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Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2011 às 11:25
- Atualizado há 2 anos
Anderson Sotero | Redação CORREIO anderson Quando ele chegava para trabalhar como taxista clandestino no Aeroporto Luis Eduardo Magalhães, já avisava: “Estou aqui de passagem. Ninguém mexe comigo que eu sou ex-presidiário”. Mas a passagem de Valdecir Pacheco dos Santos, 39 anos, terminou com a corrida que fez, no início da madrugada de ontem, do aeroporto até o Itaigara. Valdecir deixava uma turista carioca no Hotel Fiesta quando foi abordado ainda dentro do veículo - o Astra branco de placa JQZ 1457 - e executado com três tiros: dois na cabeça e um nas costas. Segundo testemunhas, o taxista ofereceu o serviço para uma auxiliar de marketing de prenome Luna, que tinha acabado de chegar do Rio de Janeiro e iria se hospedar no hotel, onde participaria de um evento. Depois de estacionar na entrada do hotel, Valdecir aguardava o pagamento quando foi alvejado.>
HIPÓTESEA polícia diz ainda não ter pistas do autor do crime, mas a família suspeita que desavenças com colegas de trabalho tenham motivado o assassinato do taxista, que já cumpriu pena por envolvimento com tráfico. >
Corpo foi sepultado no Bosque da Paz; primo diz que Valdecir tinha problemas com colegas>
Clandestino tinha recolhido turista e aguardava o pagamento quando foi executado>
“Ele tinha discussões e desavenças com os próprios colegas no aeroporto. Estamos achando que pode ser intriga de trabalho. As pessoas estavam ficando com raiva porque ele estava ganhando muito dinheiro”, afirmou um primo da vítima que já trabalhou no local como taxista clandestino.“A gente quebrava os taxistas. Numa corrida de R$ 80, cobrávamos R$ 60”, reconheceu. Além do primo, um filho da vítima também começaria a trabalhar como clandestino no aeroporto.De acordo com a titular da Delegacia de Homicídios (DH), Francineide Moura, a passageira depôs ainda na madrugada de ontem e contou que não conseguiu ver o autor dos disparos. “Ela disse que viu apenas uma mão encostar na cabeça do taxista e achou que fosse brincadeira”, disse a delegada. Com os disparos, a turista correu e conseguiu entrar no hotel. Após a perícia, nada foi encontrado no veículo da vítima.O taxista Reginaldo Cohim, que esteve no local do crime, contou que Luna se confundiu no momento de pegar o táxi. “Ela explicou que o taxista estava fardado e achou que ele não fosse clandestino. Disse que quando saiu do aeroporto viu um banner alertando para não pegar clandestino, mas se enganou”, complementou. “Ela disse também que ele fez a corrida por R$ 70”, disse. Na manhã de ontem, ainda muito abalada, a turista não quis dar entrevista e recebeu só a visita de uma colega da empresa em que trabalha. “Vim trazer uma mala para ela porque a bagagem dela ficou toda cheia de sangue. Ela ficou muito abalada”, contou a colega, que não quis se identificar. A turista retornou ao Rio ontem mesmo. >
família Morador do bairro de Águas Claras e conhecido como Xuxa, Valdecir já tinha trabalhado como taxista regularizado e possuía mais um veículo, além do Astra. “Ele tinha um táxi regular, um Corsa, que emprestou para um amigo trabalhar”, disse outro primo, Fernando Alves, de 42 anos.O corpo do taxista foi enterrado à tarde no Cemitério Bosque da Paz (veja ao lado). No IML, pela manhã, a mulher do taxista, a auxiliar administrativa Nivaldina Costa, 37 anos, comentou que o taxista era exemplo para a família. “Ele era brincalhão, gostava de ajudar todo mundo e costumava trabalhar no período da noite”, disse Nivaldina. Por conta da morte do marido, ela contou ainda que um dos dois filhos do casal, de 13 anos, passou mal e teve que ser medicado. “Meu filho está acabado e disse que vai se matar. Está tomando calmantes. O pai era tudo para eles”.>
