'Foi muito pânico', diz rodoviário feito refém em explosão da Caixa

Explosão aconteceu na madrugada desta terça (18) em Pau da Lima e deixou agência destruída

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  • Bruno Wendel

Publicado em 18 de maio de 2021 às 17:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Segundo moradores da localidade, pelo menos 10 homens armados de fuzis e metralhadoras chegaram em dois carros e explodiram a agência da Caixa Econômica Federal, que fica na Rua Direta de São Marcos, em Pau da Lima. A ação aconteceu na madrugada desta terça-feira (18) e durou cerca de 20 minutos. Para dificultar o acesso da polícia, os bandidos bloquearam a via principal e fizeram rodoviários reféns. Não houve feridos e não há informação se os bandidos conseguiram levar o dinheiro.

Os bandidos fizeram um bloqueio, atravessando um caminhão de lixão e um ônibus da empresa OT Trans, que recolhia rodoviários para as garagens, em cada lado da via principal do bairro. Eles ainda fizeram reféns os motoristas e cobradores, que foram obrigados a deitarem no chão. De acordo com o Sindicato dos Rodoviários, mais de 15 funcionários foram feitos reféns. 

Um dos rodoviários que estavam no ônibus, que preferiu não se identificar, narrou a ação dos criminosos. “Foi muito pânico. Era por volta das 3h quando eles vieram dando tiro no veículo para obrigar o motorista a parar. Estavam com muitos fuzis e pistolas. Eu fui obrigado a me jogar no chão porque estavam atirando, então eu bati o ombro e fiquei bastante dolorido. Eles nos obrigaram a descer e tomaram o celular da maioria dos companheiros e disseram que, se alguém estivesse encondendo celular, eles iriam matar. Eu agradeci a Deus que não aconteceu nada demais com a gente. Nós temos a certeza de que vamos sair de nossas casas, mas temos a incerteza da volta”, contou o rodoviário.  Mais de 15 rodoviários foram feitos reféns durante ação criminosa. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Em nota, o Sindicato lamentou o ocorrido e cobrou mais segurança por parte do poder público: “Graças a Deus não houve vítimas físicas, mas fica o trauma psicológico para os operadores e familiares daqueles estiveram presentes neste lamentável episódio de violência. Reiteramos o pedido de reforço da segurança pública nas madrugadas de Salvador para que não haja novas situações em que a categoria fique à mercê da bandidagem como neste episódio”.

Quadrilhas

De acordo com o presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Vasconcelos, este ano já foram realizados 25 ataques a instituições financeiras, que incluem explosão de agências e de caixas eletrônicos e tentativa de arrombamento de agência. 

“É um número muito acima da média. O sindicato tem cobrado dos bancos e do poder público mais investimentos para coibir essas quadrilhas que estão cada vez mais organizadas. Tivemos algumas reuniões com a Secretaria de Segurança Pública e com a Fenaban [Federação Nacional dos Bancos]. Nós não podemos divulgar informações sobre as investigações e estratégias, mas existe um modus operandi similar que está sendo analisado”, disse o presidente. 

Vasconcelos defendeu a união de esforços dos poderes municipal, estadual e federal na coibição desse tipo de crime. “Já sabemos que essas quadrilhas se dividem por especialidades. Um grupo faz aluguel de armamentos, outro aluga veículos, outro grupo se preocupa com os locais de refúgio e, muitas vezes, essas quadrilhas atuam em vários estados do país. Também sabemos que os explosivos utilizados vêm pelas estradas, que ligam a outros estados. É preciso descobrir de onde eles vêm”, acrescentou. 

O presidente do Sindicato também lembrou que os casos de explosão eram comuns no interior, mas que, agora, vêm crescendo também na capital, e ressaltou a importância de impedir que esse tipo de crime aconteça. “Esse tipo de crime não prejudica só o banco, prejudica os funcionários, a economia local e também a população, que sofre com as agências fechadas por um longo período de tempo ou que até nunca mais reabrem. Além de amedrontar a população, porque todo mundo fica em pânico. Quem mora do lado de uma agência bancária não dorme mais sossegado”, finalizou Vasconcelos. 

