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Moyses Suzart
Publicado em 25 de junho de 2025 às 21:23
Enquanto o príncipe regente articulava uma independência que culminou naquela dor de barriga nas margens do Rio Ipiranga, no dia 7 de setembro de 1822, aqui na Bahia o pau quebrava bem antes, desde o dia 25 de junho daquele ano, com os baianos invadindo embarcação portuguesa e tomando o país da colônia lusitana na bala, erguendo a bandeira brasileira e dizendo que aqui no país quem mandava éramos nós. Aquele dia, que completa 203 anos, foi tão simbólico, que todo ano, nesta data, Cachoeira vira a capital do estado. Poderia ser do país pela sua importância crucial para a independência nacional, mas o restante do Brasil não está preparado para esta conversa. >
A celebração que trouxe todo executivo do estado para a Cidade Histórica começou no dia anterior, com o encontro do caboclo de Cachoeira e da cabocla de São Félix, que ficam agarradinhos até o dia 2 de julho, quando a Bahia conseguiu, enfim, expulsar os portugueses do solo baiano. Ontem, a cidade foi formalmente transformada em capital do estado com uma salva de tiros. Durante todo o dia, o executivo despachou na cidade, como se estivesse no Centro Administrativo da Bahia.>
“Ter nossa cidade como capital por um dia é um reconhecimento de que Cachoeira é, no nosso tempo, referência histórica, e ainda é palco de decisões, assim como foi lá em 1822. Somos uma cidade de coragem e luta. Somos o museu da independência a céu aberto”, disse a prefeita de Cachoeira, Eliana Gonzaga, na solenidade.>
Antes, como de costume, muito samba de roda. “Isso respira independência e festa. É o momento mais importante do país que começou aqui, em Cachoeira. Vamos celebrar nossos heróis e heroínas, não esquecendo a coragem de quem transformou o país!”, comemora Danniely, mais conhecida como Maria Bonita do Recôncavo. Ela foi uma das pessoas que não resistiram ao samba.>
“Cachoeira foi a capital de fato. Foi a primeira capital de um Brasil livre, quem primeiro decretou a separação de Portugal, desde o dia 25 até 2 de julho do ano seguinte. Costumo dizer que, enquanto o Recôncavo era a capital livre, Salvador continuava como sede lusitana até 2 de julho”, conta o historiador Fábio Batista.>
Os festejos da capital cachoeirana foram durante todo o dia. O caboclo da cidade e a cabocla de São Félix, que vivem um romance durante este período, foram conduzidos pelo exército até a Praça da Câmara e Cadeia, onde receberam homenagens, fechando o dia ao som de orquestras sinfônicas.>
História>
Naquele 25 de junho, em resposta à crescente tensão entre as tropas portuguesas estacionadas em Salvador e os brasileiros que apoiavam o projeto de independência liderado por Dom Pedro, a Câmara de Vereadores de Cachoeira, junto com líderes civis e militares locais, decidiram romper com o governo português antes mesmo da independência formal em São Paulo. Foram 94 assinaturas, na época, que oficializaram a independência em Cachoeira. Os cachoeiranos hastearam o estandarte do Brasil, declararam fidelidade a Dom Pedro (ainda príncipe regente) e conclamaram outras vilas do Recôncavo e do interior a se unirem à causa da independência.>
Logicamente, os portugueses não aceitaram a decisão e o primeiro conflito armado pela independência ocorreu durante 3 dias, quando os baianos conseguiram tomar uma embarcação portuguesa que estava nas margens do Rio Paraguaçu, a primeira vitória contra os lusitanos, no dia 28 de junho.>
Foi o início da marcha que terminou um ano depois, com a entrada dos brasileiros em Salvador, no dia 2 de julho do ano seguinte, em 1823.>
Desde 2007, por meio de decreto estadual, a sede do Executivo estadual é transferida simbolicamente para Cachoeira todo dia 25 de junho. Nessa data, o governador despacha do município, reforçando o reconhecimento histórico da importância da cidade para a consolidação da independência do Brasil.>