Valdecir ameaçava colegas“Ele rodava no aeroporto. Estava no dia a dia e era uma pessoa aparentemente passiva, mas tinha antecedentes criminais”, conta um taxista clandestino que não quis se identificar. Os colegas de Valdecir que trabalham no aeroporto afirmam que ele vivia fazendo ameaças e tentando “roubar” os clientes dos outros taxistas. “Ele dizia ‘ninguém mexe comigo que a minha é outra. Eu sou ex-presidiário’”, conta o mesmo taxista. Segundo familiares, o taxista foi preso há dez anos, após conduzir um traficante, mas que hoje não tinha pendências judiciais. “Atualmente ele estava limpo, não devia nada à Justiça”, afirmou o primo Fernando Alves, 42 anos. Ele contou também que o primo tinha boa apresentação e, por isso, os clientes preferiam andar com ele. “O passageiro preferia porque ele andava arrumado e era muito educado”, acrescentou. No entanto, a família confirmou que a vítima tinha discussões frequentes no aeroporto com outros taxistas. >
A morte de Valdecir expõe também o problema da atuação de taxistas clandestinos na abordagem de turistas dentro do saguão do aeroporto. “A gente vê a situação no aeroporto e ninguém faz nada. Os caras ficam no salão de desembarque, ameaçando com armas na cintura. Eles derrubam a gente porque fazem a preços mais baratos”, reclamou um taxista regular que, temendo represálias, não quis se identificar. “Aqui é todo mundo pai de família, mas ninguém tem coragem de enfrentar”, completou.Para o diretor financeiro da Associação de Táxi do Aeroporto Luis Eduardo Magalhães (Atalema), houve um aumento do número de taxistas clandestinos atuando no aeroporto. “A situação está pior. Eles (taxistas clandestinos) ficam lá dentro e nos arredores do saguão, oferecendo a corrida bem mais barata”, alertou. A associação estima que houve um aumento de 150% no número de taxistas clandestinos. No entanto, a avaliação foi feita a partir de observações do dia a dia, sem rigor. Um motorista que não quis se identificar contou que trabalha no local, transportando turistas associados a agências de viagem. “A gente traz eles (os turistas) aqui para o aeroporto. Para não voltar com o carro vazio, a gente oferece uma corrida”, contou. >
Na noite do crime, Valdecir disse que não queria trabalhar Na noite que antecedeu o crime, antes de sair de casa, por volta das 20h, Valdecir comentou com a mulher, Nivaldina Costa, de 37 anos, que não queria trabalhar nessa noite. “Ele não queria ir e disse que estava cansado porque não tinha dormido direito. Esse foi o último momento que falei com ele”, lembrou Nivaldina.>
Prefeito afirma que fiscalizações como a de março continuam sendo feitas no aeroportoJoão Henrique afirma que transporte é fiscalizadoNo início de março, agentes da Transalvador, junto com equipes da Infraero e da Polícia Militar, fizeram uma operação para combater o transporte ilegal no aeroporto. Segundo os taxistas regulares, no entanto, os clandestinos seguem agindo impunemente, mas, apesar das reclamações, o prefeito João Henrique disse, por telefone, que a fiscalização tem sido feita. >
“Continuamos com o trabalho de fiscalização no aeroporto. A Guarda Municipal, a Infraero, a Transalvador e a Polícia Militar atuam em conjunto para combater essa prática, mas acredito que eles (os motoristas clandestinos) aproveitam os horários de trocas de escala para atuar”, disse o prefeito.>
No enterro, colegas acusam rivais “Antes de vir pra cá, uma cliente de São Paulo ligou pro celular dele, querendo fazer uma corrida”, lembrou o sobrinho de Valdecir, o também taxista Roberto Silva Costa, durante o enterro do tio, no final da tarde de ontem, no cemitério Bosque da Paz. “Tive que contar pra ela, mas disse que foi um acidente. Ela ficou chocada, ficou até de vir aqui (no cemitério) amanhã”, finalizou. Valdecir foi enterrado ao som de cânticos religiosos, choro e gritos.>
Além de amigos e familiares (entre eles os dois filhos adolescentes) estavam presentes no sepultamento colegas de profissão, que aproveitaram o momento para atribuir o crime a taxistas rivais. “Os taxistas (licenciados) diziam desaforo porque ele estava furando a fila, mas ele nunca revidou”, disse um. “Ele só fazia uma corrida por noite, já tinha os clientes certos”, defendeu outro.>