Explosões

O teto veio abaixo e toda fiação ficou à mostra. Pedaços de concreto e estilhaços de vidros foram lançados para todos os lados, além de ferros retorcidos e rachaduras na estrutura do prédio. Aliado ao cenário de destruição, o medo. “Foi uma madrugada de terror”, disse um morador olhando fixamente para o restou da agência da Caixa Econômica Federal de Pau da Lima.  Foto: Marina Silva/CORREIO Os criminosos chegaram à agência por volta das 2h50. Segundo moradores, eles já desceram atirando. “Acordamos com os disparos. Vários disparos. Cheguei até pensar que era mais uma briga entre os traficantes daqui. Mas quando olhei pelo canto da janela, vi toda a movimentação em frente à agência”, contou um morador ao CORREIO. 

Foram três explosões escutadas pelos moradores. “Entre a primeira e a segunda detonação foram cinco minutos. Quando pensei que tinha acabado tudo, uns sete minutos depois escutamos uma explosão ainda maior que as duas anteriores. Foi uma madrugada do terror. Ninguém conseguiu dormir mais”, disse um outro morador.  

Ele disse que por volta das 03h10 os bandidos fugiram. “Não sabemos se levaram alguma coisa. Só saímos quando a polícia chegou, 10 minutos depois”, declarou o morador.  “É uma quadrilha organizada, não resta dúvida. Rota de fuga aqui não falta. Descer qualquer do lado do banco dá na Avenida Gal Costa. Se descer pelo outro lado, dá Via Regional. Se seguir direto sai na Avenida Paralela”, completou ele. 

Na manhã desta terça-feira, funcionários da Caixa estavam na agência acompanhando a retirada dos destroços provocados pelas detonações. O prédio é composto de subsolo, onde está a garagem, andar térreo, onde havia o atendimento ao público e local das explosões e o primeiro andar, onde funciona o almoxarifado. 

Apesar da recusa dos funcionários da agência em falar sobre o assunto, um empregado de uma empresa contratada pela Caixa para limpar o local, disse que 70% da área de atendimento da agência foi destruído. “Se voltar a funcionar, é coisa de um mês em diante”, avaliou. 

Em nota ao CORREIO, a Caixa afirmou que informações sobre eventos criminosos em suas unidades são repassadas somente às autoridades policiais e que está cooperando com as investigações dos órgãos competentes. O banco informou que a Agência Pau da Lima está fechada neste momento para avaliação dos danos e realização de reparos. A reportagem entrou em contato com a Polícia Federal, responsável pelas investigações do crime, mas, até o fechamento da matéria, não obteve retorno. 

Fila

Os moradores contaram que a agência atendia também quem morava em outros bairros. Eles acreditam que as enormes filas chamaram a atenção dos criminosos “O povo fica acampando na porta para garantir o atendimento, principalmente quando é dia de pagamento dos benefícios. Vem gente de Sete de Abril, Novo Horizonte, Castelo Branco.... A fila era de dobrar as esquinas. Via nos noticiários os casos de ataque aos bancos e pensava: ‘daqui a pouco vai ser aqui. Essa agência só vive lotada’. E não deu outra ”, disse uma senhora. 

Ela disse que um morador de rua dormia na porta da agência quando os bandidos chegaram. “ O povo tem mania de dormir na fila para vender o lugar mais tarde. Vende por R$ 10, R$ 20, R$ 30 para comprar um prato de comida. Mas ontem só havia uma pessoa, um senhor que levou coronhada dos bandidos”, contou ela.

A Caixa também informou que os clientes da agência de Pau da Lima que necessitarem de atendimento presencial devem se dirigir às agências mais próximas. São elas: Agência Bairro Castelo Branco: Rua Genaro de Carvalho, nº 1535, 1ª etapa, Castelo Branco, Salvador (BA). Agência CAB: Av. Ulysses Guimarães, 3386, Edf. Pejota Empresarial, Térreo, loja 01, Sussuarana, Salvador (BA).