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Carol Neves
Agência Einstein
Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 11:02
Caminhar um pouco aqui e ali ao longo do dia pode não ser suficiente para proteger a saúde. Um estudo conduzido por pesquisadores da Espanha mostra que o tempo contínuo em movimento é um fator decisivo para reduzir o risco de morte por doenças cardiovasculares e câncer. Quanto menor a duração das caminhadas diárias, maior a probabilidade de desfechos graves. >
Publicado em outubro na revista Annals of Internal Medicine, o trabalho analisou dados de cerca de 33 mil participantes do UK Biobank, um grande banco de dados britânico voltado a pesquisas em saúde. Os voluntários tinham, em média, 62 anos no início do acompanhamento, caminhavam até 8 mil passos por dia e não apresentavam doenças prévias.>
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Após oito anos de observação, os pesquisadores constataram que pessoas que concentravam seus passos em caminhadas mais longas apresentavam melhores resultados de longevidade. Entre aqueles que caminhavam por menos de cinco minutos seguidos ao dia, a taxa de mortalidade foi de 4,36%. Já no grupo que mantinha períodos contínuos superiores a 15 minutos, o índice caiu para 0,84%.>
O mesmo padrão apareceu na ocorrência de doenças cardiovasculares. No grupo com caminhadas muito curtas, 13,03% desenvolveram problemas no coração ou na circulação. Entre os que se mantinham em movimento por mais tempo contínuo, a incidência foi de 4,39%.>
Para a cardiologista e médica do esporte Luciana Janot, do Einstein Hospital Israelita, os dados reforçam recomendações já conhecidas, mas com um detalhe importante. “O que a ciência mostra hoje é que o principal fator de proteção é acumular passos ao longo do dia. Algo em torno de 7 mil passos diários já reduz bastante o risco cardiovascular”, afirma. “Mas existe um plus: quando parte desses passos vem de caminhadas mais longas, de pelo menos 15 minutos contínuos, o benefício para o coração é ainda maior.”>
Os benefícios da caminhada incluem a redução do risco de infarto, AVC e doenças crônicas como diabetes, hipertensão e depressão. No entanto, a forma de praticar faz diferença. “A receita ideal tem três componentes: quantidade, regularidade e momentos de atividade contínua”, destaca Janot. Segundo ela, a intensidade não é o fator central. “Não precisa caminhar até ficar ofegante. Manter um ritmo confortável, mas contínuo, basta.”>
De acordo com os autores, o efeito protetor das caminhadas mais longas está ligado ao tempo maior em que o coração permanece ativo, favorecendo a circulação sanguínea e a flexibilidade das artérias. Os piores resultados cardiovasculares foram observados entre idosos que quase não realizavam trechos contínuos de caminhada.>
“As caminhadas mais longas, especialmente para pessoas que eram sedentárias, permitem ativar de forma mais sustentável os mecanismos cardiovasculares e metabólicos, como a regulação da glicose e da função vascular, que não são completamente estimuladas por curtas jornadas”, explica o médico do esporte Borja Del Pozo Cruz, autor principal do estudo, em entrevista à Agência Einstein. “Elas também estimulam o sistema nervoso parassimpático e reduzem a inflamação.”>
Para o pesquisador, pensar no tempo dedicado à atividade física ajuda a entender que nem todos os passos têm o mesmo impacto. “Os guias de saúde deveriam considerar tanto a qualidade como a forma em que esses passos são acumulados ao longo do dia. Além disso, uma medida de tempo é mais fácil para as pessoas compreenderem de forma efetiva”, conclui.>