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Daniel Aloísio
Publicado em 2 de dezembro de 2021 às 06:15
- Atualizado há 2 anos
Já cantava o baiano Dorival Caymmi que “o mar, quando quebra na praia, é bonito...”. E quem sabe bem disso é o velejador Aleixo Belov, 78, que nasceu na Ucrânia, mas de europeu só tem a cara. “Cheguei na Bahia fugindo de uma guerra, sem nenhum tostão no bolso. Foi aqui que cresci, prosperei e me apaixonei pelo mar”, conta. O resultado dessa paixão são cinco viagens de barco ao redor do mundo e um museu para resguardar a memória desse amor. Inaugurado nesta quarta-feira (01), o Museu de Mar reúne a história das viagens de Belov e um pouco mais.>
“Esse museu é o reconhecimento do carinho que recebi. Quero devolver um pouquinho do amor que recebi desse povo”, explica Belov. Ele investiu R$ 10 milhões no espaço localizado no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, com vista para a baía de Todos-os-Santos.“Eu tive muita dificuldade de reunir os conhecimentos que precisava para viajar pelo mundo e não quero que isso se perca. Então, resolvi fazer o museu para o pessoal estudar e aprender bastante”, afirma o europeu que, em 2021, se tornou oficialmente cidadão soteropolitano"O trabalho dele traz um foco para os problemas do oceano. Não tem como falar do mar sem refletir sobre o lixo plástico, pesca predatória... e eu espero que o museu chame a atenção para cuidarmos da baía de Todos-os-Santos”, disse o vereador André Fraga, que propôs a concessão do título de cidadão de Salvador para o ucraniano. Ele foi uma das autoridades presentes na cerimônia de inauguração do Museu do Mar. Fotografias, objetos coletados nas viagens de Aleixo Belov, telas interativas, projeção de filmes e outras atrações podem ser vistas no museu (Foto: Paula Fróes/CORREIO) O prefeito Bruno Reis também prestigiou o evento. “Eu agradeço pelo equipamento importante, numa região estratégica, o que vai ajudar a ter mais visitantes e turistas”, considerou o gestor. >
O museu é administrado pela fundação que leva o nome do velejador e vai funcionar das 10h às 18h, sempre de terça a domingo. A entrada custa R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Crianças de até 5 anos e quem for às quartas-feiras não paga. >
Detalhes >
No total, são 540 metros quadrados de exposição permanente dividida por três andares. Logo na entrada, o visitante vai encontrar uma linha do tempo com a história de Aleixo Belov. A seguir, poderá conferir diversas peças, fotografias e materiais coletados ou utilizados por Belov nas suas navegações. Na estrutura do museu há ainda recursos interativos, sala de projeção de filmes, área para exposições temporárias, cafeteria e restaurante. >
O destaque é o barco Três Marias, com o qual o navegante completou sozinho três voltas ao mundo. Para ser colocado no local, uma enorme abertura no telhado foi feita e um guindaste ergueu a embarcação de 7,5 toneladas. Por determinação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), 3,5 metros do mastro precisou ser cortado para evitar que houvesse alguma intervenção arquitetônica no casarão.>
“Antes da reforma, esse era um dos casarões de risco do Centro Histórico. Quando a Fundação Aleixo Belov vem e transforma o local num espaço belíssimo, o que era de risco se torna a manutenção da história”, comemorou Sosthenes Macedo, diretor geral da Defesa Civil de Salvador (Codesal). >
Maurício Bacellar Batista, secretário de Turismo do Estado, considerou que o museu é um exemplo de como as empresas e organizações civis podem contribuir no turismo da Bahia. “O turismo só desenvolve toda sua potencialidade quando o poder público e iniciativa privada colocam todas as suas forças”, argumenta. >
Já Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM) e colunista do CORREIO, apontou a importância cultural do equipamento. “É um local vivo. Salvador é banhada pelo mar e o museu preenche uma lacuna importante”, diz. >
Beleza >
Os moradores do bairro também comemoraram. O aposentado italiano Roberto Corradini vive no local desde 2003. Ele quis ver de perto a nova atração turística do Santo Antônio. “Eu não sabia quem era Aleixo Belov, mas soube que ia inaugurar hoje e vim conhecer. É muito bonito mesmo”, afirmou. >
Outro presente na cerimônia foi o fotógrafo e fiel escudeiro de Belov, Leonardo Papini, que já trabalhou no jornal Folha de S. Paulo e na editora Abril, mas deixou o fotojornalismo para documentar o trabalho do navegador.>
“Em 2013, eu estava em Ilhabela quando fui pedir um autógrafo para Aleixo Belov e na hora recebi o convite para o acompanhar na Argentina. Eu aceitei e, no total, foram 26 meses juntos no barco", lembra.>
A maioria dos registros fotográficos ou em vídeo presentes no museu foi feita por Papini. E está engado quem pensa que a inauguração do museu seja uma espécie de aposentadoria de Aleixo Belov. Seu fotógrafo revelou que a dupla está pensando em se lançar ao mar novamente em janeiro de 2022.>
“Vamos para o Norte. Ainda não definimos o local, mas sabemos que será para o Norte”, relata. Para o comandante da embarcação, só muito amor pelo mar justifica a viagem aos 78 anos. “Quero que sirva de inspiração para as novas gerações”, disse.>