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Carmen Vasconcelos
Publicado em 21 de junho de 2015 às 18:22
- Atualizado há 2 anos
Até o final do mês de junho, o Elevador Lacerda estará tingido de vermelho para lembrar a população sobre a anemia falciforme, uma doença genética e hereditária, predominante na população negra e que se caracteriza por uma alteração nos glóbulos vermelhos, que perdem a forma arredondada, elástica, adquirindo a forma de foice (daí o nome falciforme).>
Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil nascem cerca de 3,5 mil crianças por ano com a doença, sendo um bebê a cada mil nascimentos. A capital baiana concentra o maior número de portadores da doença: a cada grupo de 650 bebês nascidos vivos, um tem a patologia, o que representa em média 65 crianças por ano. >
De acordo com a coordenadora do Programa de Atenção à Pessoa com Doença Falciforme, Cândida Queiroz, a anemia falciforme pode trazer implicações sérias e até mesmo levar o indivíduo à morte. “Um diagnóstico feito precocemente e o acompanhamento regular com equipe de saúde, além de suporte social, podem reduzir e até evitar agravos e complicações”, orienta a especialista, lembrando que a doença é identificada no exame do pezinho e pode ser controlada se tratada desde cedo.Ministro da Saúde Arthur Chioro também abraçou a campanha(Foto: Divulgação)Entre os principais sintomas da anemia falciforme estão as dores articulares, palidez e icterícia, atraso no crescimento, feridas nas pernas, tendência a infecções, e problemas neurológicos, cardiovasculares, pulmonares e renais, provocados pela deformidade dos glóbulos vermelhos que endurecem, fato que dificulta a passagem do sangue pelos vasos de pequeno calibre, comprometendo a oxigenação dos tecidos.>
Segundo o pesquisador Gildásio Daltro, do grupo de pesquisas Terapias Celulares em Anemia Falciforme da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia(UFBA), embora a anemia falciforme seja uma mutação genética da etnia negra, a miscigenação torna ela potencialmente preocupante para a população em geral. Dados do Programa Estadual de Triagem Neonatal mostram que Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro são as unidades da federação com maior número de casos.>
CAMPANHA Além da iluminação especial no cartão postal da Cidade, a campanha Eu amo uma pessoa com anemia falciforme deverá ganhar novos formatos e participações muito especiais. >
Segundo Altair Lira, mestre em Saúde Pública e um dos fundadores da Associação Baiana das Pessoas com Doença Falciforme(ABADFAL), a campanha que teve início na Bahia tem como objetivo abordar a questão de modo mais positivo e centrar os esforços sobre as pessoas e não sobre a doença. “Por meio das redes sociais,fizemos a ideia circular, chamando atenção para a realidade do portador e de que convive com ele”, explica. A proposta foi abraçada por portadores, amigos e familiares em todo o mundo, percorrendo países como Estados Unidos, República Dominicana, México, além de todo o Brasil.>
MUTAÇÕES Para Lira, a doença de caráter genético e crônico-degenerativo leva as crianças que nascem com ela a óbito antes dos 5 anos de idade, em 80% dos casos, quando não ocorre nenhum tipo de assistência de saúde. “Um caso a cada mil nascidos vivos, no Brasil, e um a cada 650, na Bahia, mostra que se trata de um relevante problema de saúde pública”, pontua.>
A hemato pediatra Juliana Costa, do Multicentro da Secretaria de Saúde, lembra que na doença falciforme, a suplementação vitamínica não corrige o problema e é necessário que haja acompanhamento específico permanente. “A mutação ocorre entre os povos africanos e nas populações que receberam influência africana, como é o caso brasileiro”, esclarece a especialista, destacando que se uma pessoa herda do pai o gene com a mutação para produzir a hemoglobina S e outro da mãe com a mesma característica, o par dos genes provocará a anemia falciforme(SS). O indivíduo também pode receber somente um gene da mutação S e um outro da hemoglobina A, assim ela terá o traço fasciforme (AS).>
Juliana Costa ressalta que apesar de ser conhecida há muito tempo, ainda não existe um tratamento definitivo para o problema. “As crianças tomam antibióticos até os cinco anos para prevenir infecções e ácido fólico para reduzir o impacto da anemia”, explica, lembrando que a terapia com o quimioterápico hidroxiuréia, antes usada para os paciente com leucemia, vem ajudando e que o Brasil é um dos pioneiros nessa terapêutica. “Mas ainda há muitos estigmas que precisam ser superados para alcançarmos uma assistência melhor”, defende.>
Em Salvador, os portadores da anemia falciforme podem encontrar assistência nos Ambulatórios Especializados em Doença Falciforme do Brasil, localizados no Multicentro Vale das Pedrinhas e no Centro de Atendimento Especializado(CAE), na Avenida Carlos Gomes(Centro).>