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Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2022 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Servir ao altar foi uma das primeiras decisões que João Gabriel tomou na vida. Mesmo tendo apenas 5 anos, afirma, com uma segurança pouco comum para a sua idade, que será um padre quando crescer. O desejo se manifestou ainda mais cedo, aos 3 anos, quando se tornou coroinha na Igreja Católica. >
"O padre me deu a túnica de coroinha quando eu tinha 3 anos, porque eu passei a querer ser um padre. Os coroinhas podem servir ao altar, e é o que eu vou fazer por enquanto", afirma o jovem, que entrou na função para se preparar para ser padre. >
Na Igreja Católica, a missão dos 'meninos de coro' - como também são chamados -, é ajudar o padre transportando os objetos litúrgicos durante as missas. Pela dedicação necessária e proximidade com o altar, a função também garante aos jovens, a participação no Mistério Pascal de Cristo e é considerado um dos primeiros passos para outros títulos católicos. João deseja ser padre desde os 3 anos (Emilly Tifanny Oliveira/ CORREIO) No final de semana, João e outros 800 coroinhas e seminaristas entre 5 e 25 anos se reuniram no Congresso Arquidiocesano dos Coroinhas, no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, para celebrar São Tarcísio - padroeiro dos meninos de coro -, após dois anos sem o encontro, por causa da pandemia. >
Atendendo ao chamado de Deus, João Vitor Fonseca, 18 anos, se tornou coroinha aos 14, e hoje já cumpre a função de cerimoniário, papel designado aos meninos de coro que completam 17 anos e desejam seguir com o trabalho no altar. Para ele, a decisão é uma escolha baseada no amor à fé, em detrimento das coisas 'mundanas'. João Vitor serve ao altar há 4 anos (Foto: Emilly Tifanny Oliveira/ CORREIO) "Como diz São Felipe Néri: 'eu prefiro o paraíso'. Então é melhor eu ter o paraíso do que o mundo aqui na Terra", justifica. Esse será seu último seminário como cerimoniário, mas João pretende continuar na Igreja apoiando a decisão dos próximos coroinhas. >
"Hoje eu estou em processo de despedida para seguir projetos pessoais. Acredito que já cumpri o que tinha que ser feito, atendi ao meu chamado. Agora quero ser um exemplo para os próximos coroinhas e lembrar o que é ser um cerimoniário, função que eu sigo com tanto carinho e amor", planeja João. >
Para ser coroinha, é necessário passar pelo batismo e sentir o desejo no coração, como explica o coordenador dos Coroinhas da Arquidiocese de Salvador, Padre Anderson. "Acima de tudo, basta a disponibilidade do coração e alegria de servir a igreja", destaca. >
'Meninas de coro'>
Por serem considerados a representação de Cristo na figura de homem, por muito tempo a função de coroinha foi cumprida apenas por meninos. Mas a demanda pelo serviço ao altar possibilitou, em 1917, a presença da 'menina de coro'. Hoje, pelo menos na diocese soteropolitana, elas são a maioria. >
As amigas Raiana Anjos, 19, e Ana Vitória Oliveira, 20 são coroinhas há 10 anos e da mesma paróquia. A década de dedicação representa o crescimento do amor ao serviço e à amizade que cultivam. União que tem até nome: RaiAna. As amigas Raiana - a esquerda - e Ana Vitória destacam a devoção por São Tarcísio, padroeiro dos coroinhas e das coroinhas (Emilly Tifanny Oliveira/ CORREIO) "Além da curiosidade de saber como era, eu tinha um primo que foi coroinha e eu sempre quis seguir o exemplo dele", conta Ana. "Minha mãe sempre quis. Apesar de eu não saber o que era, eu fui conhecendo e criando amor, tanto que hoje em dia eu não me vejo sem estar na função de coroinha dentro da igreja", completa Raiana. >
Já Maria Eduarda Santiago, 17 anos, se tornou coroinha em 2017, porque sempre cultivou o desejo de fazer parte da pastoral. "Pode parecer algo que 'nossa! Vocês são novos e deixaram tudo aquilo que o mundo oferece para ser coroinha', porque é uma responsabilidade muito grande, a gente abdica de finais de semana e coisas do tipo, mas há um desejo maior, que a gente não consegue explicar", aponta a coroinha. >
Para o padre Anderson, o serviço do altar é uma função que aflora nos jovens a admiração à igreja e o desejo de servir cada vez mais. "Se você fizer uma pesquisa aqui, 90% dos padres passaram pelo serviço de coroinha. Estar no altar desperta esse desejo nesses meninos e meninas, não apenas para serem padres, mas também freiras", destaca o coordenador da pastoral. Lucia acompanha a mãe - Nilvanessa Moreira, 40 -, nas missas desde criança, e tem a fé dela como inspiração para nutrir a sua (Emilly Tifanny Oliveira/ CORREIO) A coroinha Lúcia Moreira, 16, sempre admirou o trabalho de freira, no entanto, o desejo de ter uma família com filhos também a acompanha. "Mas se eu não conseguir isso, pretendo ser freira, porque eu também terei filhos espirituais". Para ela, a função que desempenha hoje a ajuda a entender a si mesma como alguém especial, filha de um Deus, que a incentiva a fazer com que outras pessoas sintam o mesmo. >
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro >