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Gil Santos
Publicado em 29 de setembro de 2018 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Todo fim de ano é a mesma coisa: quem tem filhos em escolas particulares começa a preparar o bolso para o tão aguardado - e temido - reajuste da mensalidade. Além de toda a economia para a compra do material escolar, livros, mochilas, canetas, lápis, estojo e tudo mais que crianças e adolescentes adoram, ainda é necessário garantir o orçamento para o novo valor da mensalidade.>
Em Salvador, de acordo com levantamento feito pelo CORREIO entre as escolas com melhor nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2017, os novos valores serão divulgados somente a partir de outubro ou novembro, mas devem ficar em torno de 10%.>
O diretor de fiscalização da Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon/BA), Iratan Vilas Boas, conta que as escolas usam como parâmetro para os reajustes o índice de inflação do Banco Central.“Geralmente, fica em torno dos 10%. Todo reajuste precisa ser precedido de uma justificativa plausível ou pode ser considerado abusivo”, diz Vilas Boas.Os especialistas aconselham os pais a terem cautela na hora de fazer a matrícula e a aproveitar as vantagens oferecidas pelas instituições. Algumas delas dão descontos para quem paga antes do vencimento, para filhos de servidores públicos ou aceitam fazer abatimentos na mensalidade, dependendo da negociação.>
Caso o reajuste pese no bolso, a orientação é definir as prioridades. Para o economista e colunista de finanças do CORREIO Edisio Freire, a regra número um é cortar gastos para poder honrar as mensalidades. Mas, se o reajuste ficar acima do que os pais podem pagar, talvez seja a hora de começar a procurar outras instituições, com preços mais acessíveis.>
“Um dos grandes erros das pessoas é viver em um padrão de vida não compatível com sua situação financeira. É difícil ter que retirar o filho de uma escola boa e colocá-lo em uma escola menor, mas insistir em uma conta que não pode pagar não resolve. É preciso viver no padrão de vida que a situação permite. Esse é o segredo do equilíbrio financeiro”, aconselha Freire.>
No caso dos pais que já estão em dívida com a escola, o economista orienta que eles façam a análise de quanto podem pagar por mês para quitar do débito e só depois procurem a instituição para negociar a dívida. Freire conta que um erro frequente dos devedores sem equilíbrio é assumir mensalidades que não cabem no orçamento. Aline Lucena conseguiu desconto de 10% (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Pais A empresária Aline Lucena, 37 anos, conseguiu um desconto de 10% na mensalidade depois que matriculou a filha de 4 anos na mesma escola em que o filho mais velho, de 9, já estuda. O fato de ter dois filhos no quadro de alunos foi o que garantiu o abatimento na despesa.>
Ela conta que isso deu um alívio no bolso, mas não acabou com a preocupação do percentual que será apresentado pela escola como reajuste para 2019. O jeito que ela encontrou foi abrir mão de alguns confortos.“Infelizmente, a gente que quer dar uma condição melhor de estudos tem que estar ciente disso. Deixo de fazer viagem, mas tudo em nome da educação”, afirma.A engenheira eletricista Márcia Esperidião e Cerqueira, 36, tem um filho de 7 anos que cursa o 2º ano do ensino fundamental e está preocupada com o reajuste da mensalidade. Em 2018, o percentual apresentado pela escola surpreendeu e a obrigou a rever as despesas em casa.“Considerando que o meu salário teve reajuste de apenas 2,75% em 2017, fiquei surpresa com o percentual de acréscimo de 8,5% aplicado à mensalidade escolar do meu filho na matrícula de 2018. Muito maior, inclusive, que o IPC-A de 2,8% acumulado em 12 meses à época”, diz Márcia. Márcia Cerqueira precisou fazer ajustes nas contas (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Márcia conta que aprova a metodologia da escola onde o filho estuda e, por isso, não pretende abrir mão da instituição, mas precisou fazer adaptações para honrar o compromisso.>
