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Publicado em 8 de março de 2016 às 16:03
- Atualizado há 2 anos
A Bahia tem um umbigo, só dela, no meio da Baía de Todos os Santos, há pelo menos 400 anos. Foi logo no comecinho dos anos 1.600 que o Forte de São Marcelo – também conhecido como Forte do Mar ou Forte de Nossa Senhora do Pópulo – foi projetado e construído, em formato quase circular, a fim de defender a cidade de Salvador de novos ataques holandeses. Há dez anos, virou ponto turístico, quando foi aberto para a visitação pública e ganhou status de museu. >
Acontece que, desde 2011, o famoso umbigo só pode ser visto de longe. É que a obra de restauração do espaço de 2,6 mil m² de área construída, nunca atacado militarmente, está parada há 47 dias. De acordo com o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na Bahia, Fernando Ornelas, a empresa contratada para fazer a restauração parou as atividades no dia 21 de janeiro.>
“A obra está parada por questões do Iphan. Houve um problema operacional no pagamento de uma fatura, que não foi paga quando deveria. E quando venceram os 90 dias para pagar, a empresa solicitou a suspensão provisória das obras até a parcela ser quitada”, disse Ornelas.(Foto: Marina Silva/CORREIO)Segundo ele, o órgão, que é responsável pela restauração do Forte, está correndo para tentar quitar o débito ainda na primeira quinzena de março. Após a retomada da obra, a previsão é que ela seja concluída em 60 dias. A empresa que a executa, a Ônix Construções S.A, foi procurada, mas ninguém foi localizado.>
RecursosNa prática, o único forte em formato circular do país, tombado como patrimônio histórico nacional desde maio de 1938, só pôde ser visitado pelo público durante cinco anos. Em 2011, o local foi fechado e a Associação dos Amigos das Fortificações Militares e Sítios Históricos (Abraf), que administrava o lugar, despejada. A ideia era que, de volta à gestão do estado, o lugar fosse reaberto ao público no Verão de 2013, o que não aconteceu.>
As obras de restauração só começaram no dia 20 de outubro de 2014 e deveriam ter sido finalizadas em outubro do ano passado. Ainda faltam, de acordo com Fernando Ornelas, 15% para concluir as intervenções. Dos R$ 7,5 milhões liberados pelo PAC Cidades Históricas, do governo federal, R$ 3 milhões já foram faturados, ainda faltam R$ 4,6 milhões a ser utilizados.>
O Forte de São Marcelo é um dos 23 monumentos selecionados em Salvador para receber recursos do programa federal. A seleção foi anunciada em dezembro de 2012 e as 23 obras deveriam ficar prontas num prazo de três anos – que se encerra no final de 2016. No entanto, apenas seis delas estão em andamento e nenhuma foi concluída.>
Na mesma época, foram anunciadas a requalificação e a urbanização de 326 vias e desapropriação de 328 imóveis. Segundo o Centro Antigo de Salvador (Dircas), da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), o projeto Pelas Ruas do Centro Antigo vai contemplar 267 ruas com investimento de R$ 124 milhões. A conclusão está prevista para o fim de 2016. Em 2013, 400 imóveis foram desapropriados.>
O turismólogo paulista Daniel Boucault, 37 anos, lamentou encontrar espaços como o Forte e a Catedral Basílica fechados. Ele e um casal de amigos argentinos foram visitar o Pelourinho e excluíram os locais fechados. “Muita gente pergunta se não tem acesso. Eu conheço várias capitais europeias que investem muito no patrimônio”, disse.>
De acordo com Ornelas, “todos os projetos executivos das demais obras estão prontos. Mas das 23 obras, apenas duas estão com processo licitatório aberto: a restauração de um casarão na Ladeira da Barroquinha para implantação da sede da Fundação Gregório de Mattos, e a restauração do antigo Hotel Castro Alves, para ampliação do Centro Cultural da Barroquinha.>
Outros pontosTambém estão sendo reformadas a Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo (restam 38%), a Igreja da Ordem Terceira de São Domingos (faltam 20%), o Cerimonial da Conceição da Praia (restam 80%), o Plano Inclinado Gonçalves e seu frontispício (restam 60%), e a Catedral Basílica (faltam 40%).>
O coordenador do PAC Cidades Históricas na Bahia, Mário Vítor Bastos, tentou explicar os atrasos e garantiu que todas as obras serão concluídas. “O serviço de restauração é muito específico e vão surgindo descobertas a todo momento”, justificou.>