Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2023 às 15:04
- Atualizado há 2 anos
Um grupo de cerca de 20 alunos da Universidade Católica do Salvador (Ucsal) realizou um protesto no campus Pituaçu, nesta terça-feira (24), contra um suposto sucateamento da tradicional instituição de ensino superior. Eles se queixam, por exemplo, do baixo número de professores; do mínimo de disciplinas por semestre (seis); e do formato do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que passou a ser obrigatoriamente em grupo. >
“Temos diversos cursos que estão sendo constantemente sucateados. Além disso, estamos passando por uma situação em que somos basicamente coagidos a pegar disciplinas que não precisamos”, contou o estudante Victor Gabriel Oliveira, de 24 anos. “A grade é montada pela universidade, e não sabemos quanto estamos pagando por cada matéria”, reclamou o jovem. >
Em nota, a Ucsal afirmou que segue o seu regimento geral em relação à matrícula e que se reuniu com os estudantes que estiveram no ato hoje, tratando as reivindicações "cuidadosamente", com nova reunião marcada para essa semana. "Todas as demandas dos estudantes foram devidamente registradas em ata e já foram ou estão sendo resolvidas", diz o texto (leia a resposta completa ao final da matéria).>
No mês passado, ex-professores da Ucsal denunciaram ao CORREIO o não pagamento, pela universidade, de indenizações trabalhistas a cerca de 60 docentes demitidos em massa entre julho e agosto — realidade que se mantém até hoje. Segundo relatórios da própria instituição, de 2010 a 2020, o número de professores caiu de 751 para 352, ou seja, 53% a menos. No mesmo período, a queda da quantidade de alunos foi 30%. >
Com o ‘enxugamento’ do quadro docente, tanto os remanescentes como os estudantes têm sentido o reflexo dos problemas internos da Católica. “No caso da Licenciatura em Letras, nós temos cinco ou seis professores, somente. E, nisso, eles têm que fazer rodízios e pegar matérias a mais, inclusive fora das áreas deles”, indignou-se Yasmin Ramos, 20. >
Para completar a situação, ela e os outros alunos receberam, no fim do ano passado, a notícia de que os TCCs passariam a ser feitos obrigatoriamente em grupos. “A princípio, ninguém foi informado de nada. É uma coisa que tem acontecido muito aqui essa falta de diálogo”, destacou Yasmin. “Parece que é um projeto pra fechar a universidade”, desabafou. >
Nem bacharelados como o em Serviço Social, já antigo, escaparam da crise institucional. “Nosso curso tá defasado. Tivemos professores demitidos que já tinham mais de 20 anos de casa, principalmente em 2022”, relatou o estudante Moisés Bispo, 29. “Agora, Serviço Social conta com três professores, da graduação, e uma professora, que é da pós-graduação”, consegue contar, com uma só mão, o jovem.>
Em julho, o Ecossistema Brasília Educacional, que tinha assumido a gestão das atividades da Ucsal, informou ao CORREIO estar ciente das dificuldades financeiras da instituição baiana e que pretendia ‘dar fôlego’, para poder resolver as demandas. >
A Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres), do Ministério da Educação (MEC) foi contatada, mas não deu retorno.>
Sinpro-BA classifica situação como ‘show de horrores’ >
O coordenador-geral do Sindicato dos Professores na Bahia (Sinpro-BA), Allysson Mustafa, recordou que a Universidade Católica já é assombrada por problemas de gestão há, no mínimo, mais de duas décadas. “São descumprimentos e ilegalidades, frustrando tanto os trabalhadores como os estudantes e, portanto, frustrando a sociedade como um todo”, afirmou Mustafa, que classificou a situação como um ‘show de horrores’. >
“Um show de horrores, infelizmente, para uma instituição com décadas de bons serviços prestados à comunidade, mas que, nesses últimos anos, tem trazido uma mancha grande na sua história”, lamentou-se coordenador-geral do Sinpro-BA. >
Leia a nota da Ucsal na íntegra:>
A Universidade Católica do Salvador esclarece que a Reitoria sempre esteve aberta ao diálogo com os estudantes. Ao longo do segundo semestre de 2022 foram realizadas sete (7) edições do encontro “Diálogos com a Reitoria”, onde estudantes representantes de todos os cursos, diretórios acadêmicos, ligas acadêmicas e atléticas foram convidados a participar. Todas as demandas dos estudantes foram devidamente registradas em ata e já foram ou estão sendo resolvidas.>
Sobre o novo modelo de rematrícula, cabe afirmar que no encontro “Diálogos com a Reitoria” realizado no dia 22/11/2022 o novo fluxo, etapas e critérios foram apresentados aos estudantes, que puderam contribuir com sugestões. O novo modelo pretende ofertar turmas e disciplinas, considerando o interesse da maioria da comunidade discente. Os estudantes que, eventualmente, não se sentirem contemplados com a oferta realizada, têm à sua disposição requerimento específico, formulado virtualmente através do portal do aluno, o qual será avaliado institucionalmente em até 03 (três) dias úteis.>
Ainda sobre a matrícula, a Universidade está seguindo os parâmetros estabelecidos em seu Regimento Geral, de modo que os estudantes podem se matricular em, no mínimo, 04 (quatro) e, no máximo, 09 (nove) disciplinas. A Reitoria se reuniu com o grupo de vinte e quatro estudantes, que estiveram presentes no campus no dia de hoje (24 de janeiro de 2022), ocasião em que toda a pauta de reivindicações foi tratada cuidadosamente, já tendo sido designada nova reunião para esta semana, com o propósito de dar continuidade à escuta ativa e respeitosa dos estudantes.>
A Universidade Católica do Salvador reitera seu compromisso ético no exercício de suas atividades, mantendo a transparência e o respeito na convivência com sua comunidade acadêmica.>