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Hilza Cordeiro
Publicado em 21 de fevereiro de 2020 às 06:02
- Atualizado há 2 anos
O que é o Carnaval, senão uma troca coletiva de saliva a céu aberto? Na base do beijo, os solteiros se movem de um lado a outro. Basta ter perna e língua. Nesta quinta-feira (20), logo no primeiro dia de Carnaval em Salvador, o CORREIO foi ao circuito Barra-Ondina para montar uma espécie de Mapa da Pegação. Há quem diga que isso não existe: “Para mim, o local de beijar é do Farol da Barra às Gordinhas, tenho isso, não”, afirma o estudante Yago Silva, 19 anos. Mas há quem saiba que há, sim, no circuito, pontos estratégicos.>
Infelizmente, não há placas sinalizando os PPs (Pontos de Pegação), mas os foliões beijoqueiros ajudaram o CORREIO a listar os locais onde o esquema rola solto. Segundo a pesquisa, o auge da beijação é na região do Morro do Cristo. Ali no próprio morrinho, mais escuro e discreto, ou no meio da rua, para quem não deve nada a ninguém. Como nessa área há uma subidinha, a galera diminui a velocidade e se encara mais.>
O Morro do Gato, já na divisa com Ondina, também foi bem citado. Uma das partes mais abertas do circuito, o lugar fica no meio do trajeto dos trios e é quase um ponto de descanso das “paletadas”, onde os foliões avistam melhor os crushs potenciais.>
O terceiro ponto mais citado foi a região das Gordinhas, já no final do circuito. Quem pensa que a energia desse povo esgota, se engana. Inimigos do fim, os beijoqueiros ainda saem buscando as almas vivas que estão ali de prontidão para a saliência.>
VEJA MAPA AO FINAL DA MATÉRIA>
Estratégia Com ponto ou sem ponto, o que o povo tem, mesmo, é estratégia. E ontem elas foram lançadas na rua. Seis amigos botaram a criatividade a serviço do objetivo maior. Com um grande dado de pelúcia, eles criaram um jogo: cada um tinha na camisa um número de bolinhas referente às seis faces do dado. A menina que aceitar jogar tem que beijar o cara do número sorteado. Nas costas das blusas, o @ do Instagram, é claro, para facilitar na hora de localizar os contatinhos. Amigos estavam, literalmente, 'dados' nessa quinta de abertura de Carnaval (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) Na turma das meninas, um grupo de 20 amigas todos os anos faz o próprio bloco com a música que apostam que será o tema do Carnaval. Já teve um ano que saíram de Jeniffer; agora, em 2020, elegeram o ‘Contatinho’, de Léo Santana.>
O abadá personalizado tem 10 lacunas para que os pretendentes escrevam nome, telefone e @. Segundo Ithy Vasques, a idealizadora do projeto, a meta é voltar para casa com a blusa toda preenchida. “Se faltar espaço, a gente pede para escrever nas costas”, se diverte. A cor da camisa delas também não foi à toa. O tom verde neon-marca-texto foi fazê-las se destacar no meio da multidão. "A gente quer chamar atenção mesmo", atestou Ithy. Grupo de amigas estava em busca do restante da galera do bloco (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) Foco no contatinho Não tem hora, nem lugar para beijar na boca. Tem gente que até vai focado no trio, mas a meta, mesmo, é encher a agenda de contatinhos. É o caso do estudante Leandro Dias, 20, que está solteiro e disponível.>
“Eu tô solteiro há um certo tempo e o Carnaval é conhecido como a festa que o solteiro gosta, né? Então, comigo não é diferente. Estou com alguns contatinhos que converso há um tempo, mas nada que seja algo sério, o que me possibilita estar aberto a conhecer novos nesse Carnaval”, diz.>
O professor Igor Reis, 23, também está pronto para celebrar a diversidade - beijando na boca, é claro: “Eu espero nesse Carnaval que a diversidade possa reinar tranquila, porque a folia vem sempre acompanhada do medo da violência vindo de vários lados. É beijar na boca pra celebrar a riqueza da diferença”, declarou.>
Para quem ainda não anotou, segue a lista de locais citados pelos beijoqueiros:Morro do Cristo Espetinho do Guga Antigo Beco da Off Atrás do Farol da Barra Morro do Gato Praias ao fundo do Camarote Nana Escultura das Gordinhas >
Beijoqueiros A ambulante Liliane Santana trabalha rodeada de beijoqueiros. Com o isopor posicionado no Barra Center, ela diz que o local é point do envolvimento. Próximo da largada dos trios, onde tem concentração, o local é mais espaçoso, propício para os espalhafatosos.Segundo ela, Rosemary, sua amiga é a “Maria Beijoqueira”. “Aqui, ela gasta um batom por dia. Ela mete um sutiã que bota os peitos lá em cima e faz várias vítimas”, brinca. De óculos escuros e batom vermelho, Rose só ri, sem se entregar.Apontando para o amigo Júnior de Souza, 27, Liliane apresenta ele como o “terror das gringas”. Ano passado ele ‘pegou’ cinco, confessou. A meta para esse ano, segundo o rapaz, é beijar 30. “Dá umas cinco por dia”, calculou. Segundo as amigas, ele é casado, mas Júnior garantiu que, no Carnaval, é tudo liberado. Ele estava até sem aliança. A ambulante Liliane entregou os dois amigos beijoqueiros, Júnior (de preto), e Rose, ao fundo, que saiu se escondendo (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) Pensa que quem está trabalhando fica de fora da pegação? Carlos Eduardo Pereira, 19, se reveza no isopor com a família. Enquanto os parentes estão no batente, ele paquera. Ano passado, ele disse que ficou mais seletivo e ficou com cinco gatas. O perfil preferido dele são as morenas com o cabelo cacheado.“Eu já chego chamando para pagar uma cerveja. Se eu gostar muito, já chamo para pocar minhas espinhas e aí é namoro”, gargalha. Comprometidas no último ano, as primas Emilly Beatriz e Fernanda Saraiva vieram para descontar tudo o que não fizeram no carnaval passado. Vestida de Coelhinha da Playboy, Emilly denuncia para que veio. Segundo elas, o melhor esquema é o seguinte: mirar o boy, dar o match ali na troca de olhares, conversar um pouco e convidar para o local do encontro: as pedras atrás do Farol.“Eu detesto quem chega puxando, para mim é melhor quando rola um papo”, avisa Emily. Já Fernanda diz que não sai beijando qualquer um, prefere os rostos conhecidos (leia-se: os que ela dá match no Tinder). A explicação por esse afobamento para trocar saliva no Carnaval está na ponta da língua das meninas. Emily diz que a diferença entre beijar em fevereiro e beijar em agosto é que, na folia carnavalesca, muito mais gente sai de casa “com essa mesma intenção”, argumenta. >