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Da Redação
Publicado em 27 de outubro de 2022 às 17:52
Um levantamento divulgado nesta quinta-feira (27) aponta que a taxa de famílias com contas em atraso em Salvador voltou a subir e atingiu um índice histórico. Em outubro, 408 mil famílias soteropolitanas estavam individadas, o que corresponde a 43,7% do total.>
O número é o maior já registrado desde o início da série de pesquisas, realizada desde 2010. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada mensalmente pela Federação do Comércio do Estado da Bahia (Fecomércio-BA).>
O número aponta o índice de famílias que informaram que possuem dívidas em atraso. Esse é o nono mês consecutivo em que um aumento desse percentual é registrado.>
Para se ter uma noção do aumento real desses números, há um ano o percentual foi de 32,5%, representando um aumento de 105 mil famílias que não conseguiram quitar as dívidas contraídas até a data do seu vencimento.>
Outro dado preocupante da pesquisa de outubro é a taxa de famílias que afirmam que não têm nenhuma condição ou perspectiva de quitar essas dívidas. O dado é de 15,6%, maior percentual em 10 anos. São 145,6 mil famílias na capital baiana nesta situação.>
O endividamento, por sua vez, subiu de 65,1% em setembro para os atuais 66,2%. Atualmente, são 618,5 mil famílias que possuem algum tipo de dívida.>
O consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze pontua que “diferentemente das outras variáveis, neste caso houve redução de 46,7 mil famílias que passaram a não ter dívidas em relação ao mesmo período do ano passado”.>
Além disso, o economista esclarece que quando se fala em endividado, estamos falando da pessoa que contraiu algum tipo de crédito. “Quando essa mesma pessoa não quita a dívida na data do vencimento, podendo ficar em atraso a partir de um dia de não pagamento, ela é considerada inadimplente. Por isso, não necessariamente o aumento do endividamento é negativo. Só é ruim, quando é acompanhando pela ascensão da inadimplência, ou seja, quando as famílias contraem dívidas, mas não conseguem, em grande parte, quitá-las”, informa Dietze.>
Principais dívidas O principal tipo de dívida continua sendo o cartão de crédito - que afeta 85,6% dos endividados. O que vem chamando a atenção da Fecomércio é a mudança em um ano de duas modalidades: carnês e crédito pessoal. Há um ano, eram 11,7% dos endividados, enquanto o segundo estava em 5,7%. Agora, o cenário virou, de 5,9% e 10,1%, respectivamente.>
“Esses números indicam um quadro mais delicado. Isso porque o carnê é uma importante ferramenta de consumo das famílias nas lojas varejistas. Já o crédito pessoal é a modalidade que, em grande parte, é usada para pagamento de contas em atraso e compromissos do dia a dia. Ou seja, está se ampliando o crédito para compromissos do passado e diário, e reduzindo o crédito de consumo direto nas lojas”, diz o consultor econômico.>
Mais um número relevante da PEIC é o do tempo de pagamento da dívida em atraso. Há um ano, a média era de 58,8 dias e passou para 63,3 dias neste último dado de outubro. Por exemplo, dentre os inadimplentes, 38% tinham conta atrasada acima de 90 dias em outubro de 2021. O percentual na última coleta foi de 44,8%.>
“O atraso por um tempo mais prolongado é muito negativo sobretudo neste momento de alta de juros, com a SELIC a 13,75% ao ano. Ou seja, quanto mais tempo sem quitar o compromisso, mais juros a família paga e fica cada vez mais difícil equilibrar as contas”, informa Dietze.>
Para isso, a Fecomércio-BA orienta sempre que o consumidor inadimplente busque imediatamente a negociação, seja com o banco, com o varejo ou qualquer empresa que esteja devendo. “Apresente as possibilidades de pagamentos, diante da atual capacidade financeira da família, para que o lado ofertante consiga reduzir juros, multas e taxas, facilitando o acerto. É importante os consumidores também aproveitarem os “feirões de limpa nome” de final de ano de empresas como o Serasa”, compartilha o economista.>
As famílias com renda mais baixa são as que mais sentem e mais têm dificuldades para equilibrarem o orçamento. A taxa de endividamento das famílias com renda inferior a 10 salários-mínimos é de 68% e de 46% de inadimplentes. Ao mesmo tempo, para a faixa com renda superior a esse montante, as taxas respectivas foram de 47,1% e 22,9%.>
Entretanto, Dietze informa que apesar da deflação nos últimos meses, “ainda não foi possível chegar, de fato, no bolso do consumidor de classe menos favorecida, o que mantém pressão sobre o orçamento. É necessária que os preços continuem arrefecimento de forma constante para que resulte num alívio financeiro no médio e longo prazo”.>
A melhora no mercado de trabalho, as injeções do auxílio Brasil e o 13º salário devem ajudar a melhorar os dados da PEIC no final do ano, mas, por outro lado, mantém a limitação na capacidade de compras, podendo interferir nas vendas de Natal.>