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Da Redação
Publicado em 14 de dezembro de 2021 às 05:36
- Atualizado há 2 anos
Um atua no combate ao racismo e a violência policial. O outro ensina programação para estudantes. E o terceiro simula debates da Organização das Nações Unidas (ONU). Três projetos, três jovens que desejam fazer a diferença. Os baianos Felipe Carvalho, João Victor Santos e João Victor Conceição têm entre 18 e 19 anos, mas a pouca idade não impede as muitas ideias para transformar o mundo. Os jovens ficaram entre os 10 finalistas do Prêmio Prudential Espírito Comunitário 2021, realizado nesta segunda-feira (13). Não venceram a final, mas só de estar entre os 10 primeiros valeu a pena, afirmaram. A premiação reconhece ações de voluntariado no Brasil. >
Atuando no combate à discriminação racial, o coletivo ‘Incomode’ concorreu ao primeiro lugar do concurso. Quem representa a organização, que conta com mais de 100 pessoas, é o estudante João Victor Silva Conceição, 18. Ele acabou de concluir o ensino médio em uma escola pública, mora na ocupação Quilombo do Paraíso, no subúrbio de Salvador, e tem uma filha de 1 ano e três meses. >
Vítima de racismo e violência policial, João Victor Conceição viu nas próprias dores o as principais motivações para a criação do coletivo, em 2017. “Eu trabalhava como baleiro, porque minha mãe sempre me criou sozinha com meus irmãos. Certa vez, eu estava no ônibus vendendo e o policial pediu para o motorista parar e todo mundo descer, achando que eu estava armado e com drogas. Ele jogou minha mercadoria fora e me tirou do coletivo”, conta o jovem. >
Outra situação foi um linchamento sofrido a caminho da escola. “Eu usava uma corrente com pingente de arma. O policial disse que eu era vagabundo, levou meu dinheiro e ficou por isso mesmo. A gente sofre por ser da periferia e, mais ainda, por ser negro”. Foi então que ele decidiu promover a conscientização sobre o racismo e a violência contra a juventude negra, junto com um grupo de amigos e colegas da escola, >
Ao todo, o coletivo ‘Incomode’ abrange 10 escolas e mais de 250 alunos. Eles fazem ainda uma marcha anual, no dia 20 de junho, que vai do Lobato a São Bartolomeu, que reúne entre mil e duas pessoas. Ela motivou a sanção da lei que criou o Dia Estadual da Luta Contra o Encarceramento da Juventude Negra. Além do racismo, o grupo discute feminicídio e os direitos da população LGBTQIA+. Em parceria com o Juventude Negra em Participação Política (JNPP), uma cartilha foi lançada, em 2019, compilando as informações sobre os temas, como as leis aprovadas e locais de denúncia. >
O jovem não esperava concorrer ao prêmio. “Estamos felizes só em saber que ficamos entre os finalistas. É uma emoção que não tem como explicar. A nossa pauta é fazer projetos voltados para a luta dos jovens negros da periferia, das mães negras da periferia e das mães solteiras", explicou o estudante. >
Debates>
Felipe Carvalho, 18, participou da competição pelo seu trabalho no Instituto Diplomun. Ele criou a organização sem fins lucrativos, em março de 2020, para democratizar as simulações da ONU, o mundo da diplomacia e habilidades como oratória, liderança e negociação. Nos quase dois anos de projeto, mais de 14 mil pessoas foram impactadas, de 23 países diferentes. A maioria dos cursos é gratuita e em português. Porém, alguns comitês de simulação também são feitos em inglês. >
“Temos o objetivo de democratizar a diplomacia e as simulações da ONU, realizando bootcamps [treinamento intensivo, na tradução do inglês, usado para definir projetos que juntam várias pessoas em um treinamento técnico] e falando de política internacional. Para isso, fazemos várias palestras com diplomatas e professores de Harvard; além de dinâmicas para as pessoas desenvolverem projetos e, com frequência, simulações da ONU”, explica Felipe. >
Na Bahia, eles têm parceria com escolas estaduais, através da Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC). Em um evento realizado em novembro, mais de 100 alunos – incluindo quilombolas e pessoas com deficiências - de 80 municípios participaram de simulações, workshops e cursos. Foi a primeira vez que a simulação da ONU ocorreu em escolas estaduais. Os estudantes ficaram hospedados no Hotel Fiesta e tiveram 80 horas de atividades. >
Felipe pretende usar a visibilidade do Prêmio Prudential para investir na organização, a partir do recrutamento de mais pessoas para compor a equipe. No momento, apenas sete pessoas fazem parte do grupo. Para o futuro, ele pensa em seguir carreira em Relações Internacionais, nas áreas de política e educação, nos Estados Unidos. >
Programação>
Já João Victor Santos, 19, inova em voluntariado na área de tecnologia. Ele criou, no início de 2020, o Code Lab, que ensina programação gratuitamente para estudantes entre 14 e 23 anos de todo o Brasil através de mentorias e workshops. Ao todo, cerca de 200 pessoas participaram das atividades desenvolvidas pelo projeto. “Nosso objetivo principal é conectar mentores voluntários com pessoas que tenham o desejo de aprender programação e transformar sua comunidade”, explica. >
Ele começou a aprender programação aos 15 anos, no Instituto Federal da Bahia (Ifba), onde faz curso técnico de informática. O desejo de criar o Code Lab surgiu ali. “Comecei a perceber que o acesso que tive de programação da minha escola não era uma realidade no panorama geral de todos os estudantes, principalmente os de escola pública. A partir disso, comecei a pensar formas de solucionar isso”, conta. >
As aulas são online e têm duração de até seis meses, duas horas por semana. Ao todo, 30 mentores voluntários participam do projeto. O objetivo é também promover inclusão. “Além de democratizar o acesso, nosso foco é trazer mais inclusão, porque o mercado da programação é marcado por pessoas brancas, heterossexuais e do gênero masculino. Então, nas nossas escolhas, sempre optamos mais pelo público feminino e LGBTQIA+”, completa. >
A intenção do rapaz é investir cada vez mais no Code Lab. “Ser finalista da Prudential é uma responsabilidade muito grande e mostra que o projeto deve continuar. Por isso, nosso objetivo é trazer o curso para escolas e providenciar o material para pessoas que não têm computador ou internet aprenderem programação”. >