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Publicado em 19 de julho de 2015 às 08:16
- Atualizado há 2 anos
A Rua das Pedrinhas, conhecida como Estrada Velha de Periperi, no Subúrbio, é escura e, nem de longe, parece ser um lugar tranquilo. Lá, quando o sol começa a ir embora, comerciantes e moradores relatam assaltos e roubos. Ainda assim, o que a maioria conta é que a violência em Periperi diminuiu.>
“Homicídio diminuiu uns 50%. Aqui na rua mesmo, nunca mais eu vi um defunto. E aqui era todo dia”, diz o motorista Márcio Oliveira, 43 anos. O colega Arlindo de Assis, 51, conta que as polícias civil e militar estão mais presentes. “E a juventude está se conscientizando mais. Esse rapaz aqui mesmo era aviãozinho do tráfico. Não é mais”, diz, se referindo a um adolescente próximo. Os números que apontam a redução de homicídios no bairro foram levantados pelo CORREIO com base nos primeiros mil assassinatos do ano registrados em Salvador e Região (RMS) e divulgados em boletins diários no site da Secretaria da Segurança Pública (SSP). ReduçãoEm 2015, pela primeira vez desde 2011 (quando o CORREIO começou a fazer o levantamento), o milésimo homicídio ocorreu em julho - antes, a marca era alcançada em maio ou junho -, o que mostra uma redução da violência na capital e RMS. Os registros não incluem latrocínios (roubos seguidos de morte), nem autos de resistência (mortos pela polícia em alegados confrontos).A SSP destacou a redução nos homicídios na área no primeiro semestre de 2015 (janeiro a junho) com relação ao mesmo período do ano passado. Em Salvador, a queda foi de 10,4% (644 este ano contra 745 em 2014), enquanto na RMS o índice caiu 11,7% (412 contra 364).milésimo O milésimo homicídio aconteceu na última terça-feira, em Cajazeiras. A vítima foi Iago Pereira dos Santos, 18, assassinado com tiros na cabeça, tórax e abdômen às 15h40 de 14 de julho. Ainda estão sendo investigadas a autoria e a motivação do crime, que aconteceu numa escadaria de Cajazeira X. O bairro, aliás, ocupa a 5ª posição entre os que mais contribuíram para as primeiras 1.000 mortes de 2015: 20 casos.O bairro que lidera a lista é o Lobato, com 26 assassinatos. Na RMS, a maior taxa de homicídios está em Pojuca (veja textos abaixo e ao lado).Periperi figurava, desde 2011, entre os que mais tinham casos entre os primeiros 1.000 homicídios da Grande Salvador. Em 2013, chegou a liderar a lista, com 29 mortes. No ano passado, porém, o bairro já havia caído para a 9ª posição, com 15 assassinatos, e este ano o desempenho foi ainda menor: dez, entre 1º de janeiro e 14 de julho, o que o coloca na 21ª posição. TrabalhoO major Eurico Silva Costa Filho, comandante da 18ª Companhia Independente da PM (CIPM/Periperi), vai além. “Em 2011, a média aqui era de 40 assassinatos por mês. Hoje, é de quatro”. Ainda segundo ele, a mudança na filosofia de trabalho da tropa – de 200 homens – também ajudou a reduzir os números.“A gente trata qualquer ocorrência, por menor que seja, como grande, porque a gente pode evitar que se tornem mais graves. Por exemplo, quando a gente atende a uma ocorrência de briga de casal, pode evitar um assassinato”, explica.O titular da 5ª Delegacia (Periperi), Nilton Borba, conta que foi preciso aumentar o número de prisões pelos crimes de tentativa de homicídio e ameaça para que os índices melhorassem. “Identificamos 19 pessoas que eram líderes de tráfico e que eram responsáveis pela maior parte dos homicídios. Desses 19, 17 ou foram presos ou morreram e dois deixaram Periperi”, conta.Entre os mortos, o delegado conta que, juntos, os traficantes Branquinho e Miau, ambos atuantes na região da Nova Constituinte, eram responsáveis por 92 homicídios. gangorra Na contramão dos números de Periperi está Itapuã. Em 2011, o bairro registrou 15 homicídios entre os primeiros mil, e ocupou a 10ª posição. Nos anos seguintes, reduziu o número de mortes para sete (2012), oito (2013) e nove (2014). Este ano, porém, o número saltou para 20 e o bairro, que era apenas o 19º na lista, subiu para 4º, perdendo só para Lobato, Paripe e São Cristóvão.Titular da 12ª Delegacia (Itapuã), Antônio Carlos Santos faz uma ponderação: “Não é questão de concordar ou discordar (dos números). É que tem uma redução geral, mas, infelizmente, continuamos com o problema das desovas em Cassange”. Ele diz ter havido redução de cerca de 30% nos homicídios em Itapuã, este semestre, em relação a 2014. Dos 20 casos imputados ao bairro pela SSP, Santos aponta três como tendo ocorrido em São Cristóvão, um em Placaford e dois como auto de resistência.Quem mora ou trabalha no bairro discorda da posição do delegado. “Trabalho aqui há 14 anos e a violência aumentou. Toda hora alguém diz que mataram um”, conta o auxiliar de farmácia Xavier Silva, 37. O vendedor Leandro Pereira, 32, faz coro. “Itapuã sempre está na página policial”, aponta.Ao ser apresentado às estatísticas, o delegado disse que a maior parte dos homicídios na área não tem como vítimas pessoas de lá. “Itapuã, por si só, não é um bairro perigoso para homicídio. Pior é Cassange, Nova Brasília, São Cristóvão”, avalia. O major Carlos Humberto Moreira, comandante da 15ª CIPM (Itapuã), disse não ter dados separados do bairro, mas garante que os índices de crimes letais e contra o patrimônio reduziram 25% na área coberta pela companhia neste semestre com relação ao mesmo período de 2014.>