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Obra foi reconstruída por filhos de artista que esculpiu original
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2023 às 07:00
- Atualizado há um ano
Mãe Stella de Oxóssi foi sacerdotisa, profunda conhecedora dos cultos do candomblé, mulher dos livros e com vocação para o cuidado. Agora, recebe o mesmo afeto que espalhou, simbolizado pela reconstrução do monumento esculpido em sua homenagem. Após cinco meses do incêndio que destruiu a escultura original, a obra que a substituirá está sendo finalizada e deve ser inaugurada em julho.
A escultura da ialorixá ficava em Stella Maris, na avenida que leva o nome dela, em Salvador, sentada na frente do seu orixá de cabeça, Oxóssi. A obra foi esculpida pelo artista plástico baiano Tatti Moreno - falecido no ano passado - e instalada na cidade em maio de 2019. Em dezembro do ano passado ela foi alvo de vândalos e os destroços foram removidos do local. Escultura original de Mãe Stella de Oxóssi (Foto: Evandro Veiga/ Arquivo CORREIO) Escultura original de Mãe Stella de Oxóssi após incêndio (Foto: Paula Fróes/ Arquivo CORREIO) Para a sorte dos baianos, os filhos de Tatti Moreno agiram rápido para impedir que aquela parte do legado do pai deles, e um dos símbolos do legado de mãe Stella, fosse esquecida. Antes da obra ser removida, os também artistas André e Gustavo Moreno mediram as partes que restaram da escultura para algum dia reconstruí-la. A segunda sorte foi que Tatti preservou os moldes e o projeto da obra.
A Prefeitura de Salvador, representada pela Fundação Gregório de Matos (FGM), compartilhava do mesmo desejo e financiou o projeto. A nova escultura está sendo construída idêntica à original, feita com fibra de vidro e em tamanho real. Foram investidos R$170 mil. Segundo Gustavo Moreno, restam apenas alguns detalhes para que ela volte para o lugar de onde nunca deveria ter saído. Gustavo (à esquerda) e André Moreno estão reconstruindo a escultura de mãe Stella há dois meses (Foto: divulgação) “Faltam os adereços que ela vai segurar na mão e os colares. Ela já está concebida e sentada na cadeira. Agora é dar os últimos acabamentos”, detalhou Gustavo, que trabalha na reconstrução desde março, junto com o irmão. A escultura de Oxóssi, que também foi afetada pelo incêndio - em menor proporção - será revitalizada para receber a nova imagem de Stella.
Para prevenir novos atos de vandalismo contra o monumento, a tinta usada na pintura dela é antichamas. Câmeras de segurança e um sistema de iluminação mais eficientes serão instaladas na Avenida Mãe Stella de Oxóssi para reforçar a segurança. Somado ao investimento na reconstrução da obra, o apoio financeiro da prefeitura chega a R$200 mil.
Para Fernando Guerreiro, presidente da FGM, a ação é mais do que uma mobilização artística, também é política. “É o nome da rua. É um monumento importantíssimo por simbolizar uma manifestação contra a intolerância religiosa contra as manifestações de matrizes africanas. É político, não apenas artístico", destacou. Margareth Menezes e outros religiosos em ato contra intolerância religiosa após incêndio de escultura de mãe Stella (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Na época do incêndio, foi levantada a hipótese de vandalismo motivado por intolerância religiosa. Lideranças de diversas religiões foram até o local prestar solidariedade aos fiéis do candomblé e pedir justiça pelo crime. A cantora Margareth Menezes foi uma das pessoas que participou do ato.
O caso foi investigado pela Polícia Civil (PC-Ba), mas o laudo do Departamento de Polícia Técnica (DPT) foi inconclusivo e não conseguiu indicar origem ou autoria do incêndio. O inquérito foi enviado para o Ministério Público da Bahia (MP-Ba), mesmo sem apontar responsáveis.
Segundo Gustavo Moreno, a nova escultura está ainda mais parecida com mãe Stella do que a original. Se assim for, é de se esperar que ela esteja ainda mais próxima da força da ialorixá e espante os males. “Ele [Tatti] tinha muito apego e afeto a tudo o que está ligado às matrizes africanas: o axé, o terreiro de mãe Stella. Para a gente é muito gratificante trazer isso de volta e poder entregar o povo da Bahia”, celebra.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo