoas, também”, disse ele. 

A jornalista Laísa Gabriela, 32, ficou sabendo por meio do CORREIO que o Innovators Hive aconteceria. Ela, que está em transição para a área de tecnologia após mais de dois anos de carreira, ainda destacou a importância de ter se sentido acolhida na sede do evento. “Pra mim, tá sendo interessante, porque a Vale do Dendê tá sempre trazendo essa proposta de conexão, tecnologia e aproximar pessoas pretas”, falou.

Soteropolitano do bairro de Santa Cruz, o customer engineer José Neto, 42, faz parte da equipe do Google Cloud há quatro anos e tem colegas baianos. A despeito disso, ele acredita que haja espaço para mais, principalmente negros, que ainda são minoria na empresa. “Eu acho que meu papel aqui é muito de representação”, afirmou. “A Bahia é muito negra. A gente pode trabalhar com inclusão bastante; tem muito espaço.”

Assim como João Paulo e Laísa, todo o público presente recebeu vouchers para obter certificação gratuita nos diversos cursos oferecidos pelo hub de aprendizado Capacita+. Conforme dados da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), a demanda das empresas de tecnologia no Brasil entre 2021 e 2025 será 795 mil talentos, porém o país possui um déficit anual de profissionais de TI de 106 mil.

O Google Cloud

O Google Cloud consiste em um conjunto de recursos físicos (computadores e unidades de disco rígido) e recursos virtuais, como máquinas virtuais (VMs), localizados nos data centers do Google por todo o mundo. Na computação em nuvem, produtos de software e hardware se tornam serviços. 

Para o diretor de Engenharia do Google na América Latina, Berthier Ribeiro-Neto, a ferramenta é importante para que as empresas se dediquem inteiramente a sua atividade-fim. “Quando a gente fala que essa infraestrutura compartilhada acelera a inovação, é porque ela dá oportunidade para o inovador se concentrar no que realmente importa”, explicou Ribeiro-Neto. “No Google, durante muito tempo e ainda hoje, a gente diz o seguinte: ‘Concentre-se no cliente; o resto é consequência’”, definiu o diretor.