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Nelson Maca: Uma Literatura na Encruzilhada

  • D
  • Da Redação

Publicado em 29 de setembro de 2012 às 08:19

 - Atualizado há 2 anos

Nelson Maca*

Salvador conta com vários eventos literários além das formas e cercanias escolares ou acadêmicas. Um olhar rápido pela cidade constata que sua histórica verve literária se renova de maneira consistente. E mais: admite a diversidade maior na sua demanda, não permitindo que a grande casa silencie os ruídos da rua. Os saraus, por exemplo, voltam à cena, geograficamente periféricos e esteticamente divergentes. Nesse ambiente, a palavra retoma sua vivacidade na oralidade. Nas performances dos poetas e declamadores, admite variações, quebrando os limites entre linguagens, promovendo hibridismos e tendo a efemiridade como possiblidade válida.Realizado há três anos, às quartas, no Sankofa African Bar, no Pelourinho, o Sarau Bem Black tem se notabilizado pelo seu formato, continuidade e disseminação. E influenciou objetivamente três iniciativas locais: o Sarau da Onça, em Sussuarana; o Sarau da Mata, na Mata Escura; e o Sarau do Cosme, em Cosme de Farias. Os dois primeiros acontecem há um ano. O terceiro desdobra-se do Projeto Pet Comunidades da Ufba, coordenado por Henrique Freitas, que chama essa movimentação de literatura-terreiro.No candomblé se toca, canta e dança para chamar o orixá. Também os saraus exigem uma ritualização que permita a desierarquização de seus elementos primordiais, para que o transe fundador permita a incorporação das potencialidades latentes. A chegada da entidade se dá na fusão do texto verbal de seus cavalos, do ritmo do trio de atabaques e da gestualidade dançante do corpo. De maneira análoga, os saraus ritualizam-se na multiplicidade materializada nas expressões do cavalo-poeta. O batuque produzido nessas casas se alastra pela cidade!Esse comportamento desrespeita a centralidade das tradições que essencializa a escrita. Nos saraus, a oralidade é reincorporada no texto como elemento prenhe de significação e simbolismo. Mas o binômio escrita-fala não encerra os hibridismos do Exu-Poética que os determina. Seu texto-padê estabelece cumplicidade criativa-expressiva com outras sonoridades, musicalidades, plasticidades, corporalidades, gestualidades. Localizo essa produção no conjunto maior da Literatura Divergente, conceito que realizou seu primeiro encontro na Biblioteca Temática de Poesia Alceu Amoroso Lima, no início do mês, em São Paulo. Um amplo painel de definições e posturas envolveu produtores, autores, rappers, declamadores e performers. Idealizei o encontro e dividi sua curadoria com Berimba de Jesus, do Poesia Maloqueirista (SP). Entre os participantes, dois ilustres poetas baianos: Karina Rabinovitz, com palestra precisa e bela leitura de textos, mostrou imagens de intervenções poéticas na concretude cotidiana; e Robson Veio, que representou o Sarau Bem Black e explicou a razão de ser de um sarau negro que dialoga com a cultura  hip hop.Toda a movimentação que se deu no Encontro de Literatura Divergente tem a ver com a trajetória do Sarau Bem Black e sua encruzilhada criativa em Salvador. Além de Karina, já passou pelo sarau grande parte dos presentes em São Paulo. Em forma e variedade, a Bahia estabelece, com fundamento, uma Literatura na Encruzilhada.

* Nelson Maca é poeta, articulador do Blackitude, professor da UCSal e membro do Conselho Estadual de Cultura