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Maysa Polcri
Publicado em 26 de maio de 2025 às 16:51
A hipótese foi confirmada: o complexo da Pupileira, no bairro de Nazaré, funcionou como cemitério de pessoas escravizadas no passado. Nos últimos dias, as escavações realizadas em Salvador identificaram vestígios de ossos longos e dentes humanos a três metros de profundidade. Parte do material foi retirada para pesquisa, e o resto do sítio arqueológico foi preservado. >
As informações foram divulgadas durante uma coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (26) pelos pesquisadores e representantes do Ministério Público da Bahia (MP-BA). Os primeiros vestígios foram encontrados no dia 19 de maio, quinto dia de pesquisa de campo, e são, provavelmente, de indivíduos diferentes. O ambiente encontrado pelos pesquisadores estava úmido e com acidez elevada, como explicou a pesquisadora Silvana Olivieri. >
"Nós avançamos em uma profundidade gigantesca até que começou a sair muito material ósseo humano, que estava a três metros de profundidade", disse. O material retirado do local pelos pesquisadores foram aqueles que "saltaram" - ou seja, que foram identificados no uso das peneiras. Os vestígios serão analisados em laboratórios, enquanto a área escavada foi coberta. Os próximos passos serão decididos em negociação entre a Santa Casa (detentora do espaço), MP-BA e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). >
Cemitério de escravizados em Salvador
Os pesquisadores lembraram, durante a coletiva, que havia a possibilidade de os ossos terem sido transportados para o Cemitério do Campo Santo, na Federação, o que foi refutado pelo material encontrado durante a escavação. "O cemitérip estava ali, esperando ser encontrado", falou Luiz Pacheco, arqueólogo coordenador de campo das escavações. O grupo decidiu não divulgar imagens dos vestígios de ossos e dentes, em respeito à memória das pessoas que foram enterradas no local. A área escavada é equivalente a três vagas do estacionamento. >
Um dos objetivos do trabalho é trazer à tona parte da história de Salvador, sobretudo ao que diz respeito a escravidão. A escavação recebeu autorização da Santa Casa de Misericórdia, responsável pelo Conjunto a Pupileira, e foi acompanhada por técnicos do Iphan. A iniciativa partiu da pesquisadora Silvana Olivieri, que conduziu uma pesquisa sobre a localização. >
Ela estima que até 1844, ano em que as atividades do cemitério foram encerradas, cerca de 100 mil pessoas tenham sido enterradas. Além de escravizados, os indivíduos podem ter sido pobres, sucididas e outras pessoas à margem da sociedade de Salvador à época. Se confirmado, este poderá ser o maior da América Latina. >
Em nota, o MP-BA informou que oficiou, na tarde desta segunda, a Santa Casa de Misericórdia da Bahia para que não utilize mais a área onde ocorreram as primeiras escavações. "O processo para reconhecimento do sítio arqueológico foi encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, caso seja reconhecido, o local será conhecido como ‘Sítio arqueológico Cemitério dos Africanos’", acrescentou. >