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Albert dos Santos de Jesus, 18 anos, foi morto pela polícia com outros três jovens
Alexandre Lyrio
Publicado em 19 de janeiro de 2019 às 14:48
- Atualizado há um ano
Familiares de duas das vítimas mortas pela polícia no bairro de Tancredo Neves, no início da tarde de sexta-feira (18), contestaram a versão da PM sobre o fato. No Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), o pai de Albert dos Santos de Jesus, que tinha 18 anos, disse que os quatro jovens estavam desarmados e foram executados sem chance de defesa. "Não teve confronto. Pegaram os meninos desarmados e executaram. Meu filho ainda pediu: 'não me mate, não!', contou Marcelo Leão de Jesus.
Na versão da Secretaria da Segurança Pública (SSP), os mortos trocaram tiros com policiais da 23ª Companhia Independente (CIPM/Tancredo Neves), que teriam sido acionados após uma denúncia de moradores. Com a chegada no local indicado, diz a polícia, os PMs foram recebidos a tiros pelo grupo, que seria formado por dez homens armados e estavam na Rua Valter Diniz. Albert, um dos mortos, tinha 18 anos: 'Trabalhava desde os 12', diz o pai (Foto: Reprodução) O pai de Albert garante que o filho era trabalhador e vendia capas de celulares na Avenida Sete de Setembro, na região do Relógio de São Pedro. Ele admite, porém, que o jovem usava drogas e "andava com gente que era envolvido com tráfico". "Alguns tinham envovimento, não vou negar ao senhor. Meu filho só tava no meio. É usuário. Usa drogas. Mas você sabe que quem tá no meio sobra, né?".
A mãe de outra vítima, Gabriel França dos Santos, que também tinha 18 anos, deu uma versão semelhante. Ela diz que o filho não tem passagem pela polícia e foi morto sem chance de defesa. "Eles sempre falam que foi troca de tiros, mas a verdade é que eles já chegam metendo, né", afirmou Shirley França de Oliveira. Ela e o padrasto do rapaz não souberam dizer se Gabriel era envolvido com o tráfico de drogas. "A gente não consegue controlar um filho 24 horas no dia, né?", ponderou o padrasto.
Enquanto isso, a versão da polícia dá conta de que, além de Albert e Gabriel, outros dois integrantes do grupo foram atingidos. A polícia não divulgou os nomes dos demais. Dois deles foram encontrados feridos próximo a uma estrada de barro na região, com duas armas. Os outros dois acabaram localizados dentro de uma área de matagal. Todos foram socorridos para o Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula, mas não resistiram aos ferimentos.
Com os suspeitos, diz a SSP, foi encontrada uma sacola com 77 pedras de crack, 43 trouxas de maconha e 66 pinos de cocaína, além de uma pistola.40 e um revólver calibre 38. O material foi apreendido. O registro do confronto foi realizado na Corregedoria da Polícia Militar. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) acompanhará o caso. O local onde ocorreu o fato também passará por perícia.
Marcelo disse ainda que o fato ocorreu próximo à Vila Moisés, onde em 2015 doze jovens morreram em um suposto confronto com a polícia. Na versão da PM, eles estavam envolvidos em uma ação para explodir um banco. Até hoje a comunidade luta para provar a inocência dos jovens. O Ministério Público pediu a prisão dos policiais por homicídio triplamente qualificado. O MP tentou federalizar a Chacina do Cabula - como ficou conhecida a operação das Rondas Especiais (Rondesp) - levando-a para o Superios Tribunal de Justiça (STJ). Mas, em novembro passado, o próprio STJ decidiu que Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) ficasse à frente do caso.
No IML, a mãe e as tias de Albert, que também estavam no IML, disseram apenas que não iriam dar qualquer declarações porque "a gente sabe que não dá em nada". O pai de Albert contou ainda que seu cunhado, tio do rapaz, tentou pular na frente dos policiais para evitar que o sobrinho morresse. "Ele quase foi metralhado também". "Fiz de tudo pra esse menino se tornar trabalhador. Desde 12 anos ele já trabalhava. Meu filho não é vagabundo, não! Só fez amizade com quem não devia".