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Carmen Vasconcelos
Publicado em 1 de maio de 2016 às 14:44
- Atualizado há 2 anos
As placas vermelhas surgiram na pele de maneira leve, somente nas mãos e nos pés, porém, com o passar das semanas, foram se espalhando por todo corpo e causavam muita coceira, dor e queimação. “A doença impactou drasticamente na minha vida. Eu tinha angioedema nos lábios, olhos e língua, deixei de sair de casa e tive até que parar de trabalhar devido às dores e ao preconceito que sofria”, conta Vanusa Querino. As faltas constantes terminaram provocando a demissão de Vanusa, como caixa de uma loja e, desde então, não teve como voltar a trabalhar, pois as dores a impediam. “Eu era esteticamente horrível. Tive depressão, porque a minha autoestima estava muito baixa e eu sofria muito com todos os sintomas. Não conseguia dormir, não podia fazer as coisas que eu gostava, frequentar a praia ou até mesmo usar as roupas que eu queria. O preconceito também era muito grande: falavam para eu me afastar porque achavam que era uma doença contagiosa”.Depois de ser submetida a tratamentos com corticoides e antialérgicos, Vanusa também tentou os imunossupressores, porém, por ter anemia, o organismo rejeitou o procedimento a ponto de colocá-la em risco de morte. A situação só melhorou depois que ela passou a se tratar com medicação biológica através de uma pesquisa realizada na Universidade Federal da Bahia(Ufba). Desde o início do ano, inclusive, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o primeiro medicamento para o tratamento da Urticária Crônica Espontânea (UCE) refratária no Brasil. Antes, a medicação era usada apenas nos ambulatórios de pesquisa. Diagnóstico Confundida com alergia, a urticária crônica é uma doença incapacitante, que compromete a qualidade de vida dos portadores, limitando as atividades físicas, sociais e até mesmo influenciando negativamente na vida sexual. A doença pode afetar até 43 milhões no mundo.De acordo com o chefe da equipe de Alergologia e professor do Hospital das Clínicas (Universidade Federal da Bahia/HUPES-Ufba), Régis Campos, a urticária crônica espontânea é uma doença de pele grave e debilitante, caracterizada pelo aparecimento de lesões avermelhadas associadas à dor e coceira intensa. “A UCE pode também vir acompanhada do angioedema, quando os locais sensíveis como os lábios, língua e/ou a face ficam extremamente inchados e doloridos”, explica o especialista, ressaltando que a doença é mais comum em mulheres, entre a segunda e quarta décadas de vida. Membro da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia e do Consenso Internacional de Urticária, o médico Luis Filipe destaca ainda que não há um agente causador definido para o aparecimento da doença, já que ela se manifesta de forma espontânea a qualquer hora e lugar. “Além disso, diferente das crises agudas de urticária, quando o paciente tem a forma crônica da doença, as crises duram, no mínimo, seis semanas e podem prolongar-se por anos. O que acontece na maioria dos casos é que os pacientes não diferenciam um tipo do outro e acabam se automedicando, em vez de procurar um especialista”, complementa o médico. Além das questões estéticas, os especialistas ressaltam que o isolamento social e o desconforto emocional provocados pela urticária, especialmente para quem apresenta o angioedema, são muito significativos. A privação do sono, por sua vez, leva à falta de energia e à ansiedade. Para se ter uma ideia deste impacto, até 84% dos pacientes afirmaram sofrer limitação pela doença (atividades físicas, sair para comer/beber, cancelamento de convites); 74% dos pacientes relatam que a doença compromete no desempenho do trabalho; e 73% sentem impactos negativos em sua vida sexual.A urticária crônica espontânea é de fácil diagnóstico clínico, apesar de ser uma doença de difícil controle. “Por isso, é fundamental o acompanhamento médico para que cada paciente tenha acesso ao tratamento mais adequado a seu caso”, finaliza Filipe.Até então, o tratamento da urticária era feito com ações não farmacológicas e intervenções medicamentosas. Essas últimas são divididas em tratamentos de primeira (anti-histamínicos), segunda (corticosteroides e antileucotrienos) e terceira (medicamentos imunomoduladores).>