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Cemitério de escravizados redescoberto em Salvador pode ser o maior da América Latina

Buscas por restos mortais de 100 mil corpos de escravizados e de pessoas à margem da sociedade começou na quarta-feira (14)

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 15 de maio de 2025 às 05:34

Escavação deve durar até 10 dias Crédito: Divulgação

As buscas arqueológicas iniciadas na última quarta-feira (14), no estacionamento da Santa Casa Bahia, onde é possível que tenham sido enterrados os corpos de aproximadamente 100 mil escravizados, pobres, suicidas e outras pessoas à margem da sociedade de Salvador, pode revelar o maior cemitério de escravizados da América Latina caso os restos mortais sejam encontrados.

De acordo com a pesquisadora Silvana Oliveiri, que é responsável pela identificação do cemitério no terreno pertencente à Santa Casa de Misericórdia da Bahia, estudos preliminares indicam a possibilidade de que 80 mil a 150 mil corpos tenham sido enterrados no local. Nos próximos dez dias, a pesquisadora e a equipe arqueológica pretendem encontrar pelo menos uma parte da ossada.

A arqueóloga Jeanne Almeida afirma que, conforme estudos realizados, o cemitério deve ser o maior da América Latina e o mais antigo do Brasil, uma vez que foi construído no século 18. O trabalho para comprovar ou descartar essa tese vai contar com uma operação que atuará de segunda a sábado.

“A partir de agora, vamos trabalhar até conseguir localizar os indivíduos que estamos buscando. Já escolhemos locais pontuais de acordo com a maior potencialidade arqueológica e são neles que vamos fazer as intervenções", disse.

Busca por reparação

Na manhã desta quarta, líderes religiosos, pesquisadores e autoridades governamentais se reuniram para fazer um ato em memória das pessoas que possivelmente estão enterradas no estacionamento da Santa Casa Bahia. A promotora de Justiça Lívia Sant’Anna Vaz, representando o Ministério Público da Bahia (MP-BA), destacou a importância da iniciativa.

“Nós não temos notícia de nenhum achado como esse que tenha tido essa preocupação de estabelecer um ato religioso para pedir licença e agô para fazer essa reparação espiritual e histórica. Essa é uma maneira de resgatar nossa história. Hoje é dia 14 de maio, considerado o dia que nunca acabou pelos movimentos negros do Brasil, porque não tivemos até hoje a efetiva libertação das pessoas negras no que diz respeito a dignidade. Nossa libertação está por vir e esse ato mostra que ela é possível”, frisou.

Samuel Vida, advogado e professor da Faculdade de Direito da Ufba, pontuou que o cemitério pode vir a promover não apenas uma reparação simbólica, como também espiritual. “Além da reinserção desse local na memória da cidade e em várias pesquisas arqueológicas e históricas, pode existir um resgate espiritual, porque essas pessoas foram enterradas sem o respeito aos ritos funerários e sem a consideração da dignidade. Entendemos que também nesse plano cabem reparações”, afirmou.

Se comprovada a existência do cemitério no local pesquisado, é possível que sejam investigadas outras áreas da cidade, dentre elas o Largo do Campo da Pólvora. A Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) já reivindica a mudança de nome da estação de metrô para Estação Campo da Pólvora Malês, porque teria sido naquelas redondezas que escravizados mulçumanos foram assassinados durante a Revolta dos Malês, em 1835.