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Edvan Lessa
Publicado em 7 de outubro de 2014 às 07:37
- Atualizado há 2 anos
Os choros abafados se amplificaram quando a caixa Juliene Costa, 27 anos, se desesperou ao velar a filha Ananda Luiza Costa Argolo, 4, vítima de uma bala perdida em Mussurunga, no domingo. “Tira ela daí! Ananda tem medo de escuro”, gritou algumas vezes ao ver o caixão ser colocado numa vala de concreto do Cemitério Bosque da Paz,na segunda-feira (6).Caixão com o corpo da menina Ananda, 4, é carregado por parentes e amigos no Cemitério Bosque da Paz(Foto: Robson Mendes)Familiares, amigos e vizinhos dividiam o luto de Juliene e seu esposo, o sushiman André Souza Argolo, 30. O cenário acinzentado da tarde nublada ficou ainda mais obscurecido no trajeto do caixão ao túmulo, triste romaria seguida por professoras do Grupo Educacional Renascer, onde Ananda fazia o segundo ano escolar.A pequena Amanda morreu neste domingo (5)(Foto: Betto Jr)“Quando ela via a gente abria o sorriso e vinha correndo abraçar”, lembrou a diretora Cilene Machado. Algumas pessoas chegaram a desmaiar durante a cerimônia. >
A dor, no entanto, impulsionou cerca de 50 delas a ir às ruas em protesto, após o enterro.>
Dois coletivos e mais alguns automóveis deixaram o cemitério, em Nova Brasília, com mensagens de luto e de paz nos para-brisas. >
Às 17h, quando chegaram à Estação Mussurunga, um grupo começou a reunir cavaletes encontrados no trajeto. Ali, mais pessoas despontaram com pneus, madeira e mais placas eleitorais, tudo utilizado para bloquear uma faixa da Avenida Paralela no sentido Centro. >
Durante meia hora, rezaram, sentaram-se no asfalto e fizeram súplicas às autoridades. Três viaturas da Rondesp Atlântico e uma da 49ª CIPM (São Cristóvão) foram acionadas, mas apenas controlaram o direito de ir e vir dos alheios à manifestação, inclusive quando o protesto seguiu pelas ruas de Mussurunga.>
O clamor por paz e justiça seguiu até a Rua Ednil do Espírito Santo, onde parte do material foi queimado em sinal de protesto. Ali, fica a escola Newton Sucupira, cujas paredes testemunharam o assassinato de Ananda, filha única, fruto de uma gravidez planejada de Juliene e André.>
Bala perdida>
No domingo, Ananda acompanhava a mãe, que ia votar em São Cristóvão. “Eu não queria deixar ela na rua, então resolvi levar ela comigo”, contou Juliene, que estava acompanhada pela irmã gêmea e algumas sobrinhas. O grupo, no entanto, sequer chegou ao ponto de ônibus. Ananda foi atingida por uma bala perdida no ombro esquerdo e morreu a caminho do hospital.Corpo de menina foi enterrado em meio a comoção(Foto: Robson Mendes)Segundo a mãe, um homem a pé efetuou vários disparos no meio da multidão. “Foi tudo de repente. Quando eu olhei para trás, minha filha já estava no chão”, explicou a mãe que, desesperada, ainda se atirou na frente de uma viatura policial que passava no momento dos disparos em busca de socorro. Segundo Juliene, os PMs ainda cogitaram ir atrás do suspeito, mas preferiram socorrer a menina. >
Além de Ananda, Claudionor Rodrigues Moreira, 24, e a namorada Tamires Freitas de Jesus, 21, foram baleados e ficaram internados no Hospital Menandro de Farias. Eles seriam o alvo principal do atirador, que estava com um comparsa.Meu brigadeiro, foi eu que peguei ela no colo. Disse para não fechar os olhos e fechouJanaína, prima, relembrando socorro a AnandaSegundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), Claudionor foi transferido para o Hospital da Bahia e Tamires já recebeu alta. O estado de saúde dele não foi revelado. Prima de Ananda, Janaína não consegue parar de pensar no momento da tragédia. “Meu brigadeiro, foi eu que peguei ela no colo. Disse para ela não fechar os olhos, ela foi e fechou”, disse, aos prantos. Parentes de Ananda, amigos e vizinhos da família fecharam a Av. Paralela (sentido Centro) por meia hora(Foto: Robson Mendes)Abalada, a família espera ver o responsável pelo crime punido. “O culpado tem que pagar. Esse ordinário tem que ir pra cadeia”, afirmou Juciara, avó de Ananda. Resignado, André, o pai, prefere esperar a ação do tempo para diminuir sua dor e ver a situação ser resolvida. “Justiça todo mundo quer, mas agora temos que esperar o tempo correr”, disse.>
Suspeitos >
Segundo a delegada responsável pelo caso, Andrea Ribeiro, da 1ª Delegacia de Homicídios, várias testemunhas do ocorrido já foram ouvidas. >
Segundo os relatos, o criminoso conhecido como “Caverna” seria o autor dos disparos contra Claudionor e a namorada, que também vitimaram Ananda. Ele teria recebido cobertura de outro acusado, conhecido como “Mão”, também presente no momento do crime.>
Ainda segundo a delegada, a polícia já está fazendo buscas para prender os acusados e tem já outros suspeitos. Andrea Ribeiro contou também que espera a alta de Claudionor para colher o depoimento dele sobre o caso.>