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Publicado em 24 de setembro de 2025 às 05:00
A Igreja Católica viveu recentemente um momento histórico: a canonização de Carlo Acutis, o chamado “santo millennial”. Jovem italiano falecido em 2006, aos 15 anos, por causa de uma leucemia fulminante, ele se tornou símbolo de santidade no tempo presente, por ter usado a internet como ferramenta de evangelização e por sua vida de fé intensa, marcada pela simplicidade e pela proximidade com a Eucaristia. >
No entanto, essa história tem também um forte elo com o Brasil. Foi aqui que se reconheceu um dos milagres atribuídos à intercessão de Carlo Acutis, de alicerce para o caminho definitivo para a canonização. O país, marcado por uma grande tradição católica, tornou-se protagonista nesse processo, reforçando como a fé popular pode transcender fronteiras e unir comunidades em torno de uma mesma devoção.>
Recordo com clareza um episódio de 2023 que, sem que eu soubesse, me aproximava dessa história. Estava em estágio na Rádio Vaticano, em Roma, ao lado da minha amiga Aidil Brites, enviados pela Rádio Excelsior e pela Arquidiocese de Salvador. No tempo livre, buscávamos conhecer alguns pontos fora da capital. Minha expectativa era visitar Pádua e a basílica de Santo Antônio, cuja minha devoção é fortíssima. Aidil, porém, insistiu em irmos a Assis, cidade marcada por Santa Clara e São Francisco, mas também pelo então beato Carlo Acutis, cuja história ela me apresentou.>
Confesso que pouco sabia sobre ele. Mas, ao chegarmos à igreja Santa Maria Maggiore, onde repousam seus restos mortais, vivi uma experiência ímpar. O local é belíssimo e transmite uma paz difícil de descrever. Era como se Carlo estivesse fisicamente presente, irradiando a espiritualidade de um jovem que viveu tão pouco, mas deixou um legado. Quando estávamos prestes a sair, a chuva começou. Ficamos mais tempo, em silêncio, contemplando. Foi um dos momentos mais tocantes que vivi.>
Ali também conhecemos a irmã Francisca Bento, missionária capuchinha, que zela pela igreja e pela devoção a Carlo. Mulher simples, mas de fé transbordante, não escondia a alegria de receber nordestinos e brasileiros que iam até Assis para rezar. Em sua fala, percebia-se como o testemunho de Carlo se tornava cada vez mais universal.>
Hoje, com sua canonização, Carlo Acutis é mais do que um símbolo religioso. Ele representa um modelo de santidade acessível, próximo da juventude, capaz de mostrar que a fé não é algo distante, mas pode ser vivida no cotidiano, inclusive no mundo digital. Sua canonização mostra também a relevância do Brasil nesse processo, já que nossa devoção popular e o reconhecimento do milagre ajudaram a transformar o beato em santo.>
Carlo Acutis é um santo dos nossos tempos: jovem, conectado, mas profundamente enraizado na tradição cristã. E sua história, que conheci por acaso em Assis, me recorda que a santidade pode estar onde menos esperamos, basta abrir o coração para enxergar. Também ajuda a conectar a Igreja a um público que muitas vezes negligencia a vivência espiritual. Atinge e toca um público jovem, em crise com as chagas dos nossos tempos como depressão ou a ansiedade. O exemplo de Carlo, quem sabe, pode continuar tocando esses corações. Será que em breve já o teremos como padroeiro de alguma igreja católica baiana? A conferir.>
Victor Pinto é jornalista e advogado. Apresentador da Band Bahia e da rádio Excelsior. É membro da Irmandade do Senhor do Bonfim em Salvador (BA)>