100 anos da estátua do Rio Branco

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às sextas-feiras

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  • Nelson Cadena

Publicado em 10 de maio de 2019 às 04:00

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Em 10 de fevereiro de 1912, exato um mês após o bombardeio da Bahia, falecia no Rio de Janeiro o Barão do Rio Branco. A sua morte provocou grande comoção em todo o país e no reservado preocupação entre as agremiações carnavalescas que temiam que o luto oficial e as homenagens de praxe resultassem no cancelamento do Carnaval como sugerido por setores da imprensa. Na Bahia Momo reinou. No Rio de Janeiro o recato resultou em dois carnavais, um espontâneo na semana do luto e outro oficial em abril com a participação dos grandes clubes.

No dia seguinte à morte do diplomata, o Jornal do Commércio do Rio de Janeiro lançava a ideia e abria subscrição para erigir uma estátua na capital do país em sua homenagem; 24 horas depois a Associação dos Empregados do Comércio da Bahia aderia à ideia de erigir também um monumento em Salvador. Daí por diante aderiram Curitiba, São Paulo, Uruguayana, Recife, Belém, Belo Horizonte, Petrópolis... Em essas e outras cidades foram construídas estátuas do Barão, a nossa foi a última ser inaugurada, sete anos após a iniciativa dos colaboradores do comércio. Em 13 de Maio de 1919 e não em 07 de setembro como consta em todos os registros da internet e em algumas fontes impressas. 

A sociedade civil organizada, de quem partiu a iniciativa da estátua, promoveu, na sequência,  diversos eventos, alguns no Politeama, outros no Clube Caixeiral, no propósito de arrecadar recursos. Não sabemos quanto foi arrecadado e nem quanto custou a obra, o governo alocou no orçamento modestos 10 contos de reis. Podemos estimar o custo final, tendo como referência os monumentos erigidos em outras cidades, em não menos de 300 contos de reis. Em fevereiro de 1913 a Associação dos Empregados do Comércio abriu concorrência para a escolha do artista e nomeou uma comissão julgadora formada por notáveis, destacavam-se do grupo os nomes de Teodoro Sampaio, Octavio Mangabeira e Lopes Rodrigues.  

O escultor italiano Pasquale de Chirico, que desde 1903 residia em Salvador, foi o único concorrente a apresentar maquete e pela mesma época participou, sem êxito, da concorrência para a estátua do Barão em Porto Alegre. Não sabemos qual a imagem de inspiração da maquete, provavelmente impressões litográficas do Rodolfo Lindemann que José Dias da Costa colocou à disposição, dez dias após a morte do Barão, para as entidades que em várias cidades do país se dispunham a erigir monumentos. Em 17 de novembro de 1913 o governador e a imprensa visitaram o ateliê de Chirico, aprovaram com louvor a maquete construída de corpo inteiro que após seria exposta ao público.

A ideia inicial era montar o monumento na Praça Municipal, em frente ao Palácio Rio Branco; mudou o local quando os engenheiros da Lafayete & Cia, empreiteira da Avenida Sete, constataram que a melhor solução e menor custo para preencher a cratera resultante da demolição da Igreja de São Pedro, seria fazer uma praça ajardinada. Foi então que se decidiu erigir a estátua no local e junto um relógio público, ambos deveriam ser inaugurados junto com a Avenida Sete, em 1915. Nem um, nem outro foram. Na data, Seabra jogou uma pá de cimentou no buraco e lançou a pedra fundamental.

O relógio foi inaugurado em 1916, a estátua não apesar da pressão dos organizadores do V Congresso Brasileiro de Geografia realizado em Salvador. Mais três anos se passaram, chegou a ser improvisado um pedestal provisório, enquanto uma oficina de Nápoles concluía a fundição em bronze da estátua. Em 13 de maio de 1919, ao som três bandas militares, centenas de pessoas compareceram ao local, o sol incomodava e o relógio ao lado assinalava dez horas.