“Minha carga horária no trabalho é de seis horas. Por esse motivo, consegui compensar o aumento dos custos com mensalidade dispensando o trabalho de empregada doméstica e optando por contratação de diarista, reduzindo, assim, os custos com salário e encargos sociais”, explica.>
O técnico de radiologia Isaias Andrade diz que começa a segurar as contas três meses antes do início ano letivo, usando inclusive parte do 13º para não desequilibrar as contas. A mensalidade da escola do filho de 10 anos equivale a 10% do salário de Isaias. Ele reclama do reajuste, mas diz que entende.>
“Uma boa família tem que ter sua programação anual, porque a escola não é um remédio que você vai comprar esporadicamente, numa emergência. O ideal seria que não tivesse o aumento, diante da crise que vivemos, mas, diante dos fatos, dos encargos que a escola também precisa pagar, é válido”, conta o pai. >
Por meio de nota, a Federação Nacional das Escolas Particulares explicou que “por Lei, a entidade não pode sinalizar índices de reajuste nas mensalidades escolares para o ano subsequente, já que cada estabelecimento de ensino tem a liberdade de estabelecer o reajuste para o ano de 2019 de acordo com suas planilhas de custo”.>
Como acontece o reajuste>
A Lei 9.870/99 estabelece que, todos os anos, as escolas particulares devem comprovar o índice de reajuste da mensalidade. Ou seja, para instituir qualquer aumento da taxa mensal paga por aluno, devem demonstrar que o reajuste é necessário para a manutenção da unidade.>
Isso acontece por meio de planilhas e análises financeiras, que devem conter todos os custos da escola contrastados com os valores de todas as mensalidades. É a boa e velha comparação entre despesas e receitas. E é impossível manter qualquer negócio no azul se o valor gasto for maior do que o que entra no caixa.>
No entanto, os alunos são divididos em níveis de ensino e, portanto, as mensalidades devem ser diferentes. Se os pais acharem que o valor cobrado é abusivo, devem procurar orientação.>
“Na dúvida, os pais devem procurar o Procon, sempre que desconfiar que os valores apresentados pela escola são maiores que o devido”, explica Iratan Vilas Boas. Os canais de denúncia são através de atendimento presencial, pelo e-mail [email protected] ou pelo App Proconba.mobile. Ele conversou com o CORREIO. Isaias Andrade reclamou, mas disse que entende o reajuste (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Valores Os servidores públicos da Bahia e do município de Salvador têm direito a descontos em diversas escolas, na capital e no interior do estado. O percentual de abatimento fica a critério das instituições ou leva em consideração o rendimento dos trabalhadores. >
Em 2018, a prefeitura de Salvador manteve parceria com 56 escolas. Segundo a Secretaria Municipal de Comunicação (Secom), a parceria deve continuar em 2019. Servidores que recebem até R$ 2,5 mil podem ter até 90% de desconto na mensalidade. Em 2018, foram 1.468 beneficiados. Os interessados devem ficar atentos ao edital de concessão de bolsas que será publicado até o final do ano. >
No Governo do Estado os servidores têm direito a abatimentos através do Clube de Desconto. Na prática, a Secretaria da Administração (SAEB) mantém parceria com 18 escolas privadas, que oferecem abatimentos de 10% a 30% nas mensalidades. O percentual fica a critério das escolas. >
O CORREIO consultou as escolas particulares de Salvador mais bem colocadas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para saber o percentual de reajuste para o próximo ano, mas os valores ainda não foram definidos. A central de matrícula de algumas instituições, no entanto, estimam aumento de até 10% nas mensalidades. Confira as escolas consultadas abaixo:Colégio Villa Campus de Educação Colégio Yolanda Rocha Colégio Marízia Maior Colégio Salesiano Escola Bahiana de Ciência e Tecnologia Colégio Sartre COC Colégio São José Colégio Montesoriano ISBA Colégio Adventista da Liberdade Colégio Vitória-Régia Colégio Anchieta Colégio Adventista de Castelo Branco Colégio Ramo da Videira Colégio São Paulo *Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier>