Semana Santa aumenta em 70% movimento nas feiras de Salvador

Clientes estão sendo rápidos nas compras para tentar evitar aglomeração; veja regras

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  • Gil Santos

Publicado em 9 de abril de 2020 às 05:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Depois de duas semanas de queda livre no movimento de pessoas nas feiras de Salvador, por conta do isolamento social provocado pelo medo de contágio do novo coronavírus, a Semana Santa promoveu um milagre. Desde a segunda-feira (6), a circulação nesses espaços cresceu 70%, segundo os feirantes, na comparação com a semana anterior e, para atrair ainda mais público, os vendedores resolveram manter os mesmos preços do ano passado. Alguns estão oferecendo até o serviço de entrega em casa.

No geral, camarão, feijão fradinho, azeite de dendê, tempero verde e até o peixe estão na mesma média de preços dos últimos meses. São os mocinhos da cesta. Já o quiabo é o vilão da história. Em alguns lugares, o preço desse produto mais que dobrou em uma semana (veja abaixo). Feira de São Joaquim na manhã desta quarta-feira (8) (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) O presidente do Sindicato dos Feirantes e Ambulantes de Salvador, Nilton Ávila, disse que, apesar da procura ter aumentado na Feira de São Joaquim em relação à semana passada, ainda está 30% menor que o normal para o período da Semana Santa. Ele contou que os primeiros fregueses estão chegando cedo, por volta de 6h30, e que a rotatividade no estacionamento da feira está grande.

“Muita gente usando máscara e a gente tem percebido que as compras estão acontecendo mais rápido que o normal. Antes, as pessoas demoravam mais na feira, muitas vezes paravam para beber ou comer alguma coisa enquanto faziam as compras. Agora, não. Entram, compram o que precisam e vão logo embora. O movimento cresceu bastante na comparação com a semana passada, mas ainda está abaixo do normal”, disse. Vendedores também se protegeram (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Os feirantes contaram que não tiveram problemas com o abastecimento e que mantiveram os preços no mesmo patamar das últimas semanas para atrair os clientes. “A corvina, por exemplo, que é o peixe mais procurado nesse período, está por R$ 12 kg. Dentro da média. Alguns feirantes já ofereciam sistema de delivery, principalmente aqueles que trabalham com produtos usados pelas baianas de acarajé, mas a maioria não tem essa expertise”, contou.

Na banca de Otávio Vasco, 57, mais conhecido como Pingo da Feira de São Joaquim, o sistema de entrega de produtos em casa está funcionando, mas ele disse que a procura presencial cresceu 70% na comparação com a semana passada.

“Foram duas semanas sem movimento na feira. Ainda não estamos com o movimento normal para o período, mas está bem melhor e crescendo a cada dia. Os produtos que mais estão saindo são o azeite de dendê, que está de R$ 5 a R$ 7, a castanha de caju, que está de R$ 30, e o camarão que varia de R$ 16 a R$ 38 o quilo, dependendo do tipo. O amendoim torrado e o feijão fradinho também são muito procurados”, disse. Clientes começaram a aparecer a partir de segunda-feira (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) A Comercial Vasco emprega 12 funcionários. São famílias que dependem dessa atividade para viver. Na Feira das Sete Portas, o comerciante Marcelo Andrade, 45 anos, se juntou a outros quatro feirantes e está oferecendo o sistema de entrega de produtos em casa. Por lá, o movimento também aumentou esta semana. Os clientes estão usando máscaras e tentando evitar aglomeração, mas nem sempre conseguem.

“Tem um rapaz que já faz entregas de moto aqui na feira, mas, geralmente, ele fazia só na feira mesmo. Agora, está levando as compras na casa dos clientes. Funciona assim: o cliente pede os produtos, a gente pesa, e ele leva. A gente fazia isso o dia inteiro, mas como a quantidade de clientes na feira aumentou essa semana, só estamos fazendo entregas à tarde, que é quando fica mais tranquilo”, disse. Mercado do Peixe está permitindo apenas 60 clientes por vez (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Os feirantes criaram uma campanha nas redes sociais para divulgar o delivery e mandaram mensagens de WhatsApp para os clientes mais assíduos. As pessoas foram compartilhando umas com as outras até que a rede surgiu. A compra tem uma taxa de entrega que alterna de R$ 10 a R$ 15, dependendo do bairro.“Como a demanda estava baixa nas últimas semanas, eu peguei menos produtos, cerca de 30% a menos do que o que eu pegaria normalmente nesse período da Semana Santa. A demanda cresceu em relação às últimas semanas, mas ainda não está 100%. Então, por enquanto, não temos problemas de abastecimento”, afirmou. Clientes em fila do lado de fora do Mercado do Peixe (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Vilão Quando questionados sobre o preço do quiabo, os feirantes foram unânimes. Está mais caro. Bem mais caro. O cento, que custava R$ 6 na semana passada, é encontrado esta semana, em algumas bancas, por até R$ 15.

O representante da Associação dos Permissionários do Ceasa (Aspec), Carlos Bros, contou que muitos clientes procuraram o Centro de Abastecimento para comprar o produto, mas que muitos reclamaram do preço. O saco com 20 kg está sendo vendido no Ceasa por R$ 140.“O dia de maior movimento por aqui é na sexta-feira, mas como na próxima sexta não vamos funcionar, por conta do feriado, muita gente resolveu antecipar as compras. Nesta quarta-feira, o aumento de público foi de mais de 50% na comparação com a semana passada, mas acredito que por causa disso”, disse. Comerciante prepara o peixe para o cliente levar (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) A dona de casa Josefa Araújo, 53, contou que pechinchou para conseguir comprar tudo o que precisava.“O quiabo está muito caro, mas consegui comprar outros produtos no preço normal, quando tinha algum aumento era coisa pouca. Eu estou evitando sair ao máximo de casa. Na semana passada fui ao mercado fazer as compras e de lá pra cá só saí hoje para comprar as coisas da Semana Santa. Foi por uma boa razão”, afirmou.Os comerciantes foram rápidos em defender o reajuste no preço do quiabo. Alguns justificaram que ele está em falta em algumas bancas e, por isso, a procura está maior que a oferta, e outros disseram que é natural o aumento no preço nessa época do ano.

Regras de higiene devem ser seguidas

A maioria do público que vai às feiras e aos mercados se concentra entre as 5h e as 9h. É tanta gente que teve até engarrafamento nessa quarta (8) - muito por conta da Semana Santa também. Para tentar se proteger, alguns clientes levaram máscaras, e os vendedores viram alguns deles fazendo uso de álcool em gel enquanto transitavam pelos locais.

Na Feira de São Joaquim, não havia controle de acesso de pessoas nem de veículos de abastecimento. O uso de EPIs não está generalizado. Nilton Ávila, do Sindicato dos Permissionários, informou que orienta os feirantes a usarem máscaras e a disponibilizarem álcool em gel para os clientes.

No Centro de Abastecimento do Estado (Ceasa) e nos mercados estaduais (Rio Vermelho, Paripe, Ogunjá e Sete Portas), que fecharão nessa Sexta-feira da Paixão, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (SDE) informou que os permissionários devem instalar fitas de isolamento nos boxes e bancas, organizar filas com demarcações de distância mínima de 1,5 m e orientar sobre o uso de máscara, luva e álcool 70% aos funcionários. Fiscais estão percorrendo o Ceasa e mercados, sobretudo em Paripe, onde há grande procura por pescados.

No Mercado do Peixe, em Água de Meninos, a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) adotou algumas medidas para evitar aglomerações. Desde o último fim de semana, está sendo permitida a entrada de apenas 60 clientes por vez.

Do lado de fora, foi montada uma estrutura de ferro para organizar a fila, mantendo a distância de 1,5 m entre as pessoas. O horário de funcionamento, agora, é das 7h às 16h. Antes, ia até as 17h. Nesse domingo (12), o expediente será até o meio-dia.

Confira preços de alguns produtos:

Quilo do camarão - R$ 16 a R$ 38 (depende do tipo)

Garrafa de azeite de dendê - R$ 5 a R$ 7

Cento do quiabo - R$ 8 a R$ 15

Quilo do peixe corvina - R$ 12

Quilo do feijão fradinho - R$ 5

Quilo amendoim torrado - R$ 8

Quilo do tomate - R$ 5

Quilo da cebola - R$ 4

Coentro - R$ 2