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Gilberto Barbosa
Publicado em 19 de maio de 2025 às 20:42
Aluno da primeira turma da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba), um dos criadores do Teatro Vila Velha e um dos grandes nomes da dramaturgia brasileira. Palavras não faltam para descrever a grandeza de Othon Bastos que, nos seus 75 anos de carreira, deu vida a alguns dos personagens mais célebres do cinema nacional.
O ator recebeu a Medalha Arlindo Fragoso pela Academia de Letras da Bahia (ALB). O evento ocorreu no final da tarde desta segunda-feira (19), na sede da instituição, no bairro de Nazaré. A medalha leva o nome do fundador da ALB e homenageia personalidades de destaque na sua área.
“Estou mais nervoso e mais emocionado do que numa estreia. Muito obrigado por essa homenagem a minha vida. Um grande mestre dizia que o tempo destrói todos aqueles que fizeram as coisas sem a minha presença. Se estou aqui, é porque dei tempo ao tempo e pensei muito em seguir a vida. Viver é a maior alegria nesse tempo, é ganhar a vida, sobreviver a tudo e não se deixar vencer”, disse o ator após receber a medalha.
Natural de Tucano, no nordeste baiano, o ator fixou residência no Rio de Janeiro ainda jovem, após a morte de seus pais. Nos anos 50, ele integrou a primeira turma da Escola de Teatro da Ufba e, junto com alunos dissidentes da instituição, fundou o Teatro Vila Velha.
No cinema, Othon fez dezenas de filmes, como ‘Deus e o diabo na terra do sol’ e ‘O dragão da maldade contra o santo guerreiro’, de Glauber Rocha; 'São Bernardo', de Leon Hirszman; ‘O que é Isso, companheiro?’, de Bruno Barreto; e ‘Central do Brasil’, de Walter Salles. Na televisão, é recordista em participações, já tendo atuado em mais de 80 produções, entre novelas, séries, minisséries e casos especiais.
“Eu tenho um amigo que diz que os livros que eu já deixei de ler formam uma biblioteca vastíssima. A verdade é que eu não tive muito tempo de ler porque por mais que você tente, você não consegue chegar ao ponto de ler tudo. Cada dia são autores e livros novos, cada um falando para a sua época. Eu leio desde 1944 e meu pai me aconselhava a ler todos os autores”, contou o ator.
“Ler é a coisa mais importante que tem, principalmente nos tempos atuais. Mas peçam para ter o livro na mão, a versão física. Você tem que ler, você tem que amar o livro, é muito importante amar o livro”, completou.
Prestes a completar 92 anos, o ator está em Salvador para apresentar seu primeiro monólogo 'Não me entrego, não’, no qual apresenta histórias de sua vida pessoal e profissional. A peça será realizada entre os dias 21 e 25 de maio, no Teatro Sesc Casa do Comércio.
“Eu sempre ouvia que não deveria deixar o teatro. A minha expectativa (para a peça) é enorme. São mais de 20 anos que eu não venho a Salvador, depois de sair para ganhar a vida no Rio de Janeiro e em São Paulo. Espero receber da Bahia todo o carinho com o qual eu saí daqui. Não saí brigado, muito pelo contrário, saí saudoso porque as minhas raízes estão aqui. Eu posso ter saído daqui, mas nunca vou deixar de ser um tucanense”, falou.
O evento contou com a presença do presidente da ALB, Aleilton Fonseca, acadêmicos e de contemporâneos de Othon na Ufba, como a coreógrafa Lia Robatto. Membro da ALB, Mirella Márcia foi responsável por abrir a cerimônia. “Othon é baiano e teve uma etapa muito importante de sua trajetória profissional na Bahia. Ele deu vida a alguns dos maiores personagens do século XX e projetou o estado para o mundo. A Bahia precisava reconhecê-lo”, afirmou Mirella.
“É importante a Academia reconhecer não só a literatura como a sua área de atuação, mas também artes, as ciências e, no caso, o teatro como uma área da cultura significativa para Bahia. Othon é um dos maiores nomes do teatro brasileiro, um gigante da atuação e, sendo baiano, é mais que justo que ele seja reconhecido”, disse Lia.