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Alexandre Lyrio
Publicado em 29 de março de 2016 às 03:03
- Atualizado há 2 anos
Leandro Lopes Bastos, 30 anos, designer; Paulo André Gruimarães, 37 anos, publicitário; Alexandre Lyrio, o repórter; Abel Cunha Sena, 67 anos, representante comercial; Maurício José de Souza Aguiar, 47 anos, comerciante; Catherine Avilés, 25 anos, publicitária (Foto: Marina Silva)Tá rebocado (lá ele). Tinha que sobrar para o mais inocente da resenha. No caso, o repórter. Aspirante quando o assunto é o trocadilho do esparro, inventou de organizar uma batalha envolvendo profissionais. Acabou en-cu-ralado (quem se importa se é com dois “r” numa hora dessa?!).- Então você é o cara que dá plantão pra dar o furo, né? - Perguntou o design Leandro Lopes Bastos, 30 anos.- Você é jornalista, é? - Só gosta de pau-ta grande. Emendou o aposentado Abel Cunha Sena, 67 anos.- Você é um cara importante para a nossa mídia. Peço que “deus-cu-de” você – deu de com força (receba, sacana!) o publicitário Paulo André Guimarães, 37 anos.>
Rapare, todas as reportagens deste especial de aniversário têm um tchan a mais no ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO DE SALVADORNão tem jeito. Essa forma criativa de se expressar está por aí. É uma das marcas do soteropolitano. Por isso, botamos um grupo de especialistas sentados à mesa e fizemos uma guerra de pulhas. Isso mesmo. Pulhas! Os mais antigos preferem sua cu-ruptela: puia. Nos dicionários informais da internet, “pulha” ganha, entre outros, o significado de “gracejo caviloso com o intuito de colocar alguém em situação ridícula” ou “dito indecoroso”. A batalha sequer havia começado oficialmente. Os concorrentes tinham chegado há pou-cu de fora quando as primeiras pulhas começaram a surgir. Até porque, quem é miserê no assunto não consegue falar três frases sem largar uma artimanha cheia de segundas intenções. No aquecimento de nossa batalha, era puia para todo o lado. - Você é um menino de ouro. Se derreter, dá o anel. Atacou Maurício em direção a André.- Peraí... Quer fazer de mim espeta-cu-lo seu? - Respondeu. >
Assista a batalha de pulhas>
O curioso é que a pulha não tem profissão, cor ou classe social. Está metida (lá ela) em todo o canto. Desde as rodinhas (Opaaaaa) de cachaça das Sete Portas até as reuniões de condomínio das mansões da Vitória. No livro Lá Ele (O Esparro na Bahia), o escritor João Jorge Amado, filho de Jorge Amado, chegou a fazer uma espécie de coletânea desses trocadilhos. “Esparro” é o termo que ele utiliza para substituir “puia”. “Quando cheguei na Bahia, 40 anos atrás, chamava-se de ‘esparro’. Mas hoje se chama também de ‘pulha’ ou ‘puia’”, diz o escritor. Como se sabe, o “lá ele” é a forma genérica de se sair bem da puia. Quando não se consegue contra-atacar a investida (lá ele), basta soltar um sonoro “lá eeeeeele”. “No início, o ‘lá ele’ tinha o sentido de afastar o malefício que a palavra podia trazer. Exemplo: ‘A mulher deu uma facada no marido bem aqui no peito ‘lá dele’. Depois, a expressão ganhou uma nova acepção e se tornou uma resposta para esse tipo de esparro. O ‘lá ele’ tem a função de manter a pessoa imune a certas palavras”, explica o escritor, que não tem ideia de quando a brincadeira começou. “Quando cheguei na Bahia há mais de 40 anos já ouvia os esparros, nem que fossem apenas em forma de rimas” Com vontadeFinalmente montou-se (lá ele) a mesa. Somaram-se a Abel, Paulo e Leandro o comerciante Maurício José de Aguiar, 47 anos, e uma representante feminina. A publicitária Catherine Avilés, 25 anos chegou nos concorrentes com vontade (lá ela).- Todo mundo fazendo piada, né? Vocês estão muito gozados hoje...Foi quando Maurício serviu-se de um cafezinho na máquina. Abel não perdoou. - Você prefere café na máquina ou no “cu-a-dor” é melhor?- Mió calá - Retrucou o comerciário.- Desculpe se eu te atingi profundamente. É que eu sou um cara cabeçudo – contra-atacou o aposentado A fotógrafa Marina Silva registrou o grande encontro. E não saiu sem sentir, bem lá no fundo, a força da puia de Cathe, talvez a mulher mais “lá ele” dessa terra.- Marina é fotógrafa? Então bate aqui uma pra gente!Chega de preliminares. Hora de começar. Abel, o coroa da turma, se apresentou para a peleja.- Se quiser eu introduzo o assunto...Tem até um duelo no estilo repente entre Abel e Paulo, considerado os mais bem dotados no assunto. Mas, antes, o CORREIO queria agradecer a todos os participantes da batalha do lá ele. Desejamos que o cavalo de São Jorge “cubra” vocês de graça. ‘Não vejo como homofóbico’, diz autor de Lá EleA patrulha do politicamente correto não gosta do “Lá Ele”. Há quem defenda que a maioria dos trocadilhos são uma forma de diminuir o homossexual. Auto do Livro Lá Ele, O Esparro na Bahia, João Jorge Amado confirma que a maioria das piadas se utilizam do homossexualismo, mas discorda que sejam homofóbicas.>
“Essas brincadeiras são de um tempo em que o homossexual era o que dava. O que comia não só não era homossexual como era um machão retado. Eram outros tempos. Quem era considerado o homossexual era sempre o passivo e não o ativo. No esparro, o autor, em geral, se coloca na posição de ativo. Ou seja, homossexual também”, explica João Jorge. Na prática, tanto o autor da puia quanto a vítima acabam sendo homossexuais, observa João Jorge, com um exemplo bem antigo. “Quando o cara diz: ‘rola minha, pacu seu’, ele está de fato assumindo um homossexualismo no sentido de que ele seria o ativo numa relação sexual com a vítima. Mas a visão de homofobia atual abarca qualquer tipo de homossexual, ativo ou passivo, homem ou mulher, não importa. Por isso, não vejo como homofóbico”, conclui. GlossárioTá rebocado: Não tem jeito ou “Não tem outra”Resenha: Causo ou históriaDe com força: Com vontade ou Com gostoMiserê: Especialista ou O caraLargar: FalarSe sair: Se livrarCoroa: Homem ou mulher de idade avançada, mas não idoso>